sexta-feira, 27 de maio de 2011

Memórias e Afectos (83)

O Parque Infantil do Alvito, situado no Parque Florestal do Monsanto, marcou a minha infância pois foi lugar de muitas brincadeiras durante a década de 60. A primeira vez que lá entrei, ainda ele fazia, apenas, parte do meu imaginário, mas rapidamente passou a fazer parte da minha realidade e das minhas paixões.

Julgava eu que o parque teria nascido na década de 50, mas segundo pesquisas na Internet, foi o primeiro parque infantil de Lisboa e terá sido criado nos anos 40 pelo arquitecto Keil do Amaral, o mesmo que projectou o parque de diversões da Exposição do Mundo Português, e inaugurado pelo Estado Novo. Então, por onde andará a placa de inauguração desse tempo? Só existe esta de 2005?! É estranho… como é que o Santana Lopes inaugurou um espaço onde, certamente, brincou quando era criança?

Com o seu avião, carro dos bombeiros e o eléctrico, este último colocado no Parque Infantil do Alvito em 1961, onde resistiu durante mais de vinte anos, a variedade e abundância de baloiços, o ringue de patinagem, as piscinas, o lago e a esplanada; este espaço fantástico, de vários hectares, expandia-se por três patamares desnivelados e ligados por escadas laterais.

A diversão, nessas idas ao Parque do Alvito, começava assim que entrávamos no carro dos pais da minha amiga T, primeiro um Austin A40 e posteriormente um Austin 1100.

Por vezes, a N. e os pais juntavam-se a nós e creio que, nessa época, o pai da N. guiava um NSU. O mais cómico é que o pai da N., o senhor A., era um bocado nabo a conduzir e para ajudar à festa, nessa altura, o NSU era vulgarmente conhecido por Não Sejas Urso, ou seja, o senhor A. era alvo da chacota do pai da T. Uma vez, propositadamente, deu três voltas ao Marquês de Pombal e o senhor A. sempre atrás! Hilariante…
As tardes, passadas no Parque do Alvito, significavam divertimento e nós nunca deixámos créditos em mãos alheias, só parando para lanchar. Levávamos sempre o lanche de casa e recordo-me lindamente do cesto de verga, comprado na praça da fruta das Caldas da Rainha, que transportava a minha merenda. Enquanto brincávamos, os adultos conversavam, e os cestinhos e lancheiras ficavam nos bancos. À hora do lanche, a fome era negra. Uma vez, lembro-me como se fosse hoje, comecei a comer a sanduíche e senti a língua a picar. Estranhando o facto, abri o pão. A bela da sandocha estava pejada de formigas!... As sacaninhas estavam a banquetear-se com o MEU lanche! Que raiva! Talvez venha daí a minha aversão às formigas… Sim, ok, são grandes e incansáveis trabalhadoras (será por isso que me irritam?), mas eu prefiro mesmo as cigarras. Não têm olheiras, aproveitam o Verão e nunca me apareceram numa sandes… O único defeito que encontro nas cigarras é que não comem formigas…
O jogo “As sete famílias” é outra das carinhosas recordações que tenho dessas tardes no Alvito. A família do pescador, do jardineiro, do sapateiro, do alfaiate… Sempre tive uma invejazinha secreta da N. por ser dona e senhora daquelas cartas, mas o mais absurdo é que nunca as pedi de presente. Muitos anos mais tarde, decerto devido a uma frustração de infância, acabei por comprá-lo numa versão dos anos 90, contudo, já sem o encanto e o fascínio que eu tanto invejava naqueles distantes anos 60…

Quem conheceu o Monsanto de outros tempos, não desconhecerá que ali existiu um circuito de provas automobilísticas, o Circuito de Monsanto, mais tarde o Circuito de Montes Claros. Passava pela auto-estrada do Estádio Nacional (actual A5), estrada do Alvito, estrada de Montes Claros (Alameda Keil do Amaral), estrada do Penedo e terminava na estrada dos Marcos.

Quem diria que por aquelas estradas já passaram nomes consagrados do automobilismo nacional e não só? Decerto que se lembram de Joaquim Filipe Nogueira. Mais tarde teve um programa de prevenção rodoviária, na televisão, que se chamava “Sangue na Estrada”. Quem diria que pelas estradas do Monsanto já passaram ases do volante? E que ali já houve público entusiasta batendo palmas? O que as árvores do Monsanto já testemunharam...

(imagens cedidas "gentilmente" pelo Arquivo Fotográfico de Lisboa, outras roubadas "gentilmente" por mim)

8 comentários:

jmsc disse...

Olá. O Monsanto ( tanto o parque como o Circuito ) também fazem parte das minhas memórias ( e afectos ). Como vivia em Alcântara até a pé ia até lá. E havia tudo isso a que te referes e também uma piscina que aos domingos fervilhava de miúdos. O circuito também era meu poiso e lembro principalmente Manuel Gião no seu cooper s. Assisti à morte de Tim Cash, em 1967, a poucos metros. Mas agora andam a inaugurar a minha longinqua infância?...

Pezinhos na Areia disse...

É verdade, meu amigo, até parece que o Parque Infantil do Alvito só passou a existir há meia dúzia de anos...

Vespinha disse...

Ando à procura de imagens dos escorregas, que na minha memória são enormes mas acho que eram mesmo. Onde poderei encontrá-las?

Pezinhos na Areia disse...

Olá Vespinha

Gostava de ser útil, mas, lamentavelmente, também não os encontrei...
As imagens que tenho foram roubadas no Arquivo Fotográfico de Lx e por lá também não vi os famosos escorregas. Quando publiquei este "post" fiz uma pesquisa mais ou menos exaustiva e não encontrei nada de relevante.
Se conseguir, diga-me qq coisa.

Um abraço

Bernardo Oliveira Nunes disse...

ainda bem que retiraram o eléctrico dali, hoje em dia está muito melhor!! Foi todo restaurado e podem observá-lo no Museu da Carris, é exemplar único, com a vantagem de poderem entrar nele e tocar à campainha, recordando os velhos tempos.

https://picasaweb.google.com/lh/photo/bH6ugKq7hpEI_BDvXYCjI9MTjNZETYmyPJy0liipFm0?feat=directlink

O avião creio encontrar-se no Museu da Marinha

Pezinhos na Areia disse...

Concordo consigo, mas que me deu muito gozo brincar nele nos anos 60 não posso negar...

Obrigada pela visita!

Paulo disse...

Olá.

Como se chama o baloiço na quinta foto? Quando era miúdo chamávamos-lhe jiga. Estou farto de procurar no google e nada.

Antigamente, havia um em cada parque infantil. Hoje não se veem em lado nenhum. Porque será?

Abs.
P.

Pezinhos na Areia disse...

Olá Paulo,
Nos longínquos anos 60 chamávamos-lhe "bate ferro" e garanto-lhe que tinha algum receio de andar nele quando miúdos mais doidivanas e aventureiros iam em pé nas extremidades ;)
Curiosamente, eram os meus sítios preferidos porque me sentia com menos probabilidades de bater com a cabeça num ferro...
Obrigada pela sua visita!