Piegas, talvez, mas iletrados certamente (por Isabel Stilwell no Destak)
Fui ouvir o discurso que Pedro Passos Coelhos fez na escola que visitou. Ouvir o original, em lugar de acreditar nas mil semi- transcrições que apareceram por todo o lado. Já andamos todos neste mundo há muitos anos para nos fiarmos em discursos parlamentares indignados, ou declarações de políticos que parecem virgens ofendidas, citando afirmações fora do contexto porque percebem que o “soundbite” funciona. Da esquerda, à direita, bem entendido, todos os fazem. Somem-se-lhe depois alguns comentadores, bloguistas e redes sociais e o Carnaval está instalado. Faço-o por uma questão de ética: para me indignar quando acho que há razões de indignação, e para não seguir a carneirada de forma acéfala, se se trata de um aproveitamento.
Por isso, quando todas as conversas passaram a conter a palavra “piegas” fui ouvir as palavras do próprio na TSF. Dias depois, rios de tinta corridos, intervenções na Assembleia da República e manchetes de jornais publicadas, fiquei de boca aberta, pela desonestidade intelectual, na pior das hipóteses, e na melhor, pelo grau de analfabetismo funcional, que permite que se tenha “treslido/resouvido” desta maneira. O senhor falava numa escola. E disse, a propósito do ensino: “Devemos persistir, ser exigentes, e não sermos piegas, nem ter pena dos alunos, coitadinhos, que sofrem tanto para aprender. Nunca conheci um aluno que anos mais tarde, louvasse os professores que facilitavam ou não tivessem cumprido devidamente”. Ora, no contexto da relação pais e filhos, nós os pais somos piegas, sem dúvida nenhuma. Dói-nos a alma pensar que têm de acordar tão cedo, fazer tantos TPC, ir a tantas aulas e reagimos contra os professores sempre que os castigam. Levamo-los à escola, financiamos os seus caprichos, e regra geral somos muito pouco exigentes. Se os pais dos que afirmam que chamou piegas aos portugueses o tivessem sido menos, quem sabe se a esta hora não saberiam ler.
2 comentários:
este "post" (é assim que se diz?) é um verdadeiro esclarecimento político. tive a mesma dúvida, mas tive preguiça para me esclarecer. obrigado!
pela minha parte tenho boa memória de vários: da primária, o prof. Louro, na "praça do peixe", que fui procurar na delegação escolar das caldas e ... já tinha morrido! um dia entrou um fulano, talvez um delegado escolar ou superior, e o prof identificou com orgulho os alunos que iam para o colégio militar (eu) e para o Pupilos (um rapaz); nunca mais me esqueci dos sinónimos de Este e Oeste (tu sabes?), pq levei 6 reguadas em cada mão...; do tempo no colégio, lembro-me de vários, e destacaria o Eng. Saraiva, irmão do António José Saraiva e do Hermano José Saraiva. a alcunha dele era "bisnau" (não sei se tem algum significado), e tinha uma figura (corpo e cabeça) que parecia uma caricatura, pelo que poderia ser um "boneco" nas nossas mãos (...), mas conseguia impor o respeito e conseguiu seduzir para a física muitos de nós. nunca tive tão boas notas nos pontos e no final dos períodos. talvez pq não se limitava ao que estava nos livros oficiais e nos encantava com o que, passado uns anos (1976-77) na faculdade de ciências encontrei no professor Andrade e Silva: a história das ideias em física.
mas tb me lembro muito bem de um medíocre que estudava para dar a matéria, e mais nada sabiam, e se expúnhamos uma dúvida, dizia que no dia seguinte traria a resposta...
Gostei da prosa, primo!
Claro que sei os sinónimos de Este e Oeste!!! Se a tua pergunta não tem um segundo sentido, para Este temos nascente, oriente, levante, e para Oeste temos poente, ocidente e ocaso. Há coisas que nunca esqueci...mas também levei algumas reguadas!
Alcunhas de profs?...só me vieram à ideia duas... e não me apetece puxar pela cabeça. Uma prof de português, Alice Moreira, mais conhecida por "galinhola" e um prof de matemática, que também era vice-reitor, o "mocho". Este, quando um aluno errava um exercício dizia "sois uns lázaros!"...
Talvez me tenhas dado uma ideia para um "post"!
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