segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Memórias e Afectos (39)

(Retirado do e-mail enviado hoje pelo meu primo J., de quem o meu pai gostava muito, e que esteve presente no último adeus ao tio, porque a amizade era recíproca. As fotos que nos enviou, essas, ficam só para mim... fiquei a chorar, claro, mas a leitura do texto conseguiu por-me a sorrir...)


"Tinha previsto um período de férias entre o Natal e o final do ano, e uma das (muitas) coisas que eu queria fazer em "Lisboa", além dos cinemas, das visitas a museus (Museu do Oriente, Museu de Paula Rego), etc., era uma visita aos Tios Fernando e Fernanda. Já sabia que o Tio Fernando tinha estado internado e portanto a coisa não podia estar muito bem, mas estava esperançado em o ver mais uma vez e ter o prazer de conversar com ele (se me conseguisse fazer ouvir, porque ainda por cima, normalmente, falo baixinho...). Não foi possível, e a vida (e a morte) fez (como sempre faz) o seu caminho.
Queria contar-vos uma história.
Em 1974, o 25 de Abril "apanhou-me" com 19 anos e dado o clima político e social da altura, a minha atitude em casa (e na rua), era como o "ar do tempo", e estava muitas vezes em conflito com os meus pais. A certa altura, andava eu a ler "O Estado e a Revolução" do Lenine (entre outros...), e o Tio Fernando estava lá na nossa casa. Eu com grandes argumentos (recém -adquiridos pela leitura...) e o meu pai a barafustar comigo (o que na minha cabeça da altura só podia significar que eu tinha razão...). O Tio Fernando entra na conversa (não era bem uma conversa, era uma troca exaltada de argumentos categóricos) e começa a fazer-me perguntas difíceis... Confesso que já não me lembro das perguntas e das minhas respostas, mas o importante é o seguinte. O Tio Fernando, com a sua atitude (inteligente) tolerante, demonstrou-me que era possível trocarmos opiniões pacificamente, sem berros, dialogar, em suma.
Essa foi uma lição que me ficou desde então, e que me tem dado muito jeito."

(Obrigada J. pela história e pelas tuas palavras. Ainda me recordo de alguns diálogos mais acesos que o meu pai fazia o favor de apaziguar... Obrigada mesmo!...)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Morrer, dormir… talvez sonhar…

De um dia para o outro a vida muda.
Era um dia igual a tantos outros e de repente… a vida muda.
Era um dia igual a tantos outros e nuns breves segundos… aquela dor só minha. Nada voltará a ser o que era.
Alguém disse que a morte é um acidente em cadeia de proporções incontroláveis e mesmo quando é previsível dói tanto como a que não é.
A morte do meu pai, doente há algum tempo, era previsível, já estávamos à espera dela. Mas não… nunca ninguém conta com a morte, nunca ninguém está preparado, e o maior problema da morte é a dor que provoca à sua volta…
Pai, partiste num dia chuvoso e triste, e triste me deixaste, entregue já às saudades do tempo que não volta mais e com o coração retalhado por este duro golpe…
Partiste num dia chuvoso e cinzento, deixando-me com lágrimas amargas de sofrimento e dor…
Perdoa-me não estar junto de ti quando partiste, perdoa-me não te ter dado a mão, perdoa-me ter-te deixado tão frágil, perdoa-me teres partido no meio de desconhecidos.
O dia chorou comigo a tua partida e, como disse a A, o mundo ficou mais vazio… e eu não mais serei igual. O mundo ficou mais vazio porque perdeu uma das pessoas mais especiais que eu conheci e orgulho-me por saber que sempre foste uma pessoa querida e estimada por todos aqueles que se cruzaram no teu longo caminho…
Recebi palavras amigas que pretendiam consolar-me na minha dor, mas um sofrimento desta natureza resiste a todas as palavras de conforto.
Deixaste comigo muito de ti e levaste contigo uma parte de mim… Morremos um pouco cada vez que perdemos um ente querido.
A noite que te levou para sempre foi também de céu escuro e carregado, tão escuro como o meu pensamento e tão carregado como o meu coração.
Uma estrela teimava em aparecer e brilhar por entre as nuvens escuras. Eu, poeticamente, pensei que só poderias ser tu a tentar dizer-me que continuarias a cuidar de mim e eu iria ter mais um anjinho da guarda, o melhor de todos…
Na hipótese de termos vindo ao mundo sob as carícias de uma estrela, excepcionalmente pródiga de venturas, talvez a estrela que vi fosse a que esteve presente no teu nascimento e que te veio buscar e acarinhar na tua viagem final.
A dor, brutal e profunda, aperta… a saudade aumenta…
Pai, resta-me a esperança, à qual nos agarramos sempre no meio do sofrimento, de voltar a ver-te e abraçar-te, talvez numa outra vida, num outro lugar…
Era um dia igual a tantos outros.Bastaram uns breves segundos para a minha vida mudar e ficar uma dor só minha…de repente, assim, de repente… num dia chuvoso e triste…

