domingo, 31 de outubro de 2010

This is Halloween

O Costa de África

O Costa de África é um filme muito divertido de 1954. O argumento não é inovador nem original e resume-se a uma série de trapalhadas e maquinações com os brilhantes e hilariantes trocadilhos da praxe.
O sobrinho, solteiro e sem dinheiro, recebe um telegrama de um tio colonialista que passará três horas em Lisboa de viagem para Londres. Para justificar as quantias chorudas que o tio lhe envia, consegue que um amigo lhe empreste a moradia e o automóvel, e passe por seu criado, enquanto a noiva do amigo faz de esposa. A mudança de planos do tio, que decide demorar-se vinte dias, transforma tudo…

Todos terão visto o Pátio das Cantigas, Canção de Lisboa, O Leão da Estrela e o Pai Tirano, mas O Costa de África nunca foi muito divulgado. Recordo-me de o ter visto casualmente em meados da década de 80. O tio, interpretado por Vasco Santana, imbuído pelo espírito de superioridade colonialista, tinha umas atitudes e umas chalaças racistas. Sempre que falava com um criado tratava-o por “bijagós” por o considerar um ser insignificante. Esta particularidade do tio foi o bastante para que, no meu local de trabalho, as hierarquias mais baixas ou subordinados se começassem a tratar por bijagós entre si. Esta piada mantém-se até aos dias de hoje!...
Sempre me questionei sobre as razões que levariam a RTP a não transmitir O Costa de África com a mesma frequência dos outros clássicos portugueses. Apesar de ser um retrato da época colonial portuguesa não vejo motivos que justifiquem o seu esquecimento e muito menos que nos privem do prazer de recordar este filme hilariante.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

O Bingo das Reuniões

Ontem foi dia de reunião. É quase o mesmo que dizer “Hoje há caracóis” porque aquilo é cá um “petisco”… A grande maioria delas não servem para nada e são uma estopada!
Já aqui tive oportunidade de manifestar a minha enorme aversão por reuniões. Para todos os que partilham a minha opinião, chegou um método eficaz para combater esses problemas.

Imprime-se o quadro abaixo antes de começar a reunião, seminário, conferência, etc.
Sempre que ouvirmos a palavra ou expressão contida numa das casas, marcamos a mesma com um (X).
Quando completarmos uma linha, coluna ou diagonal, basta gritar LINHA! Se completarmos o quadro todo, devemos gritar BINGO!

Testemunho de jogadores satisfeitos:
A. – A reunião só tinha começado há 5 minutos quando ganhei!
N. – A minha capacidade para ouvir melhorou imenso desde que comecei a jogar o Bingo das Reuniões;
S. – A atmosfera da última reunião foi muito tensa porque 8 colegas estavam à espera de preencher a 5ª casa;
M. – O director ficou estupefacto ao ouvir oito pessoas gritar BINGO, pela 3ª vez numa hora;
J. – Agora, vou a todas as reuniões, mesmo que não me convoquem.

Já a tabela abaixo permite a composição de 10827 frases. Basta combinar, em sequência, uma frase da primeira coluna, com uma da segunda, da terceira e da quarta.

O resultado sempre será uma frase correcta, mas sem nenhum conteúdo, mas isso não interessa nada. O SUCESSO É GARANTIDO! Experimentem na próxima reunião...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Memórias e Afectos (70)

Durante a década de 60, recordo-me que a Rádio Televisão Portuguesa apresentava, salvo erro às quartas-feiras, as Noites de Teatro. Não consigo determinar se as transmissões eram em directo, ou gravadas e transmitidas posteriormente, mas tenho uma certeza inabalável, para mim eram noites fascinantes. Existem obras que, sendo documentos históricos, certamente farão parte dos arquivos da RTP, mas também fazem parte das minhas memórias pessoais. As árvores morrem de pé, Vamos contar mentiras, O roubo do colar, Os fidalgos da casa mourisca, A dama das camélias, Aqui há fantasmas… Palmira Bastos, Varela Silva, Raul Solnado, Florbela Queiroz, Manuel Lereno, Elvira Velez, Eunice Muñoz, Josefina Silva, Rui de Carvalho, Barreto Poeira, Cármen Dolores, Fernanda Borsatti, Artur Semedo, Henrique Santana, Paulo Renato, Armando Cortez, Luís Cerqueira, Igrejas Caeiro, Lurdes Norberto, Mário Pereira, Irene Cruz, Rui Furtado…
Serões tão agradáveis... que marcaram para sempre as noites televisivas desse tempo.
E a frase mais célebre do teatro português pertence a uma cena magistral quase no final da peça As árvores morrem de pé. Palmira Bastos, num desempenho notável, batendo vigorosamente com a bengala, diz: "Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores".

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Não há retorno...

