sábado, 4 de junho de 2011

Livros e Mar: eis o meu elemento! (41)

O Jardim dos Finzi-Contini, através das recordações do narrador, leva-nos a Ferrara, em Itália, no final dos anos 30. Os Finzi-Contini, uma família da burguesia judaica italiana, abre as portas da sua mansão a alguns jovens judeus depois de terem sido promulgadas as leis raciais. Estas leis, além de proibirem os matrimónios mistos, excluíam os jovens judeus de todos os estabelecimentos de ensino do Estado, dispensava-os do serviço militar, não podiam figurar nas listas telefónicas, manter criadas de raça ariana, frequentar círculos recreativos de nenhum género. Assim, o jardim transforma-se, não só num espaço de convivência dos jovens, que aproveitam o tempo a jogar ténis, como também no pilar das suas vidas, principalmente do narrador, que mantém, como um vício tão necessário como inconfessado, uma paixão, não correspondida, pela filha da família Finzi-Contini. Era neste refúgio, entre áleas, olmos, tílias, carvalhos, castanheiros e plátanos, densos e melancólicos, que o tempo passava como se para lá dos muros nada de mal ou desumano estivesse para acontecer. Enquanto isto, a Europa caminhava para a guerra.
No prólogo, ficamos a saber que o autor, no decurso de uma das costumadas passeatas de fim-de-semana, retrocedeu no tempo, chamando as suas lembranças do Verão de 1938. [Desde há muitos anos desejo escrever acerca dos Finzi-Contini – Micol e Alberto, o professor Ermano e a Senhora Olga – e acerca de quantos habitavam ou frequentavam como eu a casa da Avenida Ercole I d’Este, em Ferrara, pouco antes de rebentar a última guerra. Mas a decisão, o impulso para realmente o fazer, só os tive há um ano, num domingo de Abril de 1957. […] É também no prólogo que o autor nos revela o trágico e comovente destino da família Finzi-Contini. […] E o coração apertava-se-me como nunca, ao pensar que naquele túmulo, construído, segundo parecia, para garantir o repouso eterno do seu primeiro proprietário, dele e da sua descendência, um único, de entre todos os Finzi-Contini que eu conhecera e estimara, tinha obtido esse repouso. Na realidade, só tinha ali sido sepultado Alberto, o filho mais velho, falecido em 1942, de um linfogranuloma. Em troca, Micol, a segunda filha, o pai, o professor Ermano, a mãe, a Senhora Olga, e a senhora Regina, a velhíssima mãe paralítica da Senhora Olga, todos deportados para a Alemanha no Outono de 1943, sabe-se lá se teriam encontrado sequer uma sepultura. […]

Finzi
Os Finzi-Contini são uma das mais tradicionais e refinadas famílias da "intelligentsia" judia de Ferrera, nos anos que antecedem a Segunda Guerra Mundial. Com o fascismo a apoderar-se rapidamente de Itália, os seus domínios em torno da mansão - amplos e murados - são o local de prazer e segurança dos últimos da linhagem. No jardim, as personagens surgem ligadas por um destino comum que as isola do resto do mundo. E o jardim não configura apenas o símbolo de refúgio; é também o derradeiro reduto da resistência contra a barbárie fascista. Mas um clima opressivo pressagia a catástrofe e, surda e implacavelmente, os acontecimentos vão precipitar-se. O Verão no jardim afastará temporariamente a treva. E nesse Verão, entre paixões cruzadas, vai nascer um amor não correspondido. "O Jardim dos Finzi-Contini", a obra-prima de Giorgio Bassani adaptada ao cinema por Vittorio de Sica, é um romance sobre o fim de uma ordem social, que evolui com a lenta cadência da memória.

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