Foi gratificante ler ThrityUmrigar, mais um(a) autor(a) indiano(a) que me deslumbrou. “Bombaim, a um mundo de distância” é um livro magnífico. Depois de ter lido Aravind Adiga e Vikas Swarup, este livro é mais uma visão bastante cruel da estratificação da sociedade indiana e das disparidades entre as classes. Segundo a autora, esta é uma história sobre os ricos e os pobres e os desequilíbrios entre eles.
“Bombaim” conta-nos a história de duas mulheres, a patroa Sera Dubash, de uma casta superior, logo, socialmente culta, privilegiada e rica, e Bhima, a empregada doméstica, que, apesar de trabalhar para Sera há vários anos e ter com ela vínculos de consideração e amizade, é diariamente humilhada e reduzida à sua insignificância (não pode usar os mesmos talheres e utensílios, nem utilizar os assentos da casa), embora este tratamento seja, social e culturalmente, legítimo e aceite no contexto indiano.
Sera mora com a filha Dinaz, que está grávida, e o genro Viraf. Estes vieram morar com ela depois do marido de Sera ter falecido. Bhima vive com a neta, uma rapariga de 17 anos, também ela grávida, num enorme e imundo bairro da lata, e não se conforma com a gravidez indesejada da neta, que vê ameaçada a sua formação universitária, proporcionada por Sera.
Pressionada pela avó, Maya confessa que o pai do futuro filho é um colega da universidade, mas Bhima descobre, depois de ser vexada, que é mentira. Abortar parece ser a solução e é Sera, novamente, que auxilia a empregada e a neta, levando esta a uma clínica de um amigo do genro para fazer o aborto.
É a partir deste acontecimento que a história ganha dinamismo. Enquanto a narrativa avança, Sera e Bhima vão-nos brindando com as suas recordações do passado e o final leva-nos a “testemunhar”, impotentes, uma injustiça amarga… Nas diferenças sociais, culturais e religiosas há sempre o elo mais fraco…
Na Bombaim actual, Thrity Umrigar apresenta-nos duas mulheres separadas pelo rígido sistema de classes indiano. Sera Dubash é uma dona-de-casa de classe média-alta cuja riqueza e opulência escondem a vergonha de um casamento em que sempre sofreu abusos. Bhima vive num imenso bairro de lata, toda a sua vida só conheceu desespero e perda, e trabalha como empregada doméstica para a família Dubash há mais de vinte anos. Estas mulheres pouco deveriam ter em comum, mas os seus percursos apresentam mais pontos de contacto do que à primeira vista se poderia imaginar. Uma reflexão elegante sobre a ligação intrínseca de todos os seres humanos e uma análise subtil da natureza das classes sociais e do poder na Índia.
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