O coitadinho (por José Luís Seixas)
O “coitadinho” qualifica a pessoa que vive numa situação de sofrimento e impele a uma atitude de comiseração. A vítima de um infortúnio é sempre um “coitadinho” que merece apoio, ternura e compreensão. O diminutivo faz revelar essa necessidade de protecção que lhe atribuímos. O “coitado” traduz distância e indiferença; o “coitadinho”, ao invés, proximidade e atenção. Aos verdadeiros “coitadinhos” acrescem os falsos. E nada de mais perigoso existe do que os “disfarçados de coitadinhos” (diferente dos pobres “coitadinhos disfarçados”). Entram em nossa casa, clamam por uma côdea de pão e roubam-nos a carteira. José Sócrates cultiva a imagem do “coitadinho”. Portugal não o compreende; a Oposição persegue-o; o PR ostraciza-o. A ele, patriota e sacrificado, com o corpo em chagas de tanto pelejar pela Pátria ingrata. É certo que a execução orçamental de 2010 foi um desastre, descobertos que foram os buracos, os ludíbrios e os truques de contabilidade. É certo que o que disse sobre os sacrifícios dos PEC anteriores contraria a justificação do novo PEC. É certo que negociou com a União Europeia e com o Banco Central Europeu à socapa, escondido do Governo a que preside e dos órgãos de soberania de que depende. É certo que tudo isto não passa de um embuste por ele construído. Porque Sócrates sabe ser “coitadinho”. É, aliás, um artista sublime na arte de fazer de “coitadinho”. Atrevo-me até a dizer que se trata do maior e melhor “coitadinho” que esta República produziu.
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