sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Livros e Mar: eis o meu elemento! (49)

António Sousa Homem nasceu no Porto em 1921, vive em Moledo e actualmente escreve no Correio da Manhã, aos domingos.
O Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho decidiu incluir as crónicas de António Sousa Homem num dos seus mestrados. Agora, entendo a razão. A sua escrita é brilhante, imaculada, rigorosa, sem falhas. Já ninguém escreve assim, só mesmo um “reaccionário minhoto”…
Apesar de o meu avô paterno, já falecido há muito, ter nascido uns bons anos antes de António Sousa Homem, tinha uma escrita similar, não no conteúdo, mas no talento e na qualidade. Talvez porque o meu avô paterno, nascido em Monção, foi, também, um reaccionário minhoto…
Ao ler “Um Promontório em Moledo” pensei como teria sido curioso conhecer a Tia Benedita, a matriarca dos Homem, o velho Doutor Homem, que lia o Telegraph, o Tio Alberto, o bibliófilo de São Pedro de Arcos e Dona Ester, a primeira mulher da família a ter um carro. Fiquei ainda com vontade de conhecer Maria Luísa, a sobrinha esquerdista, Isabelle, a pequena holandesa, namorada do sobrinho Pedro, Dona Elaine, a governanta do eremitério de Moledo, mas, sobretudo, fiquei com vontade de me sentar no cadeirão da varanda, ao fim da tarde, a ouvir as histórias de vida de António Sousa Homem, deixando-me enfeitiçar pelas suas palavras…

Moledo

«O meu médico de Viana (a quem recorro nas aflições, e que vigia o temperamento das coronárias e do fluxo renal) não o diz, mas sei que a longevidade dos Homem o aflige como um milagre da província. O segredo é só este: espremer a pasta de dentes pelo fundo, não ler demasiados romances, manter os retratos dos antepassados, levantar cedo e evitar ceder à indignação. Depois de fazer oitenta e cinco anos, já lá vão uns tempos, a família trata-me como uma página do álbum de glórias, anterior ao Titanic, destinado ao naufrágio ou ao museu. Faço o que posso, só para não os desiludir.»

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