Já lá vão dez meses! Dez meses de ausência física! Dez meses de saudade! Dez meses sem pai! Quando tento recordar os acontecimentos e instantes felizes em família, a angústia daquele domingo chuvoso e frio aparece para me assombrar e não me deixa reviver os tempos em que eu era criança ou adulta inteiramente feliz. A satisfação que sinto ao recordar o meu pai é, frequentemente, asfixiada pelas memórias do dia 20 de Dezembro…A cruel lembrança daquele dia colou-se à alma e vai perseguir-me até ao fim dos meus dias.
O passado dia 23 de Dezembro foi horrivelmente triste e sombrio. Ao receber a pior notícia da minha vida foi como se de repente me faltasse o chão e começasse a cair em queda livre no abismo. Foi o dia em a Terra parou. No entanto, a memória do dia 20 consegue ser ainda mais dolorosa. Sinto que falhei em alguns momentos. Nesse dia terei falhado em tudo. Não há retorno. Foi nesse dia que perdi o meu pai para sempre…

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Reservado à Indignação (18)

Já tinha ouvido várias opiniões negativas no que diz respeito ao actual funcionamento dos serviços da Multicare (Companhia de Seguros Fidelidade Mundial e da Império Bonança), da qual tenho um plano de saúde.
Há um mês confrontei-me com um problema que me deixou de pé atrás. O exame oftalmológico pedido pelo médico carecia de autorização e vi-me na necessidade de ligar para a Multicare, indicando o número do acto médico. O facto do contacto telefónico ser um daqueles números de valor acrescentado, iniciado pelo prefixo 707, por si só já me parece uma fraude, mas a dificuldade em chegar à fala com um dos assistentes é, no mínimo, enervante. Somos atendidos por uma gravação que, numa voz intencionalmente arrastada, nos dá a escolher entre a “Barca da Glória” e a “Barca do Inferno”… Garanto que a única possibilidade de ir, sem delongas, parar à “Barca da Glória” é querer subscrever um plano de saúde. Aí, sim, vamos ao encontro do paraíso anunciado, mas se os nossos propósitos forem outros temos que esperar de indicador em riste até que a opção por nós pretendida seja revelada. Se pretende subscrever um plano de saúde, por favor, marque 1… Se pretende informações sobre o seu plano de saúde, por favor marque 2… Neste tipo de atendimento público, usualmente, a opção que desejamos encontra-se sempre em último lugar, para grande desespero nosso… Bem-vindo à “Barca do Inferno”… À barca, à barca! Até hoje o malvado exame continua por fazer…
Se dúvidas houvessem, hoje tive a confirmação daquilo que já desconfiava como certo. A incompetência dos serviços da Multicare!...
Fui a uma consulta médica no dia 12 deste mês. A cirurgia ficou agendada para dia 3 de Novembro. Entreguei o relatório e o resto da papelada na recepção da Clínica e foi-me dito que fariam o pedido de autorização por fax para a Multicare. So far so good…
Hoje, dia 19, liguei para a Multicare para saber se a autorização já tinha sido dada. À barca, à barca… Ora entrai, entrai aqui!... Fiquei boquiaberta quando, do outro lado da linha, me disseram que não constava nenhum pedido de autorização no sistema e que provavelmente a Clínica teria enviado os documentos para um número de fax errado. Não fosse o “diabo tecê-las”…anotei o número correcto e contactei a Clínica que me informou ter o comprovativo do envio, feito no próprio dia da consulta, às 19:31 horas e confirmando o fax que a Multicare me tinha dado…Fiquei, novamente, embasbacada! Tornei a ligar para a “Barca do Inferno” e descrevi, mais uma vez, a situação, desta feita com a certeza que a Clínica tinha feito os “trabalhos de casa”. Não sei por que razão fiquei aparvoada quando, do outro lado da linha, insistiram que não constava nenhum pedido de autorização no sistema.
Não é meu hábito perder as estribeiras, mas naquele momento passei-me da marmita e a assistente que me atendia, tendo ou não culpa, levou com a minha irritação em cima. Por onde andaria o fax? A passear por lá durante uma semana!? Ninguém é responsabilizado? A data da cirurgia estava em risco? Chamei-lhes desorganizados e incompetentes! A assistente lamentava-se…
Atempadamente, seguirá uma reclamação à qual juntarei cópia da factura com o valor gasto nestes telefonemas perfeitamente evitáveis se os serviços funcionassem bem.
Neste país já nada me deveria causar espanto, principalmente depois de ter lido as inconvenientes declarações, feitas à agência Lusa, pelo presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses, mas, na minha ingenuidade, ainda vou acreditando que a falta de competência não está generalizada…
À barca, à barca… Ora entrai, entrai aqui!...

sábado, 16 de outubro de 2010

Memórias e Afectos (69)

Ainda a Amadora…
Desta vez para recordar algumas escolas, melhor dizendo três dos quatro Externatos que ali existiam pelos anos 60. Dois para raparigas e um para rapazes. Farei todas as diligências para encontrar o Externato em falta, o antigo Mestre de Avis, localizado na Rua 5 de Outubro, porque tenho fortes laços afectivos que a ele me ligam. Era um Externato só para rapazes. Para além do meu irmão ali ter feito a instrução primária, chegou a pertencer ao meu avô paterno.