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O mundo ficou mais vazio...

Hoje, o mundo ficou mais vazio...
O céu chorou a tua partida,
assim como eu.
Já nada será igual.
Muito se perdeu
mas fica a memória,
a forte e doce memória
daquilo que foste,
daquilo que nos deste.
Essa ninguém nos rouba,
é nossa, só nossa.
Recordarei para sempre
o teu sorriso, as tuas
palavras sábias,
o teu olhar sensato,
olhar de quem já viveu muito
e tem muitas histórias para contar.
Fico à espera de as ouvir, à noite,
nos meus sonhos.
Hoje, o mundo ficou mais vazio,
mas a pessoa que foste inspira-me
e isso enche-me o coração.

(escrito pela minha filha A. no dia 23 de Dezembro, depois da notícia do falecimento do meu pai)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Natal

para esquecer...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Prendas com Laços...de Amizade

Disse aos meus amigos para não contarem comigo, este ano, nem para o jantar natalício nem para a habitual troca de prendas. Confessei-lhes que, infelizmente, o meu subsídio de Natal já tinha destino porque a vida dos “remediados” é mesmo assim, sempre a fazer contas.
Recebi testemunhos de carinho e apreço que, embora não me surpreendam, me deixaram comovida e com vontade de gritar e tornar públicas estas manifestações de amizade verdadeira e incondicional… Obrigada a todos. Esta quadra tem mais significado porque continuam a existir pessoas lindas como todos vós…
Publique-se!

A amizade é um bem precioso e o mais valioso que cada um tem para dar. Por isso, já nos dás muito ao nos considerares como parte integrante do teu grupo de amigos.
A vantagem de quando se está entre amigos, é que não é preciso disfarçar quando estamos em baixo. Só o facto de estares presente, já estás a ser uma boa companhia.
E agora, fim da questão. Lá te espero no Oeste.

(Quando adoeço preciso da ajuda de medicamentos, quando a minha alma está triste, preciso da ajuda de amigos como tu, sem prazo de validade…obrigada A.)


As bruxas das tuas amigas conferenciaram e chegaram a uma conclusão.
Não aceitamos este não.
Falando mais a sério, combinámos que em vez de estarmos a dar-te uma prenda, oferecemos-te o jantar (filhas incluídas) e temos a vossa companhia, que é muito mais importante que uma prenda.

(É costume dizer-se que não se acredita em bruxas mas que as há, há… e eu posso confirmá-lo! Há uma que me persegue há anos e que tem o condão de me fazer mais feliz…obrigada T.)


Last but not least...

Este encontro de Natal deixa de fazer sentido se as pessoas que mais gostamos não estão presentes.
O que interessa de facto é o estamos todos juntos e não o que damos uns aos outros em termos materiais, isso não interessa nada.
Eu sei que és “uma rapariga de convicções fortes” (para não te chamar teimosa) e consigo perceber o que te está a passar pela “alma”, mas pedia-te encarecidamente que reconsiderasses e que viesses ao jantar.
A tua presença e a das tuas filhotas é o nosso presente.
Na definição de amizade está também nunca desistir...

