História de Portugal para cada político (por Isabel Stilwell)
Há momentos em que o mundo parece especialmente virado do avesso, mas se puxarmos um bocadinho pela memória, e se mergulharmos umas horas num livro de História, percebemos que é desesperante como os erros se repetem vez e vez sem conta. Como é que é possível que a humanidade, ao longo dos séculos, e apesar de todas as mudanças exteriores, continue tão igual a si mesma, para o bem e para o mal.
Portugal não foge à regra. Basta ler as cartas dos diplomatas estrangeiros em Lisboa, escritas em 1640, nas guerras liberais, nos últimos anos da Monarquia ou na I República, para os ouvir descrever o país da exacta mesma maneira: um país falido, com dívidas até ao pescoço, em que os políticos se digladiam e insultam como se o problema fosse onde gastar o dinheiro e não onde encontrar o dinheiro para gastar, aos de dentro e aos de fora.
Dos relatos dos embaixadores de França, Espanha e Inglaterra percebe-se o mesmo desespero, qualquer coisa como ‘mas como é possível não perceberem que assim não vão a lado nenhum?’
Os discursos dos dirigentes políticos são também iguaizinhos, sempre num tom muito ofendido, com muitos insultos e insinuações de corrupção e nepotismo, e um desprezo total pelos credores. E o mais estranho é que, invariavelmente, acabam a pedir (fingindo que se limitam a aceitar, contrariados) a ajuda internacional, seja em espécie (apoio militar), seja em diplomacia (acordos e pactos), seja em dinheiro (de preferência um ‘subsídio’, sem juros).
Como esta repetição só se pode dever à ignorância, proponho que se distribua uma História de Portugal a cada deputado e governante. Talvez se envergonhassem quando fazem aqueles discursos de virgens ofendidas e quem sabe se até não ‘tiravam’ umas ideias...
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