Externato de Oliveira Martins (sexo masculino)


Externato Alexandre Herculano (sexo feminino)


Externato Rainha Santa Isabel (sexo feminino)

Frequentei o Externato Rainha Santa Isabel da 1ª até à 4ª classe. As janelas do rés-do-chão do lado esquerdo pertenciam à sala da 1ª classe e à professora D. Maria Clara. Do lado contrário ficava a sala da 4ª classe leccionada pela D. Maria Luísa, professora com "pêlo na venta" que mantinha a disciplina que, agora, tanta falta faz. Também no rés-do-chão, nas traseiras da escola, ficava a sala da 2ª classe dada pela D. Maria Isabel (com quem ainda me cruzo) e a secretaria. A sala da 3ª classe, ministrada pela D. Isabel Simões, mais conhecida por D. Isabelinha, ficava no primeiro andar. Por razões que a própria razão desconhece (será?...) levei reguadas em todas as classes e, uma vez por outra, também levei com o ponteiro... mas garanto que não fiquei minimamente traumatizada nem nunca os meus pais foram à escola tirar satisfações!...
De algumas colegas tenho muitas boas recordações, assim como do recreio, situado nas traseiras do colégio. Lembro-me, como se fosse hoje, de vários jogos e canções de roda: O lencinho que vai na mão, Indo eu, indo eu a caminho de Viseu, Fui ao jardim da Celeste, Olha a Triste Viuvinha, o jogo da cabra cega, o jogo das estátuas, 1, 2, 3 Macaquinho Chinês, o anel, Mamã dá licença?, Bom dia Sr. Reizinho, O Senhor Barqueiro (Que linda falua...), Cinco Cantinhos, jogar à macaca, às escondidas e à apanhada, saltar à corda...
Brincadeiras de outros tempos... que agora me fazem sorrir...

Fotografias do Arquivo Fotográfico de Lisboa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Message in a bottle (38)

(por Tiago Mesquita - Jornal Expresso)

Era bom que aqui no burgo dos brandos costumes de vez em quando alguém se passasse em directo. Mostrasse sangue na guelra. Sem papas na língua. Como Cat Deeley fez. Veja o vídeo.


Para chegar ao ponto a que Cat Deeley - apresentadora do programa "So you think you can dance" britânico - chegou, gosto de pensar que estaria provavelmente a sentir o mesmo que eu sinto cada vez que vejo alguém do Governo, seja o Primeiro-ministro, o clone, o contabilista ou outro qualquer acólito virem a terreiro falar dos Mercados para tentar justificar a incompetência generalizada com que governam. Aqueles ruídos de fundo, os histéricos de plateia são, ao nível da profunda irritação que provocam, em tudo semelhantes aos discursos manhosos, perversos e chantagistas proferidos ultimamente.
Obviamente que os mercados, sobretudo nesta fase, adoram austeridade. Mas isto acontece na mesma proporção em que o Governo adora ser incompetente. O governo sabe disto e tenta agradar os mercados com... austeridade. Esquecendo-se de um pormenor, o da sua notória incompetência, coisa que os mercados também conhecem e não esquecem. Os mercados não acreditam em incompetentes. E tendem a desconfiar das medidas destes com alguma frequência. Afastam-se.
Algumas pessoas, ao ouvirem este tipo de discurso por parte do Governo, devem pensar: "porque fui votar nos mercados nas últimas legislativas? Eles só nos querem "lixar". Se fosse hoje votava no PS, talvez não estivéssemos tão mal. Eles estão sempre cheios de boas intenções e esperança."
A senhora do vídeo efectivamente passou-se. Mas estou convencido que não será a única com "mimos" deste género atravessados na garganta. Pessoas a quem só falta a oportunidade para poderem abrir a goela e soltar a ira.

Message in a bottle (37)

Ouvir Cavaco Silva é como ler a bula de um antidepressivo
(por Tiago Mesquita – Jornal Expresso)

Os discursos do Presidente produzem efeitos secundários: sonolência, indisposição, perda de memória, variações de humor, indisposição momentânea, náuseas, irritação e enjoos.

