sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Reservado à Indignação (45)

Nunca pertenci à categoria de pais que fazem dos professores os maus da fita, nunca fui conivente com facilitismos e esforcei-me por mostrar aos meus rebentos que devemos respeitar as hierarquias, valorizar os educadores e reconhecer a sua autoridade. Tenho adoptado a mesma estratégia que o meu pai empregou com os filhos, ouvir e dialogar, sendo que, na maioria dos casos, a condescendência dele pendia para os docentes. Julgo que não devemos minar a autoridade dos professores, devemos, sim, mostrar aos nossos filhos o que está certo e o que está errado, o que é justo e o que é injusto. Só assim conseguimos formar cidadãos dignos e idóneos.
É bonito ter uma relação próxima com os filhos, sou uma mãe tolerante (por vezes permissiva demais, segundo a minha filha mais velha…), mas os pais são pais, e não amigos. Estarei sempre onde precisarem de mim, mas como mãe, não como amiga. Assim como os pais têm os seus próprios amigos, os filhos também têm os seus amigos, é natural e saudável que assim seja. Não posso generalizar, mas, hoje em dia, numa inversão de valores, parece-me que os filhos mandam nos pais e estes, por sua vez, curvam-se perante os caprichos dos filhos e insurgem-se contra os professores, como se a escola fosse uma filial da família e tivesse o dever de “domesticar” os meninos. Ainda que, presentemente, não tenha razões de queixa, prefiro uma negativa à falta de educação ou mau comportamento.
Pode parecer que, como mãe, sou quase perfeita, mas não sou… Há ocasiões em que esqueço a ética e tenho atitudes menos ortodoxas, algumas, confesso, em relação aos professores, como já tive oportunidade de desabafar aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui… Interessei-me sempre pelo percurso académico da minha prole, mas, embora a minha presença nas reuniões escolares seja constante, reconheço que me tenho mantido um pouco à margem da vida escolar, não interferindo in loco … O motivo desta conduta deve-se, essencialmente, ao receio que o feitiço se vire contra o feiticeiro. Receio que em vez de solucionar uma ou outra contrariedade acabe por agravá-la, porque insisto em pensar que a máxima “os professores têm a faca e o queijo na mão” ainda está vigente…
O professor deve ser isento e imparcial, mas nem sempre isso acontece. Há uns anos surgiu uma incompatibilidade entre a professora de filosofia e a minha filha mais velha. A senhora parecia estar sempre contra ela e, aparentemente, nada explicava essa antipatia. Chegou ao ponto de privilegiar uma aluna que tinha feito copy paste (coisa que qualquer aluno sabe fazer…) de um livro de apoio e repreender a minha filha pelo seu livre pensamento (estamos a falar de filosofia, não de uma ciência exacta…). Deixava passar uma falta num aluno e a seguir castigava outro por uma falta semelhante e nada indigna mais um aluno que a injustiça. Mais vale cair em graça do que ser engraçado… As aulas de filosofia tornaram-se completamente insuportáveis. Por sorte, no ano seguinte a professora desapareceu literalmente do mapa (deve ter ido criar mau ambiente para outra escola…) e a nova professora conseguiu reconhecer as suas qualidades de forma justa. Se eu tivesse interferido, teria mudado alguma coisa? Não creio… Limitei-me a praguejar e amaldiçoar a senhora, não lhe reconhecendo, ainda hoje, a mínima idoneidade para leccionar.
Pode parecer que, como mãe, sou quase perfeita, mas não sou… Há ocasiões em que esqueço a ética e tenho atitudes menos ortodoxas…
A minha filha mais nova, a contestatária, entrou, este ano lectivo, no secundário. Apesar dos testes de orientação profissional terem sido mais favoráveis à área de Ciências Socioeconómicas, influenciada por mim escolheu Ciências e Tecnologias… A aversão à professora da disciplina de Biologia (e directora de turma…) foi rápida, mas lá fui pondo água na fervura. Na primeira reunião com a senhora entendi o porquê de tanta raiva e pensei, com os meus botões, que a coisa não ia correr nada bem. Aspirante a “tiazoca”, arrogante, repetitiva, inflexível, rabugenta e com um forte discurso provocatório. Em casa, através de umas evasivas, disfarcei o meu desânimo e incentivei a minha filha a prosseguir o estudo naquela disciplina. Não fui bem-sucedida. A minha filha definhava, a família notou que andava triste e desinteressada. A reunião no final do 1º período deu-me a conhecer mais um traço do seu mau feitio, a má-criação. Quando a avó, e encarregada de educação, de um aluno fez uma observação, a indelicada e despótica professora ignorou-a… e continuou a sua dissertação dirigida aos “ranhosos” progenitores, como se, para nós, fosse uma bênção ouvi-la.
Desta feita não escondi a minha indignação em casa e dei largas à minha revolta. Isto foi “música” para os ouvidos da minha filha, como se eu tivesse acabado de pronunciar a famosa frase do Star Wars, “May the Force be with you”… Começou a desbobinar e revelou-me, então, que detestava a matéria de biologia e que a professora fazia alguns comentários depreciativos (a qualquer aluno, sem mostrar favoritismos, o que já não é mau…).
Se já não gostava de Biologia, bastou achar que a professora esperava pouco dela para perder completamente a motivação. Com o meu consentimento anulou a disciplina, assim como a de Física e Química, determinada a mudar para Ciências Socioeconómicas no próximo ano lectivo. Comunicou à professora a sua decisão e surpreendeu-se pelo feedback positivo… mas quando a fartura é muita, o pobre deve sempre desconfiar. Assim que teve oportunidade espetou a primeira farpa: “A vossa colega R. vai deixar-nos porque pretende mudar de curso, mas vocês não julguem que ao mudar para outro curso vão sentir menos dificuldades porque todos são difíceis”. Observem com atenção a frase da “fera”. Ainda na mesma aula, aproveitou para meter a segunda bandarilha: “A R. vai trocar-nos…por um dos outros cursos… aqueles que não fazem nada…”. Observem a frase desdenhosa da “fera”. Mas afinal como é? São todos difíceis ou só se empenha e trabalha quem tem Biologia? Estaria a afirmar, de uma forma dissimulada, que a minha filha pertence ao lote dos burros? A minha filha, que nestes momentos teria o meu aval para lhe responder polidamente, calou-se…
Primeiro, não me parece que ela, particularmente como directora de turma, tenha que dar palpites sobre o assunto, segundo, não demonstrou bom senso nas críticas nem as devia fazer na frente de toda a turma, terceiro, irritam-me os estigmas e as rotulagens, quarto, não lhe reconheço a mínima idoneidade pedagógica e pior que isso, os alunos também não…
O modo como os professores interagem com os alunos é determinante no processo de aprendizagem e na forma como lidam com a escola. Por esse motivo, é raro um professor marcar-nos ao longo da vida, é raro haver um professor inesquecível
Na próxima quinta-feira irei conversar com a senhora visto que continua a ser a directora de turma e quero que ela entenda que me preocupo com os resultados académicos da minha filha, que me interesso pelo seu êxito, mas, acima de tudo, preocupa-me o seu bem-estar e a sua felicidade…

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