(Para a Psicologia, haverá diferenças entre teimosia e persistência, entre teimosia e convicção. Entre a minha teimosia e a tua convicção, não desistas nunca desta amizade…obrigada C.)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tornar (volver) a Barcelona (4)

Barcelona
12 de Setembro – 1ª parte


A manhã do segundo dia começou lindamente, com um pequeno-almoço magistral…
A oferta era tanta que não sabia o que escolher, acabando por optar comer de quase tudo um pouco, pensando na sorte que tinha em não ter esta variedade todos os dias da minha vida. Se eu comesse assim diariamente, para além de passar de forte a gorda, num ápice, o meu orçamento familiar mensal não chegava para quinze dias…
Pãezinhos, croissants, manteiga, queijos, fiambre, presunto, doces, frutas variadas descascadas e cortadas, donuts, fatias de bolo, leite, sumo de laranja, iogurtes e para rematar un café solo

A minha atracção por Barcelona já se tinha revelado na véspera, no primeiro contacto com a cidade. Este segundo “rendez-vous” serviria para fortalecer a minha afinidade, já visível no primeiro encontro, e para me render irreversivelmente aos seus marcantes, notáveis e arrebatadores encantos... (é pá…esta frase saiu-me mesmo bem!).
Munida do mapa e do guia, e depois de um périplo pela recepção do hotel, para um desvio de rebuçados, saímos a porta rotativa para o nosso encontro marcado com a cidade…
O programa para este dia de sábado estava mais ou menos esquematizado na minha cabeça e os nossos alvos eram os distritos de L’Eixample (expansão, alargamento) e Gracià, o primeiro com muitos edifícios resultantes da difusão do Modernismo no início do século XX.
Como Barcelona é praticamente plana, é possível encontrar, em vários locais, bicicletas para alugar, podendo juntar o útil ao agradável, pedalando enquanto se desfruta plenamente de tudo o que a cidade tem para nos oferecer. Evidentemente que não optámos por pedalar, optámos pela linha 3 do metro que nos levou de Sants Estació até à estação de Lesseps, que tem uma saída para a praça com o mesmo nome.

A nossa primeira paragem, nesta esplêndida manhã era o Parque Güell (em catalão Parc Güell, embora o seu nome original fosse Park Güell).

Quando estive em Barcelona, há um ror de anos atrás, não tinha maturidade nem conhecimentos para apreciar os trabalhos de Antoni Gaudí nem tão-pouco deixar-me envolver pelas formas perfeitas que criou…
Se há mais de três décadas me falassem de Gaudí, a única menção que poderia fazer, tendo em conta a minha magra cultura geral, seria “foi um famoso arquitecto do país vizinho”.
Foram necessários alguns anos para, numa das minhas excursões pelas enciclopédias “caseiras”, tomar contacto com o arquitecto catalão e a genialidade das suas construções.
Dizem que de médico e de louco todos nós temos um pouco. Não sei se Gaudí teve a sua quota-parte de médico, mas teve muito de louco, e se pensarmos bem, a loucura e a genialidade andam, quase sempre, de mãos dadas. Abençoada loucura, a deste arquitecto modernista que criou obras sublimes de uma beleza ímpar, intemporal, imutável e imortal…
Ao portão do parque, a famosa salamandra (há quem lhe chame lagarto e há quem lhe chame dragão) de Gaudí, em “carne e osso”, esperava-nos para umas daquelas fotos pacóvias em que fazemos umas figurinhas muito tristes, mas mesmo sabendo isso continuamos a fazer figurinhas tristes… nós fizemos…todos, sem excepção…Aqui, deixo apenas a foto da salamandra porque é a única que ainda tem lata para dar a cara…

O Parc Güell, com cerca de 17 hectares, situa-se numa encosta da Montanha Pelada (Montanha de El Carmel), e foi encomendado a Gaudí, nos finais do século XIX, pelo conde Eusebi Güell, seu amigo íntimo e mecenas.
Gaudí e Güell imaginaram um projecto semelhante às cidades-jardim inglesas (daí o nome original Park Güell), com 60 chalés e uma vista panorâmica sobre toda a cidade de Barcelona. Güell entregou este projecto a Gaudí, confiando plenamente nas suas ideias e decisões artísticas (aqui ficam os meus agradecimentos a Güell).
O muro que envolve todo o recinto foi construído com pedra rústica e podem ver-se uns “medalhões” com as inscrições “Park” e “Güell”.