A melhor coisa que pode acontecer a um governo incompetente é ter um Presidente da República como o que temos. E este Primeiro-Ministro que nos calhou na "rifa dos tontos" deve estar mortinho por vê-lo reeleito. A acontecer mata dois coelhos de uma só cajadada: evita a "maçada" de ter um Presidente que dê um murro na mesa se preciso for e esfola ainda o coelho Alegre, que por aí anda contente e aos saltos, não tarda triste estará. Não como um cão, como tão bem escreveu "vi a tristeza, em certos momentos, no olhar do cão", mas como um segundo classificado. Agora com menos votos.
Cavaco Silva mantém o estilo "jarrão Vista Alegre" durante a maior crise de que há memória. Aparece, sacode o pó e desaparece. Tudo fica feliz. Chovem elogios à "moderação". Fico sem perceber para que serve ter um Presidente da República se não o vejo fazer nada para impedir o roubo que está a ser feito a este país? Quem é afinal o garante do "nobre povo"? Por que razão não questiona o governo sobre o que se está a passar e o que correu mal?
Vem apelar à "coesão", à "unidade", à "responsabilidade" (utilizou a palavra "responsabilidade" 15 vezes na "aparição" de 5 de Outubro). Ou seja, ao vazio. Um vazio de ideias. Um vazio de questões. Um vazio de soluções. Mas a culpa, como se costuma dizer no futebol, não é de Cavaco, é do "sistema". No fundo está apenas a ter o comportamento que se espera de um Presidente neste país. Um verdadeiro "Monarca da República". Um peso institucional. Um jarrão.
Sem qualquer poder, sem intervenção proactiva ou de fundo, os Presidentes neste país tornam-se numa espécie de "vizinha chata" com que os sucessivos governos (muitos incompetentes) vão aprendendo a lidar. E a evitar. Em Inglaterra o Prime Minister vai à Rainha uma vez por semana, em Portugal vai a Cavaco com a mesma frequência. Ficam provavelmente a olhar para o outro sem falar. A ver qual dos dois se desfaz primeiro a rir ao pensarem no bonito estado a que chegámos. Os efeitos práticos destes "encontros" são nenhum. Ser Presidente é uma espécie de formalismo constitucional. E exercer o cargo uma pasmaceira democrática.
A imprensa adora usar frases do género " O Presidente alertou..."; "O Presidente mostrou-se descontente..."; " O Presidente afirmou que...", "O Presidente acordou com uma comichão no..."Como se os estados de espírito em Belém tivessem algum efeito prático na vida de alguém do país real ou na actuação do governo em particular. Niente. Zero. Enquanto tudo desaba neste país Aníbal permanece estático como a esfinge Egípcia.
Este Presidente, ou qualquer outro que venha a ser eleito, nunca será o chefe "máximo" de coisa nenhuma. Apenas mordomo e cicerone desta velha, encarquilhada e decrépita República. Há que ressuscitá-la do marasmo. Mudar tudo. Equilibrar os poderes. E rápido.

Livros e Mar: eis o meu elemento! (32)

Por experiência, adquirida à custa de alguns erros, devia saber que “o hábito não faz o monge”. Quero com isto dizer que comprar um livro porque tem uma capa apelativa ou “é a minha cara”, raramente dá bom resultado. Quando, a juntar a isto, temos um livro de um autor já premiado, a coisa, cá para o meu lado, tende a agravar-se…
Como os gostos não se discutem, para mim, até mesmo um prémio Nobel nunca foi, não é e nunca será, sinónimo de excelente. No entanto, há grandes escritores, reconhecidos mundialmente, que nunca receberam o tão ambicionado prémio. Polémicas à parte, reconheço que dos muitos autores já nobilitados ou “iluminados” li apenas uma meia dúzia. Embora não me orgulhe disso, não é coisa que me tire o sono, pois, diga-se em abono da (minha) verdade, os poucos que li revelaram-se uma seca…provavelmente porque as mentalidades e os estilos são demasiado complexos para quem, como eu, tem apenas dois neurónios…
Felizmente que há pessoas com gostos diferentes dos meus e com grande espírito de sacrifício (não é o meu caso) que lêem essas grandes estopadas…Há até quem leia sobre Física Quântica e Matemática Financeira nas férias! Só mesmo para crânios! Estava aqui a pensar…não haverá Física Quântica para Totós?...
O que eu já divaguei…

Mais uma vez, comprei um livro pela capa com a agravante de ser de uma escritora premiada pelo Booker Prize em 1987. A coisa não augurava nada de bom, mas embora não o tenha considerado excelente, surpreendeu-me pela positiva.
Em “Álbum de Família”, Penelope Lively leva-nos a conhecer uma grande família aparentemente unida e feliz. Uma esposa dedicada e mãe coruja, um pai distante sempre refugiado no escritório, a au pair escandinava, seis filhos, a sua relação uns com os outros e um mistério familiar que nunca foi revelado. Gradualmente, guia-nos através do passado para tentarmos compreender o presente, desmentindo a imagem de perfeição familiar. Os filhos, já adultos e longe de casa, revivem o passado emocionalmente marcado por traumas de infância, bem como o segredo que, durante anos, ninguém se atreveu a mencionar. Todos eles sabiam a verdade, mas preferiam o silêncio. O segredo, amordaçado dentro de cada um deles, a vida familiar obscura e fingida e as emoções escondidas acabam por ter efeitos nas suas vidas act
uais.

Allersmead é uma enorme e velha casa vitoriana, nos subúrbios. O lugar perfeito para a elegante Sandra, a difícil Gina, o auto destruidor Paul, a sensata Katie, o inteligente Roger e a volúvel Clare crescerem. Mas terá sido? Já adultos, regressam todos a Allersmead, um por um. À mãe, uma dona de casa dedicada, ao pai, um escritor alheado de tudo, e à casa que durante anos foi testemunha silenciosa dos segredos familiares. E de um segredo devastador de que ninguém fala...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Veredicto…

…com direito a recurso e reclamação.

Já ouviu falar em artroscopia?
Zás! Ka-boom!... Naquele momento, uma pequena bomba detonou na minha cabeça!...
É isso que vai ter que fazer! Vou aqui ver na agenda… Dia 3 de Novembro, está bem?
Não, não estava nada bem, mas “para grandes males, grandes remédios.”
Epidural ou anestesia geral, eis a questão! Ó doutor! Adormeça-me porque eu prefiro “viver na ignorância”!...

