O homem que vai dar a volta ao mundo a desenhar (por Rui Tavares Guedes in Visão)
Aos 32 anos, Luís Simões está pronto para a grande aventura da sua vida: durante cinco anos vai percorrer os cinco continentes. A desenhar tudo o que vê à sua volta.
Sempre que a tinta preta entra no papel branco, os traços saem precisos e geométricos. E risco após risco, a imagem começa a nascer na folha do caderno. De forma sincopada, ao ritmo do olhar, encaixando as dimensões da paisagem num espaço delimitado, de proporções equilibradas, linhas de profundidade corretas e captando uma espécie de alma que escapa aos outros transeuntes. Depois, concluída a estrutura, junta-lhe aguarelas de cores suaves, irrepetíveis na natureza, mas harmoniosas no resultado final.
É nestes momentos, sentado no chão ou encostado a uma qualquer esquina de um qualquer beco de uma qualquer cidade, que Luís Simões se sente realizado. E com uma imensa vontade de não parar, de conhecer outros lugares, de aprender novas técnicas de desenho, de partilhar as suas visões e... mudar de vida. O seu sonho - a que chamou World Sketching Tour - está prestes a concretizar-se: dentro de algumas semanas, ele vai partir, de bagagem repleta de cadernos, lápis e tintas. Com um objetivo bem definido, mas um plano que irá construindo aos poucos: "A ideia é passar um ano em cada continente, portanto, dentro de cinco anos posso regressar... ou talvez não."
Para poder partir com esse objetivo, Luís Simões despediu-se do seu emprego confortável como motion designer na SIC, onde estava há quatro anos, e começou a contactar os muitos outros urban scketchers que existem pelo mundo, e que conhecia através da "troca de desenhos" na internet. O plano é simples: um pouco por todo o lado, vai ficando alojado nas casas de outros desenhadores como ele, tentando perceber a identidade de cada local e, ao mesmo tempo, aprender novas técnicas. "Este projeto define-se em quatro palavras: viajar, conhecer, aprender e desenhar", diz, com uma convicção a toda a prova.
Percebe-se que há nele uma ânsia por partir e poder descobrir outras culturas, povos e estilos de vida. Sem receios de espécie alguma e apenas animado pelos desafios que pode encontrar: "Só o facto de saber que vou estar com pessoas que desenham melhor do que eu, que me podem mostrar outros caminhos e técnicas, é algo que me deixa completamente realizado".
No fundo, tudo se resume a uma frase simples, que ele não se cansa de repetir: "A vida é boa demais para ficarmos sempre no mesmo sítio."
Eu acrescentaria que a vida é como um piquenique e a maioria de nós deixa o melhor para as formigas…
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