Nesse grande terreno da Montanha Pelada nada apontava para que ali pudesse nascer um parque pois o solo era demasiado árido e pedregoso e a vegetação era escassa. Segundo Rainer Zerbst, Gaudí responde à provocação da natureza com uma obra-prima, “uma espécie de escultura gigantesca, como se o escultor tomasse toda a montanha como material da sua criação plástica”.
O projecto ambicioso, mas destinado ao insucesso, acabou por falhar. Não apareceram compradores para os terrenos visto que a urbanização se encontrava longe do centro da cidade. No entanto, as obras continuaram e com a morte de Güell em 1918, os herdeiros venderam os terrenos ao município da cidade, tendo sido inaugurado como parque público em 1922.
Foi assim que Barcelona acabou por ganhar um magnífico jardim e o encanto do lugar prevalecerá para lá dos tempos…
Gaudí situou a entrada principal na parte mais baixa da montanha, na Rua Olot, e o acesso ao parque faz-se por um portão lindíssimo de ferro forjado, representando folhas de palmito.

A sensação que tive, assim que transpusemos o portão, foi a de que estava a entrar num universo mágico, num daqueles mundos de faz de conta, como os que antigamente povoavam o meu imaginário…
Nos dois lados do portão da entrada situam-se dois pavilhões. Construídos também de pedra rústica e com várias aplicações de cerâmica, uma das técnicas preferidas de Gaudí, conhecida por trencadís, fizeram-me imediatamente lembrar a casinha de chocolate do conto infantil Hänsel e Gretel.

Curiosamente, parece que esses pavilhões evocam mesmo a casa do conto, pois em 1901, ano da sua construção, era representada, no Liceu, a ópera do compositor alemão Engelbert Humperdinck, com o mesmo nome.
O pavilhão mais pequeno, destinado à administração da excêntrica urbanização, tem terraço e uma torre com uma cruz de quatro braços, típica de Gaudí. O pavilhão maior, destinado à portaria, termina com uma cúpula em forma de cogumelo.

Ainda na entrada, junto aos pavilhões, existe um espaço amplo com duas zonas que parecem grutas, sendo a da direita para abrigo de carruagens. Tem uma sala circular sustentada por uma coluna central de forma cónica e todas as colunas fazem lembrar patas de elefante.


Deste hall de entrada parte uma grandiosa escadaria, disposta simetricamente, que fica entre muros com umas estruturas salientes que parecem ameias. Na zona central da escadaria existem três fontes, cada uma delas com a sua simbologia, mas a mais conhecida é, sem dúvida, a da salamandra, que se converteu no emblema do parque.





Antes de subirmos até à Sala Hipóstila, existe um patamar onde se situa um banco em forma de odeão, com a particularidade de ter Sol durante o Inverno e sombra durante o Verão… Só poderia ter saído da livre criatividade de Gaudí, um mestre na arte de produzir grandes efeitos, tudo pensado ao pormenor.
No cimo da escadaria situa-se a Sala Hipóstila ou Sala das Cem Colunas. As colunas exteriores estão ligeiramente inclinadas para conseguir um melhor equilíbrio estrutural. Esta sala tem, na verdade, 86 colunas e foi desenhada para funcionar como mercado do bairro residencial. Actualmente é utilizada por alguns músicos por causa da acústica que oferece. As colunas têm 6 metros de altura e 1,20 metros de diâmetro. O tecto é revestido de trencadís branco e em alguns espaços existem umas rosetas, revestidas também com trencadís, que representam as quatro estações do ano.
Verdadeiramente fascinante…




O último lance da escadaria leva-nos à Gran Plaça Circular, um espaço aberto com 3000 metros quadrados, que é o ponto central do Parc Güell e foi executada por Josep Jujol, um dos principais colaboradores de Gaudí e o que tinha mais imaginação criativa.
Segundo o plano original, a praça devia ser um teatro grego, adequado para reuniões comunitárias e para celebração de eventos culturais e religiosos.
Na parte exterior contém um friso coberto de gárgulas para desaguar a chuva, bem como formas de gotas de água.