Estas minhas últimas e sucessivas moléstias são comparáveis às mazelas nas casas velhas. Necessitam de grandes obras de remodelação, mas como os proprietários não têm pilim para obras dessa envergadura, fazem pequenas reparações de manutenção para que a casa não venha abaixo ou ameace ruir. E depois de uma pintura nas fachadas, parecem novas. O pior é que continuam empenadas, com brechas, cheias de humidade e bolor e, pior que isso, vai-se atamancando e nunca voltarão a ter a robustez de origem.
Comigo vai-se passando o mesmo, arranja dali, conserta daqui… Era preferível deitar abaixo e fazer de novo!...
Será que não poderiam “demolir-me” e “construírem-me” de raiz? Isso, sim, seria um grande avanço na medicina!...
Se, num futuro próximo, isso vier a ser exequível, solicito, suplico, esmolo, pedincho que me façam com “acabamentos” de luxo e vista para o mar, tá?...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Memórias e Afectos (68)

Como o prometido é devido, aqui ficam algumas imagens antigas da minha terra natal, a Amadora. Foram todas "gentilmente cedidas" pelo Arquivo Fotográfico de Lisboa e "gentilmente gamadas" por mim, como já é habitual...

Vista aérea da Amadora


Cabos d'Ávila


Subida dos Cabos d'Ávila e bombas de gasolina


Estação dos Comboios


Mercado


Parque Delfim Guimarães (baloiços)


Recreios Desportivos da Amadora


Av. da República (julgo que a tabuleta era do fotógrafo Pinheiro)


Palavras para quê? Bombeiros Voluntários da Amadora, claro!


Fábrica Santos Mattos (Cintas Medicinais)


Igreja da Amadora ainda em construção (década de 50)


Casa Roque Gameiro


Estrada para Queluz (Av. Elias Garcia)

domingo, 10 de outubro de 2010

Cenas maradas...

... com músicas que eu gosto.
It's raining men e I believe in a thing called love.

sábado, 9 de outubro de 2010

Memórias e Afectos (67)

Confessei, há poucos dias, as minhas incursões às escondidas no quarto do meu irmão, quando era garota. Não sei se alguma vez ele suspeitou disso mas, por casualidade, conseguiu que eu me deixasse dessas investidas pontuais. Assim, de um dia para o outro, passei até a ter receio de passar junto à porta do quarto, quanto mais lá entrar!... Comprou uma colecção de livros policiais com uns títulos tenebrosos e capas sugestivamente macabras.
A colecção policial Grandes Mistérios, Grandes Aventuras da editora Romano Torres, com capas em tons de azul, foi publicada ao longo da década de 40, mas perdurou durante as décadas de 50 e 60.

Nessa época, muitos autores portugueses, tradutores de livros policiais, escreviam sob um ou mais pseudónimos estrangeiros, talvez porque o público português não compraria policiais escritos por autores nacionais. Só à sua conta, Gentil Esteveira Marques usou uma dúzia, entre eles, James Strong, Marcel Damar, William Forst, G. D. Richardson, Herbert Gibbons, Charles Berry e D. W. Ritcher.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Livros e Mar: eis o meu elemento! (31)

Voltei aos escritores indianos. Mais uma apreciação que me leva a querer apostar neles. Depois de ler O Tigre Branco e Entre os Assassinatos de Aravind Adiga, é a vez de Vikas Swarup. Géneros diferentes, a mesma crítica, em alguns momentos bem sarcástica, da sociedade indiana actual.
O livro está muito bem construído. A forma metódica como o autor o dividiu leva-nos, primeiro, a conhecer, dedicando um capítulo a cada um deles, as vidas surpreendentes e singulares dos seis suspeitos e encadeia-as com uma habilidade e uma astúcia inacreditáveis. Depois de nos fazer entrar nas suas vidas, revela-nos os motivos que, casualmente, os poderão ter levado a cometer o crime. Daqui em diante, Swarup consegue manter o suspense até ao final desafiando a nossa imaginação com as provas do crime, soluções convincentes e por fim a confissão do assassino.
Segundo a Booklist, se Agatha Christie tivesse escrito um policial sobre a Índia moderna, seria muito semelhante a Seis Suspeitos. Sem querer tirar o mérito à Booklist, permito-me discordar um pouco. Na minha modestíssima opinião, assemelha-se mais à conhecida “imagem de marca” de Ellery Queen, já que a verdadeira solução para o mistério só é revelada depois de várias falsas soluções.
Irrepreensível. Gostei muito.

Até mesmo no crime há um sistema de castas... Vicky Rai, um "playboy" filho de um influente político indiano, mata a jovem Ruby num restaurante em Nova Deli apenas porque ela recusa servir-lhe uma bebida. Sete anos depois, Vicky é julgado e absolvido pelo seu crime. E decide celebrar com uma festa de arromba. Mas esta festa vai ter um final inesperado quando Vicky é encontrado... morto. Entre os 300 glamorosos convidados, a polícia encontra seis pessoas estranhas e deslocadas naquele meio, todas elas com algo em comum. Arun Advani, o mais famoso jornalista indiano, está decidido a descobrir o culpado. Ao fazê-lo, revela-nos as incríveis e emocionantes vidas destes seis excêntricos suspeitos. Cada um deles teve motivos mais do que suficientes para premir o gatilho.

