Descobri a 7ª Arte nos finais dos anos 60, início da década de 70. Não consigo precisar em que filme se deu o meu baptismo, mas sei exactamente com quem me estreei nestas andanças. As minhas colegas e amigas B. e M. foram as minhas companheiras de fins-de-semana cinematográficos. Inicialmente íamos aos únicos cinemas que existiam na nossa zona, o Cinema Lido, uma belíssima sala que já só existe nas nossas memórias, e os Recreios da Amadora que é agora um Centro Cultural pertença da Câmara. Mais tarde, alargámos os horizontes até ao Cinema Condes e ao Cine-Teatro Éden, ambos nos Restauradores. Presentemente a ida ao cinema é trivial, mas naquele tempo era um acontecimento. Embora hoje em dia o leque de filmes seja mais diversificado, quando vou ao cinema não sinto o entusiasmo que sentia naquela altura.
Nesse tempo não éramos exigentes nem selectivas quanto ao género. Tanto fazia ser um filme histórico como um filme de guerra, um musical, uma comédia ou mesmo um western.
Ben-Hur e Lawrence da Arabia, Patton, Música no Coração, Hello, Dolly! e My Fair Lady, O Bom, o Mau e o Vilão, Rio Bravo, Dois Homens e um destino, Se o meu carro falasse e a Grande Evasão são alguns dos filmes que me ocorrem, mas há dois filmes que destaco e que vimos pelo menos três vezes… É frequente passarmos por uma fase em que temos uma paixoneta por um actor/actriz e nós não fugimos à regra. A B., apaixonada devota de Charlton Heston, que eu não aplaudia nem acompanhava porque não fazia o meu estilo, conseguiu convencer-me a assistir por três vezes ao filme O Homem que Veio do Futuro (Planeta dos Macacos), de 1968, uma obra-prima da ficção tendo em conta a época, e protagonizado por Heston. Devo dizer que aceitei estas três “doses” de filme porque a organização da sociedade símia me fascinava, ao contrário da constituição física do protagonista…
Evidentemente que a B. pagou caro este meu acordo. Viu-se na obrigação de me fazer companhia quando bisei o filme francês Le Cercle Rouge, a anatomia de um grande assalto e o que se passa posteriormente. O filme conta com grandes actores europeus da época. Yves Montand, que me fez rir no filme A Mania das Grandezas e que tem uma interpretação magnífica em Jean de Florette e Manon des Sources (recomendo os dois!). Gian Maria Volontè que voltei a ver no western Por um Punhado de Dólares. O singular Bourvil que contracena com o incomparável Louis de Funès em A Grande Paródia. Alain Delon, a minha paixão de adolescente e o motivo que me levou a ver o filme!
Confesso que fui mais malvada do que a B. porque impus que me acompanhasse a três matinées no mesmo fim-de-semana… e confesso que só li as legendas na primeira, nas outras duas apenas suspirei… Seguiram-se outros filmes com este actor, como A Tulipa Negra, A Piscina, Flic Story ou Borsalino. O Delon envelheceu mal, está um canastrão… mas era lindo!
A minha amiga M. não era imune “ao fogo que arde sem se ver” e também tinha a sua paixão arrebatadora, mas essa não a obrigava a ir ao cinema. Nesse tempo passava na televisão a série Lancer, uma série americana de cowboys que teve algum sucesso. O pai, Murdoch Lancer, e os dois filhos, Scott Lancer, um ex-oficial do exército, e Johnny Madrid Lancer, um pistoleiro, lutavam contra as ameaças que pairavam sobre o rancho.
Pois a M. estava pelo beicinho pelo James Stacy (o Johnny Madrid, à direita na foto) e fazia-me lembrar a canção “Ele e Ela” da Madalena Iglésias porque só falava nele a cada momento e vivia com ele no pensamento… Isto valeu-lhe uma gargalhada geral da turma porque a M., que sonhava dia e noite com o Johnny, deu um erro num ditado, na disciplina de Inglês, que o safado do professor partilhou connosco. O título do texto que o professor ditou era “Algebra and Geometry” e a M. escreveu…“Algebra and John Madrid”! Memorável, sem dúvida…
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