Fiquei um pouco surpreendida por esta praça não ter pavimento. Só mais tarde vim a saber o motivo e pareceu-me de um discernimento vanguardista. A água que a praça recolhe, proveniente da chuva, é drenada e canalizada pelas colunas (da Sala Hipóstila) que a suportam, e é acumulada num depósito subterrâneo de 1200 m3, sendo posteriormente utilizada para regar o parque. Se o depósito ultrapassar um determinado limite, a água excedente é expelida pela salamandra… Isto é de uma clarividência espantosa.
A Gran Plaça Circular é simplesmente colossal e daqui temos uma vista espantosa e privilegiada sobre a cidade.


Esta praça apresenta um banco com uma forma ondulante com cerca de 152 metros a toda a sua volta, repleto, igualmente, com a famosa técnica preferida do arquitecto catalão, os fantásticos mosaicos coloridos, o trencadís. Sentámo-nos na “serpente” ondulante a admirar a agitação da praça e o belíssimo panorama que dali se avista. Estive sentada no que dizem ser o banco mais comprido do mundo. Não sei até que ponto esta afirmação é verdadeira, nem me vou dar ao trabalho de confirmá-la porque o que realmente importa é que este banco, incontestavelmente, é lindíssimo, é harmonioso, é monumental, é impressionante, é delirante, é Gaudí… e como o próprio dizia "a linha recta é do homem, a curva pertence a Deus"

Continuámos o nosso passeio pelo parque. Gaudí construiu uma série de viadutos largos que seriam utilizados pelas carruagens e por baixo deles uns caminhos para serem percorridos a pé. Destes caminhos destaca-se o Caminho do Rosário, onde se encontra a Casa Museu Gaudí. Esta casa, desenhada por Francesc Berenguer, foi construída como casa modelo da urbanização, sendo depois adquirida por Gaudí quando o projecto fracassou, passando a ser a sua residência durante alguns anos. A casa é graciosa mas não é necessário ser perito em arquitectura para, à primeira vista, sabermos que não pertence à criatividade encantadora de Gaudí. Linhas rectas e planas não são, de facto, o seu estilo pessoal…


"Gaudí trabalhou neste parque entre 1900 e 1914 e pode dizer-se que foi com ele que entrou naquilo que os especialistas declaram ser o seu período de maturidade, numa altura em que deixaram de o chamar modernista, para lhe colocar o epíteto de surrealista."
Não tenho conhecimentos para assegurar se é modernista, surrealista ou se é um misto dos dois movimentos artísticos, mas penso ter sensibilidade para apreciar a harmonia de formas e cores visíveis nas obras de Gaudí…
Saímos do Park Güell. Foi com algum pesar que me afastei do sublime parque, que um dia foi o sonho marcante e extraordinário de dois homens…

sábado, 5 de dezembro de 2009

Os Marretas assinalam o 18º ano...

... da morte de Freddie Mercury



Em 2 dias o vídeo, Bohemian Rhapsody, foi visto por 1 milhão de pessoas no youtube.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobrevivendo ao Natal

Chegámos ao mês do Natal!
O Natal! Antes, só a palavra me enchia de alegria. Actualmente, pensar no Natal deixa-me uma melancolia profunda, uma sensação de perda. Perda de familiares que me eram queridos e que durante anos foram presença constante na noite de 24, perda de valores e de tradições que, embora seja um cliché dizê-lo, já não são o que eram… Antes, desde as decorações próprias da época, passando pela lista e escolha dos presentes, até à consoada, na mágica noite de Natal, tudo era feito com empenho e paixão. Presentemente, esse interesse e essa paixão dissiparam-se… e se não fossem as minhas filhas a darem-me algum alento, passaria o mês de Dezembro com alguma indiferença e a desejar que ele chegasse depressa ao fim.
Enquanto elas foram crianças, creio que sempre consegui proporcionar-lhes todo o encanto que a quadra natalícia pode conter, creio que sempre consegui que vivessem com intensidade todas as emoções do Natal e creio, ainda, que lhes consegui transmitir a verdadeira essência e calor natalícios, que hoje em dia teimam em desvanecer-se…
Talvez porque hoje estou um bocado envinagrada, talvez porque o estado de saúde do meu pai me aflige, talvez porque a tão famosa crise me afectou, talvez porque os dias de chuva me desanimam, talvez porque continuo a sorrir sem o desejar, apenas para não ter que me explicar à sociedade, talvez por tudo, talvez por nada, sinto que, este ano, vai ser complicado sobreviver ao Natal…
Vou tentar apreciar o espírito e o fascínio da época, talvez ainda vá a tempo de me deixar envolver pelos mesmos sentimentos que sentia quando era menina…

Os gatos esmiúçam a árvore de Natal...