Inspirado em acontecimentos reais, o muito aguardado segundo romance de Vikas Swarup é um livro de leitura compulsiva que oferece um olhar perspicaz sobre a alma e coração da Índia contemporânea.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nobel da Literatura

"Muito comovido e entusiasmado." Assim se sentiu Vargas Llosa ao saber que era seu o Nobel da Literatura deste ano. Foram as primeiras declarações do escritor, feitas à agência de notícias peruana Andina e citadas pela Lusa.
O peruano, de 74 anos, foi distinguido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos", justifica a Academia em comunicado divulgado poucos minutos após o anúncio do Nobel.
A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Mario Vargas Llosa é “um grande incentivo” a todos os que se preocupam com os países onde não há democracia ou a liberdade está ameaçada”, disse o filho do escritor, Alvaro Vargas Llosa.
(in Jornal Público)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ajuda e Boa Hora

Fui à Feira do Livro e à Feira do Artesanato que decorreram na minha terrinha natal, a Amadora. Pois é verdade, eu nasci na Amadora, quando esta era ainda uma vila e freguesia do concelho de Oeiras… Foi nesta casinha que eu nasci, outrora rodeada por campos onde agora o cimento impera… mas sobre a minha “aldeia” falarei depois.
A Feira do Livro é um evento rotineiro por ocasião das festas da cidade e faço questão de a visitar anualmente. Já tive até ocasião de mencionar uma das minhas visitas no “post” Feira do Artesanato versus Feira do Livro.
Por cada ano que passa me parece mais miserável. À medida que a Feira do Artesanato (fortalecida pelas barraquinhas de produtos regionais que vão desde os queijos aos doces, passando pelos vinhos e licores) floresce, a Feira do Livro vai ficando cada vez mais desinteressante. Pelo andar da carruagem chegará o dia em que os stands livreiros darão lugar a barracas de chouriços e presuntos…
Os stands de livros são cada vez em menor número e dos resistentes quero destacar os alfarrabistas que por casualidade são uns dos meus preferidos, já que actualmente não tenho muito tempo disponível para deambular, como fazia antigamente, pelas estantes da Livraria Barateira ou da Livraria Santiago.
Como já disse, os stands de livros são cada vez em menor número, mas o que me despertou a atenção e me deixou perplexa foi a quantidade de livros de auto-ajuda que por lá proliferavam. Pensei, com os meus botões, que aqueles autores deviam estar milionários e as muitas pessoas que os compram, frustradas quando não atingem os objectivos propostos…
O Segredo, Para Além de O Segredo, Para Além de O Segredo 2, Como Alcançar a Felicidade, Peça e Receberá, Dê a Volta ao Stress, Ter Dinheiro é Fácil, Como Sonhar com os Números da Sorte, Pense e Fique Rico, e por aí fora, é um nunca mais acabar de títulos…
O que me deixa totalmente banzada é o facto de se venderem tanto como os pastéis de feijão ou a ginjinha de Óbidos…
Valha-me a Nossa Senhora da Boa Hora!...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A reencarnação existe!... (2)

Biblioteca Nacional
Materiais para a História Eleitoral e Parlamentar Portuguesa

A reencarnação existe!... (1)

Biblioteca Nacional
Materiais para a História Eleitoral e Parlamentar Portuguesa

Dia Mundial do Animal

Entre a brutalidade para com o animal e a crueldade para com o homem,
há uma só diferença: a vítima

domingo, 3 de outubro de 2010

Vossa Excelência chamou…? (3)

"Vossa Excelência Chamou", Livros Horizonte, Lisboa, 2.ª ed. 2008
Autor e Ilustrações: Júlio Borja

Tudo o que possa ter interesse saber-se sobre aquisição, manutenção, reparação, calibragem, upgrade e tuning de gatos domésticos.

O meu gato será um gato a sério? (Para quem já tem - ou julga ter - gato)

[…] O que acontece nos tempos que correm, com os avanços das biotecnologias alternativas, os alimentos geneticamente modificados, as asquerosas bebidas light, a clonagem desenfreada, mais o abuso generalizado de esteróides anabolizantes e o visionamento regular de reality shows na TV... é que já ninguém pode ter a certeza absoluta de quem é o quê - mesmo dentro da sua própria casa. […] Com os gatos passa-se a mesma coisa: há quem compre (adopte, herde, recolha da rua) lebre por gato - e é preciso estar-se de sobreaviso. Para além do mais, há que ter presente que o que hoje por aí há mais são bicharocos que, sendo até "de origem", são perfeitamente confundíveis com um gato: cães de companhia de senhoras, tipo bibelot - histéricos, enfezados, amaricados, com laçarotes na cabeça e cheios de tremores - são o caso mais típico, mas também servem de exemplo certas personagens (alegadamente) masculinas da fauna do jet set (humano) nacional, as quais podem perfeitamente passar por gatas com cio, se as apanharmos de vison pelas costas, maquilhagem na cara e com os calores abichanados de antevéspera de vernissage...[…]

