sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Message in a bottle (37)

Ouvir Cavaco Silva é como ler a bula de um antidepressivo
(por Tiago Mesquita – Jornal Expresso)

Os discursos do Presidente produzem efeitos secundários: sonolência, indisposição, perda de memória, variações de humor, indisposição momentânea, náuseas, irritação e enjoos.

A melhor coisa que pode acontecer a um governo incompetente é ter um Presidente da República como o que temos. E este Primeiro-Ministro que nos calhou na "rifa dos tontos" deve estar mortinho por vê-lo reeleito. A acontecer mata dois coelhos de uma só cajadada: evita a "maçada" de ter um Presidente que dê um murro na mesa se preciso for e esfola ainda o coelho Alegre, que por aí anda contente e aos saltos, não tarda triste estará. Não como um cão, como tão bem escreveu "vi a tristeza, em certos momentos, no olhar do cão", mas como um segundo classificado. Agora com menos votos.
Cavaco Silva mantém o estilo "jarrão Vista Alegre" durante a maior crise de que há memória. Aparece, sacode o pó e desaparece. Tudo fica feliz. Chovem elogios à "moderação". Fico sem perceber para que serve ter um Presidente da República se não o vejo fazer nada para impedir o roubo que está a ser feito a este país? Quem é afinal o garante do "nobre povo"? Por que razão não questiona o governo sobre o que se está a passar e o que correu mal?
Vem apelar à "coesão", à "unidade", à "responsabilidade" (utilizou a palavra "responsabilidade" 15 vezes na "aparição" de 5 de Outubro). Ou seja, ao vazio. Um vazio de ideias. Um vazio de questões. Um vazio de soluções. Mas a culpa, como se costuma dizer no futebol, não é de Cavaco, é do "sistema". No fundo está apenas a ter o comportamento que se espera de um Presidente neste país. Um verdadeiro "Monarca da República". Um peso institucional. Um jarrão.
Sem qualquer poder, sem intervenção proactiva ou de fundo, os Presidentes neste país tornam-se numa espécie de "vizinha chata" com que os sucessivos governos (muitos incompetentes) vão aprendendo a lidar. E a evitar. Em Inglaterra o Prime Minister vai à Rainha uma vez por semana, em Portugal vai a Cavaco com a mesma frequência. Ficam provavelmente a olhar para o outro sem falar. A ver qual dos dois se desfaz primeiro a rir ao pensarem no bonito estado a que chegámos. Os efeitos práticos destes "encontros" são nenhum. Ser Presidente é uma espécie de formalismo constitucional. E exercer o cargo uma pasmaceira democrática.
A imprensa adora usar frases do género " O Presidente alertou..."; "O Presidente mostrou-se descontente..."; " O Presidente afirmou que...", "O Presidente acordou com uma comichão no..."Como se os estados de espírito em Belém tivessem algum efeito prático na vida de alguém do país real ou na actuação do governo em particular. Niente. Zero. Enquanto tudo desaba neste país Aníbal permanece estático como a esfinge Egípcia.
Este Presidente, ou qualquer outro que venha a ser eleito, nunca será o chefe "máximo" de coisa nenhuma. Apenas mordomo e cicerone desta velha, encarquilhada e decrépita República. Há que ressuscitá-la do marasmo. Mudar tudo. Equilibrar os poderes. E rápido.

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