... mas como todos sabemos, as árvores morrem de pé!
E a minha lá está, firme (?) e hirta...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

24 Horas na Vida de Uma Mulher

O título deste “post” nada tem a ver com o livro de Stefan Zweig.
As 24 Horas a que me refiro são as de sábado, dia 28 de Novembro.
Das “lides” (autênticas touradas) caseiras à assistência aos meus pais, passando por uma ida ao cabeleireiro com a R e uma deslocação ao mais recente centro comercial Dolce Vita Tejo, tudo me pareceu depressivo e corriqueiro. Julgo mesmo que os “passeios” a centros comerciais aos fins-de-semana são muito, mas muito mais deprimentes do que aquelas voltinhas dos tristes ao Guincho pela marginal, que eram “fatais como o destino”, quando eu era adolescente e ainda saía com os meus pais ao domingo… Admito até que as voltinhas dos tristes sempre tinham algum encanto.
24 Horas! 24 noves fora 6! E foram precisamente seis as horas que se “salvaram” deste dia. As seis horas em que estive com quase todos os meus amigos…
As conversas, as piadas que são só nossas, os risos, a cumplicidade… O altruísmo da T, o humor requintado do B, o inconfundível L, a descontracção da C, a autenticidade do Z, as particularidades da S, as conversas disparatadas do M, a espontaneidade do S, fizeram com que o meu sábado valesse a pena…
Durante uns breves segundos, e sem que eu me recorde como o assunto veio à baila, a conversa girou à volta de pés de mesas… Verdade! A minha filha A chegou a dizer, na brincadeira, que nos assemelhávamos a um grupo de velhotes gagás, num lar, a falar de banalidades…
No entanto, quando voltámos a casa e manifestei a satisfação pelos bons momentos passados naquela noite, ela fez uma confissão que eu achei deliciosa. Disse-me que, sempre que regressávamos de uma daquelas reuniões com os meus amigos, ficava bué nostálgica (sic) porque para além de ser bonito ver-nos juntos, hoje em dia é difícil existirem amigos assim, tão genuínos…

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (38)

Algumas das revistas musicais preferidas pela juventude de hoje.

Não me recordo de haver tanta variedade no início da década de setenta.
Lembro com saudade a Salut les Copains, uma revista musical francesa muito em voga na época.
Comprava-a com alguma frequência…
Muitos dos posters que "forravam" as paredes do meu quarto saíam desta revista.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que (agora) me satisfazia completamente…(8)

Que pena não ter um Ambrósio que leia sempre os meus pensamentos...