[…] em relação à autenticidade gatal do inefável quadrúpede que arranjou para entreter o agregado, será que tem mesmo um gato? Será verdadeiramente gato?[…]

[…] Coloque-se frente ao candidato e chame o bicho pelo nome. Se não houver reacção claramente perceptível, olhe o danadinho bem nos olhos e repita o chamamento passados 10 segundos. Se, ainda assim, o bicho não lhe ligar pevide, chame-lhe outras coisas, variando o mais possível, para tentar baralhá-lo e captar-lhe a atenção.
[…] Se o animal continuar a olhar para si com uma expressão vazia e desinteressada, isso é muito bom sinal: pelo menos, cão não é, de certeza, nem mesmo dos tais pequeninos e amaricados. Todos os cães respondem sempre mesmo quando não os chamamos, basta espirrarmos ou gritarmos "Golo!",[…] que o alarve vem logo todo contente, a babar-se de subserviência, com o fiambre a pingar-lhe da boca e a expressão eufórica de quem acaba de ganhar uma viagem às Seychelles para dois, o dono e ele![…]

[…] Imediatamente após o seu bicho ter feito o cocozinho da praxe na areia da caixa das necessidades, aproxime-se da mesma munido de um balde. Abra a portinhola por onde o animal entra e sai da caixa, chegue o nariz bem junto à entrada e inspire uma vez. Se as notícias forem boas e o seu gato for um gato a sério, o prezado leitor dará por si numa agonia auschwitziana, a vomitar convulsivamente para dentro do tal balde, abalado e tonto, mas já ciente de que não comprou lebre por gato. Cocó de gato, de verdadeiro gato, é algo que deita um cheiro só suportável por quem nasceu para amar gatos acima de Deus e da sua própria vida. […]

[…] Há comportamentos-tipo que o gato costuma ter, com regularidade. Afiar as unhas em sítios inconvenientes. Vomitar ocasionalmente bolas de pêlo acompanhado de sons estrebuchantes. Lamber diária e demoradamente as suas próprias partes baixas, de olhos cerrados. Fazer slalom entre as pernas do dono quando lhe cheira que está com hipóteses de lhe cravar uma ponta de bife, em alternativa às repetitivas e politicamente correctas latinhas de comida para gato. Tratar qualquer gato estranho à casa que tenha o azar de lá entrar com o mesmo afecto e consideração com que um judeu ultra-ortodoxo trataria um primo direito do Yasser Arafat, se aquele lhe entrasse pela casa adentro no Domingo de Páscoa, a tentar convencer-lhe o filho a passar as férias de Verão num campo de recrutamento para operacionais da OLP.
Se o seu bicho tem, regularmente, comportamentos-tipo, ficou aprovado enquanto gato completamente legítimo, com tudo no sítio e certificado de garantia.[…]

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A minha gata “loura”

A minha gata faz hoje 3 anos. Signo Balança. Não me parece que seja uma gata equilibrada ou melhor dizendo contrabalançada, mentalmente falando, visto que tem algumas particularidades que rasam a doidice e nos fazem rir… A A. é um diabrete em figura de gato. As suas travessuras tornam-se hilariantes e deliciosas.
É um regalo olhá-la. Na aparência é toda feminina, mas desiludam-se… não passa de uma “Maria rapaz”, com um feitiozinho lixado. Adora importunar o gato, o senhor T., que nem sempre tem paciência para aturar a “miúda”, saltando-lhe para cima, sempre que o encontra “posto em sossego, naquele engano da alma ledo e cego…”
Tenta com êxito chatear-me, afiando as unhas no cadeirão de verga ou no meu edredão, olhando-me com ar provocador. Quando a repreendo corre a esconder-se. Tem expressões muito engraçadas e quando falamos com ela olha-nos com um ar meio palerma, do tipo “estou nem aí”…

É uma estouvada, mas é uma tontinha muito amorosa. Claro que o senhor T. tem um lugar muito especial no meu coração. Basta ter sido o primeiro gato a entrar nesta casa para ser o principal dono dos meus sentimentos (e ele faz tudo por isso…). No entanto, a gatinha A., loura e burra (como costumamos dizer) também conseguiu cativar-me com as suas marradinhas meigas, e não há dinheiro que pague a felicidade por ela fazer parte desta família.
Enquanto escrevo estas linhas, o senhor T. faz-me companhia… Afastado das tropelias da dona A., dorme o seu soninho merecido. E ressona…

O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma oportunidade de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber.

