sexta-feira, 17 de junho de 2011

Message in a bottle (53)

“Back to basics” (por Pedro Carvalho, Diário Económico)

Pedro Passos Coelho, no seu memorando de entendimento com o CDS, colocou ontem a fasquia demasiado alta: “Como sabem, precisaremos de regressar ao mercado daqui a dois anos. Faremos tudo para que esse regresso aos mercados seja ainda mais rápido”.
De economista para economista, diria ao primeiro-ministro indigitado que bem pode fazer tudo, e acredito que tudo fará, mas que o regresso de Portugal ao mercado da dívida está longe de estar garantido. Quando um comboio está a descarrilar, bem podemos conduzir bem que a coisa já não depende mais de nós. E o próprio FMI já o veio dizer: mesmo que Portugal cumpra à risca o programa da ‘troika', não há nenhuma garantia de que os mercados reabram para Portugal. E porquê? Porque a estratégia da Alemanha para que Portugal, Irlanda e Grécia saiam da crise tem sido, e desculpem-me o vernáculo, calinadas atrás de calinadas. Ainda ontem, um senhor disse à Reuters que Berlim vai adiar uma solução para o impasse grego para Setembro. E a justificação foi esta: "Não sabemos o que fazer, vamos ganhar tempo". Resultado: os juros de Portugal saltaram para 14% e os da Grécia chegaram a 30%.
A estratégia e o diagnóstico da senhora Merkel e do senhor Schaeuble para a crise financeira na Europa é igual à que as autoridades de saúde na Alemanha têm adoptado com a bactéria E.coli. Primeiro achavam que a origem das bactérias estava nos pepinos. Depois afinal já eram os tomates, depois os rebentos de soja e depois as alfaces. E ontem, afinal, já eram os hambúrgueres congelados. O carapau e a petinga que se cuidem.
Ainda todos se lembrarão que, ainda em Janeiro de 2010, em plena crise, a senhora Merkel ainda andava a apregoar aos parceiros europeus para que adoptassem políticas expansionistas e os famosos pacotes anti-crise para espevitar o crescimento. Depois da tragédia grega chegou-se à conclusão que o melhor era arrepiar caminho, travar o endividamento e que se lixe a economia.
Mas o maior erro da Alemanha e de Bruxelas a lidar com esta crise não foi esse. O maior erro da Europa foi criar a expectativa perante os nossos credores de que nenhum país iria entrar em “default” ou reestruturar a dívida. Ora bem, do pouco que percebo de economia, diria que se o risco de reembolso de uma obrigação é igual a zero, como a Europa quer fazer crer, então a rendibilidade desse mesmo activo nunca poderá ser de 14% ou 30%, que são os juros que os investidores estão a exigir para assumir o risco português e grego. Se o cupão e o nocional de uma dívida estão garantidos e isentos de risco, quando muito deveriam ser remunerados a uma taxa de juro sem risco, que no caso da zona euro será qualquer coisa parecida com as ‘bunds' alemãs. Caso tenham alguma dúvida façam o favor de ler o pai da teoria financeira moderna, o senhor Markowitz. Lá devem encontrar a origem da bactéria E.coli na crise financeira europeia.

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