sábado, 21 de novembro de 2009

Comparar o incomparável

Ontem, logo pela manhã, presenciei um inesperado arrufo de namorados, os dois já na casa dos vinte, seguramente.
Vinha eu a ruminar (os Touros são assim, moem e remoem…) os meus problemas quando uma rapariga me ultrapassa, num passo rápido e determinado. Eis se não quando sou novamente ultrapassada, em passo de corrida, por um rapaz que ia no encalço da pequena. Chegou-se a ela e, pondo-lhe um braço por cima dos ombros, começou a bombardeá-la com mil pedidos de desculpa. Ela, sempre naquele passo decidido, nem para ele olhava e o rapazito continuava a desculpar-se dizendo que ela tinha interpretado mal as suas palavras.
Eu continuava atrás deles, concentrando a minha atenção na cena que se desenrolava à minha frente. Eles nem davam pela minha presença ou se davam estavam completamente a marimbar-se para mim. Acho que lhes assentou bem essa atitude porque quando se está apaixonado, o resto do mundo não conta…
A certa altura, ela estacou de repente, sacudiu o braço que ele tinha sobre os seus ombros e olhando para ele disse: “eu não admito que tu me compares com a Joana, já sabes que eu odeio essas coisas!”
Oops! Estava tudo estragado! O que ele foi dizer…Pfft!
Então isso diz-se à miúda, ó meu palhaço!? Ele até podia pensá-lo, mas verbalizar um pensamento deste calibre é de quem não tem muitos miolos…
Compará-la com outra pessoa? Tss…tss…tss… Eu nem faço a mais pequenina ideia de como possa ser essa tal Joana, mas quando se faz uma afirmação destas, temos que ter uma noção exacta do que estamos a dizer e a comparar. Regra geral, uma das pessoas comparadas sai a perder, é depreciada em favor da outra. Decerto que a comparação que ele fez com a Joana não terá sido física, mas não deixa de ser deselegante.
Confesso que também afino quando me comparam com alguém.
Posso comparar-me com uma outra mulher, independentemente da altura, do peso e da beleza física, desde que tenhamos a mesma idade e um estilo de vida idêntico? Não, não posso.
Posso comparar-me com uma outra mulher, com a mesma idade, a mesma altura, o mesmo peso, aspecto físico exterior e estilo de vida semelhantes? Não, não posso. Não posso porque há sempre outros factores que têm, forçosamente, de ser levados em conta, como o meio social, o meio familiar, as experiências pessoais, a inteligência, o carácter, o temperamento, etc., etc., etc.
Efectivamente não gosto que me comparem com outra pessoa, principalmente se a outra for gira, alta e magra… (eh eh eh). E compararem-me com uma pessoa que tenha uma vidinha desafogada e que não tenha que fazer contas à vida? Bem…até amarinho pelas paredes!... Não faz sentido, é o mesmo que comparar um BMW com um carrinho de mão ou comparar o What else (leia-se George Clooney) com o Fernando Mendes...
Comparar o que é incomparável, um erro de proporções dramáticas… (o namorado da amiga da Joana que o diga…).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (37)

Quase todas as minhas recordações me deixam saudosa, mas nem todas me deixam um sorriso no rosto. Um sorriso triste ou um sorriso nostalgicamente ternurento que se estende até à alma. Foi, pois, com um destes sorrisos ternos que relembrei algumas das gulodices da minha infância e o sorriso, para além de me recordar experiências saborosas, ficou açucarado e guloso, como nos tempos da minha meninice…

A Olá sempre deu vários brindes e era grande a expectativa ao comprar um gelado…rasgava o papel à pressa, entusiasmada pela hipótese do bonequinho não ser repetido… Depois, saboreava o gelado devagar, protelando o fim do mesmo, com esperança que aquele pauzinho fosse um dos premiados…Quem não se lembra dos pauzinhos dos gelados com a palavra “prémio” gravada?

Olha o Rajá fresquinho!... Fruta ou chocolate...
Os gelados da Rajá existiam com abundância lá por casa pois o meu irmão foi, durante algum tempo, vendedor da marca. Sorte a minha!

Os pudins Mandarim, em caixinhas azuis com um chinês (supostamente um mandarim), faziam a delícia de qualquer miúdo nos gloriosos anos sessenta.

Também os refrescos Royal e Dawa eram fáceis de preparar. Bastava juntar o pó das saquetas com água, adicionar açúcar e gelo e estavam prontos a beber. Apesar de terem uma grande quantidade de corantes, eram muito agradáveis. O que eu gostava daquela “porcaria”…
Hoje em dia, com tanta oferta e variedade, não nos passa pela cabeça que estes refrescos em pó e pudins instantâneos possam ter sido tão inovadores.

As farinhas variadas e o leite em pó Primor estão, na minha memória, associados aos dias de férias que passava em Alvorninha. Naquele tempo, o leite do dia começou a ser comercializado nuns sacos de plástico (julgo que da Ucal) mas tinham que ser conservados no frigorífico. Como em qualquer aldeia, há mais de quarenta anos, a existência de frigoríficos era uma verdadeira ilusão, a opção passava pelo leite em pó e pelas farinhas. Eu gostava!...

Chocolates! Recordo os da Aliança mas os da Regina eram os meus preferidos...


