quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (37)

Quase todas as minhas recordações me deixam saudosa, mas nem todas me deixam um sorriso no rosto. Um sorriso triste ou um sorriso nostalgicamente ternurento que se estende até à alma. Foi, pois, com um destes sorrisos ternos que relembrei algumas das gulodices da minha infância e o sorriso, para além de me recordar experiências saborosas, ficou açucarado e guloso, como nos tempos da minha meninice…

A Olá sempre deu vários brindes e era grande a expectativa ao comprar um gelado…rasgava o papel à pressa, entusiasmada pela hipótese do bonequinho não ser repetido… Depois, saboreava o gelado devagar, protelando o fim do mesmo, com esperança que aquele pauzinho fosse um dos premiados…Quem não se lembra dos pauzinhos dos gelados com a palavra “prémio” gravada?

Olha o Rajá fresquinho!... Fruta ou chocolate...
Os gelados da Rajá existiam com abundância lá por casa pois o meu irmão foi, durante algum tempo, vendedor da marca. Sorte a minha!

Os pudins Mandarim, em caixinhas azuis com um chinês (supostamente um mandarim), faziam a delícia de qualquer miúdo nos gloriosos anos sessenta.

Também os refrescos Royal e Dawa eram fáceis de preparar. Bastava juntar o pó das saquetas com água, adicionar açúcar e gelo e estavam prontos a beber. Apesar de terem uma grande quantidade de corantes, eram muito agradáveis. O que eu gostava daquela “porcaria”…
Hoje em dia, com tanta oferta e variedade, não nos passa pela cabeça que estes refrescos em pó e pudins instantâneos possam ter sido tão inovadores.

As farinhas variadas e o leite em pó Primor estão, na minha memória, associados aos dias de férias que passava em Alvorninha. Naquele tempo, o leite do dia começou a ser comercializado nuns sacos de plástico (julgo que da Ucal) mas tinham que ser conservados no frigorífico. Como em qualquer aldeia, há mais de quarenta anos, a existência de frigoríficos era uma verdadeira ilusão, a opção passava pelo leite em pó e pelas farinhas. Eu gostava!...

Chocolates! Recordo os da Aliança mas os da Regina eram os meus preferidos...


Fazia-se um furo numa caixa de madeira que tinha uma superfície inclinada com um cartão numerado. Quando se furava o número, à nossa escolha, caía uma bolinha colorida em plástico para uma divisória na parte inferior. A cada cor correspondia um chocolate diferente. Se a memória não me atraiçoa (e engana-me vezes sem conta), a bolinha preta era premiada com uma tablete ComacomPão e o prémio da única bolinha dourada correspondia a uma caixa de bombons. Recordo-me que havia uma cor que saía muitas vezes, certamente a que equivalia ao chocolatinho mais barato…mas não era isso que me fazia desanimar, o que me fazia desanimar mesmo era ouvir os meus pais dizerem por hoje já chega…

Li, por aí, que a Regina queria voltar a distribuir as caixas dos furos pelos cafés e pastelarias mas foi proibida de o fazer pelas autoridades competentes… Dizem as autoridades, e autoridades serão porque têm poder para proibir e chumbar a ideia, que a caixinha dos furos é um jogo de sorte e azar… Como?! Gostava que alguém me explicasse isto melhor, porque eu, ao contrário das autoridades, me sinto incompetente para entender…Não alcanço!...
A não ser que me provem que os altamente viciados, em Black Jack, Roleta ou Poker, adquiriram o vício do jogo na inofensiva caixa de furos…
Agora que penso nisto, é francamente provável que os viciados no Bingo se tenham deixado aliciar por este jogo, depois de tantas “linhas” feitas nas caixas dos furos e de tanto gritarem “bingo” quando lhes saía a cobiçada bola dourada…
Quiçá a corrupção que grassa no país se deva mesmo à catrefada de furos que estes corrompidos senhores fizeram na infância… É, por isso, imperioso que se afastem as nossas crianças da perniciosa caixa de furos, para que o combate à corrupção tenha sucesso…
O que mais posso escrever para reforçar o ridículo desta “competente”decisão?
Como diria a minha mãe, isto não é uma casa, é um “pagode”...

Enfim, coisas do antigamente que o tempo não consegue apagar.
Coisas do antigamente que a minha memória teima em ressuscitar…

2 comentários:

Anónimo disse...

E os caramelos vaquinha?

Pezinhos na Areia disse...

Os caramelos vaquinha também fazem parte das minhas memórias e não estão esquecidos! Assim como os rebuçados da Heller...

Obrigada!