quinta-feira, 26 de maio de 2011

Educação alternativa (3)

O Clube de Cinema
Autor - David Gilmour
Copyright 2011, da tradução e da edição portuguesas by Editora Caminho SA, uma chancela da Bertrand Editora, Lda.
1ª edição, Fevereiro de 2011

[…] Alguns filmes desiludem-nos; talvez estivéssemos apaixonados ou a viver um desgosto amoroso na altura; o mais provável é termos estado a viver um momento muito marcante quando os vimos pela primeira vez porque agora, num período diferente da vida, a magia desapareceu. […]
[…] Mas alguns filmes ainda despertam as mesmas emoções; ainda nos fascinam anos e anos depois. Mostrei-lhe Os Cavaleiros do Asfalto (1973), um filme realizado por Martin Scorsese no início da sua carreira. Retrata como é crescer na violenta e machista Little Italy de Nova Iorque. Há uma sequência quase no princípio do filme que nunca esqueci. […]

[…] …Audrey Hepburn na escada de incêndio de um prédio de apartamentos de Manhattan em Boneca de Luxo (1961), com o cabelo embrulhado numa toalha de banho, dedilhando suavemente uma guitarra. A câmara abarca tudo, as escadas, os tijolos do prédio, aquela rapariga magra; a seguir passa para um plano médio, só de Audrey, e depois, zás! Um close-up completo, e a cara dela enche o ecrã. Aquelas maças do rosto de porcelana; aquele queixo aguçado; os olhos castanhos. Pára de tocar e levanta os olhos, surpreendida, na direcção de alguém que está para lá da câmara. “Olá”, diz ela, suavemente. É por momentos como estes que as pessoas vão ao cinema; vê-se uma vez, seja em que idade for, e nunca mais se esquece. É um exemplo daquilo que os filmes são capazes de fazer, de como conseguem quebrar as nossas barreiras e partir-nos o coração. […]

[…] Elaborei uma unidade de “Imobilidade” para vermos. Trata-se de como se destacar dos outros actores numa cena sem se mexer. Comecei, naturalmente, por O Comboio Apitou Três Vezes (1952). Há coincidências felizes nos filmes, em que tudo parece perfeito. O argumento certo, o realizador certo, o elenco certo. […]
[…] Frisei que havia coisas fantásticas e muito artísticas no filme a que era importante prestar atenção. As imagens dos trilhos vazios da linha do comboio. Estão sempre a aparecer ao longo do filme. É uma maneira silenciosa e subtil de criara uma sensação de perigo. De cada vez que vemos os trilhos, somos recordados de que é daquela direcção que virá o perigo. O mesmo se passa com os relógios. Tiquetaque, tiquetaque. Chegam a abrandar a cadência quando o meio-dia se aproxima. […]

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