Fazia-se um furo numa caixa de madeira que tinha uma superfície inclinada com um cartão numerado. Quando se furava o número, à nossa escolha, caía uma bolinha colorida em plástico para uma divisória na parte inferior. A cada cor correspondia um chocolate diferente. Se a memória não me atraiçoa (e engana-me vezes sem conta), a bolinha preta era premiada com uma tablete ComacomPão e o prémio da única bolinha dourada correspondia a uma caixa de bombons. Recordo-me que havia uma cor que saía muitas vezes, certamente a que equivalia ao chocolatinho mais barato…mas não era isso que me fazia desanimar, o que me fazia desanimar mesmo era ouvir os meus pais dizerem por hoje já chega…

Li, por aí, que a Regina queria voltar a distribuir as caixas dos furos pelos cafés e pastelarias mas foi proibida de o fazer pelas autoridades competentes… Dizem as autoridades, e autoridades serão porque têm poder para proibir e chumbar a ideia, que a caixinha dos furos é um jogo de sorte e azar… Como?! Gostava que alguém me explicasse isto melhor, porque eu, ao contrário das autoridades, me sinto incompetente para entender…Não alcanço!...
A não ser que me provem que os altamente viciados, em Black Jack, Roleta ou Poker, adquiriram o vício do jogo na inofensiva caixa de furos…
Agora que penso nisto, é francamente provável que os viciados no Bingo se tenham deixado aliciar por este jogo, depois de tantas “linhas” feitas nas caixas dos furos e de tanto gritarem “bingo” quando lhes saía a cobiçada bola dourada…
Quiçá a corrupção que grassa no país se deva mesmo à catrefada de furos que estes corrompidos senhores fizeram na infância… É, por isso, imperioso que se afastem as nossas crianças da perniciosa caixa de furos, para que o combate à corrupção tenha sucesso…
O que mais posso escrever para reforçar o ridículo desta “competente”decisão?
Como diria a minha mãe, isto não é uma casa, é um “pagode”...

Enfim, coisas do antigamente que o tempo não consegue apagar.
Coisas do antigamente que a minha memória teima em ressuscitar…

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pobreza Zero

"O meu grande sonho é ser pobre um dia, porque... ser todos os dias é lixado!"
(Autor desconhecido)

Dorminhoco profissional...

Não posso nem com uma gata pl'o rabo...

domingo, 15 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Azar por excelência!

O número 13 é um número amaldiçoado.
Este número assume um significado negativo na crença popular e são muitas as superstições associadas à sexta-feira 13, havendo várias explicações para isso. A mais forte delas seria o facto de Jesus Cristo ter sido crucificado numa sexta-feira e na sua última ceia haver 13 pessoas à mesa (daqui nasceu a superstição de que juntar 13 pessoas num jantar, traz a desgraça ou o azar).
Para esta superstição contribuiu, ainda, o facto de ter sido numa sexta-feira 13 (do ano 1307) que o Rei Filipe IV da França resolveu pôr em acção o seu plano para retirar poder e exterminar a ordem dos Templários, mandando prender, torturar e executar todos os seus Cavaleiros.
Assim, o número treze, por si só, passou a ser considerado um sinal de adversidade e a sexta-feira, o dia de azar da semana. Quando associados obtemos uma sexta-feira treze, o dia de azar por excelência!
Sucede que hoje é um desses dias! Sucede que… não tenho nada contra!
Claro que não vou aqui afirmar, a pés juntos e a fazer figas, que nunca bati três vezes na madeira para afastar o azar ou que nunca fiz um pedido ao ver uma estrela cadente. No entanto, afianço, a pés juntos e a fazer figas (não vá o diabo tecê-las…), que nunca senti qualquer tipo de preconceito a respeito do número 13 (adoro ímpares!) e muito menos em relação às sextas-feiras…
Não consigo compreender como é que se estigmatiza e difama o melhor dia (de trabalho) da semana, não entendo, pronto!
A sexta-feira, mesmo que passe debaixo de uma escada, abra o chapéu-de-chuva dentro de casa ou me cruze com um gato preto, será sempre um dia abençoado…
Mau, mesmo mau, é segunda-feira… seja dia treze ou não!
Nem a vassoura virada ao contrário, atrás da porta, consegue afastar a visita chata de mais uma segunda-feira…
A segunda-feira é um dia de desespero que nos inferniza a alma, é uma praga da Malévola! A única coisa boa numa segunda-feira é ser o dia mais distante da próxima segunda-feira…
Segunda-feira? Cruzes, canhoto! Vai-te embora azar!...

Gosto...e não se fala mais nisso! (14)

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