Pânico no Túnel

Nunca tinha passado pela experiência. Não estava preparada para ela. Ressonância Magnética feita!
O técnico perguntou-me se sofria de claustrofobia. Não, claro que não!... “Ofereceu-me” uns tampões para pôr nos ouvidos dizendo que sempre aliviava um bocado a intensidade do barulho. Barulho? Mau!... Disse-me que tinha que estar imóvel e que a duração do exame rondava os 15 minutos, havendo outros que demoravam 30 minutos e outros ainda mais. Os 15 minutos já me pareceram demasiado, mas…
Se não se sentir bem tem aqui este manípulo e basta apertar que eu ou um colega aparecemos logo, ok? Já não estava a gostar nada da conversa, mas…
Colocou-me no aparelho de RMN. Dentro do aparelho, senti-me no interior de um túnel, cujo diâmetro é, felizmente, superior à largura dos ombros. O técnico desapareceu da sala e eu fiquei entregue a mim e ao manípulo…

No início do exame, comecei por ouvir um barulho. Parou. Recomeçou. A intensidade aumentou, assim como o tempo de duração do barulho. Sei, agora, que este ruído pavoroso é criado pelo aumento da corrente eléctrica nos fios dos magnetos gradientes que enfrentam a resistência do campo magnético principal, mas quem diz que isto são sons perfeitamente normais, não sabe do que está a falar… O barulho do aparelho assemelha-se a um martelo pneumático utilizado nas obras!... Comecei a tentar controlar a minha ansiedade de modo a levar o exame até ao fim. Uma tortura! Quinze minutos imóvel, metida no túnel e com o martelo pneumático a ribombar na cabeça! Passei os infindáveis 15 minutos a controlar a respiração e a vontade de apertar o manípulo e sair dali a correr. Uma tortura…talvez comparada à tortura do sono utilizada pela PIDE. Não sei como não se lembraram disto. Impossível passar pelas brasas quanto mais dormir! Se o exame continuasse por mais 15 minutos eu confessava tudo! Parem! Eu confesso! Confesso que roubei uns postais quando andava de mochila às costas! Parem! Confesso que entrava às escondidas no quarto do meu irmão! (ó R. não contes isto ao teu pai…). Confesso que desde os 6 anos que não acredito no Pai Natal nem no Menino Jesus! Confesso e incrimino a família toda… o que é que querem saber? Confesso que o meu pai era um temível explicador de matemática e se irritava com a minha falta de atenção! Confesso que a minha mãe me atirou um chinelo, mas errou a pontaria e acertou no meu irmão! Confesso que o Z. embrulhou o móvel Grundig pick-up com o meu cobertor de estimação!
Confesso que o exame me custou muito!... Chamem-me cagarola, quero lá saber!

Reservado à Indignação (17)

No que diz respeito ao ensino das línguas estrangeiras nas escolas, julgo que o Francês já teve melhores dias… Frequentei um Externato durante a minha instrução primária e sempre tive Francês, mas nessa época ainda a Língua Francesa estava no seu apogeu. A incompatibilidade com a Língua começou cedo, sobretudo porque a Madame era enfadonha e emproada… As aulas eram tão aborrecidas que eu, bem comportada q.b., saía um bocadinho dos meus limites e ficava de castigo virada para a parede. Estamos a falar do tempo da “outra senhora”, se fosse agora, o mais provável seria a Madame apanhar uma tareia (estou a brincar, os meus pais nunca foram violentos…). Quando, depois de três exames feitos na 4ª classe, optei pelo liceu, entrei no 1º ano já com as primeiras noções de Francês, ou seja, com vantagem em relação às colegas que nunca tinham tido contacto com esta disciplina.
Uma turma com um grande desequilíbrio de conhecimentos. Tirei proveito da minha “sabedoria” acabando por dispensar às provas orais no 2º ano do liceu, mas nunca cheguei a simpatizar com a Língua Francesa. Só no 3º ano tive contacto com o Inglês, que rapidamente me conquistou, assim como aos meus colegas. O sentimento em relação às duas Línguas era unânime.
Presentemente, penso que a esmagadora maioria dos alunos também prefere o Inglês, podendo depreender que a embirração com o Francês, para além de ser já de longa data, tem tendência a continuar…
Enquanto assistimos à ascensão do Espanhol (Castelhano…), o Francês vai perdendo alunos, principalmente no ensino secundário. E onde é que tudo isto nos leva?
À minha indignação, logicamente… É verdade, toda esta conversa fiada para chegar à raiva propriamente dita...
Cá vai de enfiada a minha indignação. Se qualquer pessoa reconhece que o Francês já teve melhores dias e está a perder terreno para o Espanhol a um ritmo vertiginoso, seria de bom senso que os professores de Francês tentassem motivar os alunos para a disciplina que está em evidente declínio, certo? Isto não tem nada que saber, é tão claro como água! Então, expliquem-me, como se eu fosse muuuuuiiiiiito burra, quais serão os desígnios de uma professora de Francês que conseguiu tirar do pódio (de professor mais mal amado) o Prof. de Matemática?
Digo-vos que, se isto fosse uma competição desportiva, a Madame que dá aulas na turma da minha filha R. seria a mais bem classificada e não seria destronada do lugar central do pódio…
Creio que é essencial e urgente que os professores tenham pulso forte para leccionarem sem perderem o respeito dos alunos, mas também sempre ouvi dizer que não é com vinagre que se apanham moscas…
Por este andar, parece-me que a falta de paciência da Madame vai conduzi-la, num futuro próximo, a um curso de formação de Castelhano pois está a habilitar-se a ficar sem “audiência”… Não é assim Señora Profesora? Toca a hablar com tranquilidad, autrement c’est la folie, oui c’est la folie…