Um Dia da Mãe sem lugar para culpas (por Isabel Stilwell)
Este ano o Dia do Trabalhador e o Dia da Mãe ficam a vinte e quatro horas de distância. É justo. Ninguém trabalha mais do que as mulheres que têm filhos pequenos, e um estudo feito há alguns anos pela socióloga Anália Torres, dava conta de que também ninguém anda mais cansado do que elas. Mas o duplo turno que acumulam, e que leva a que só tenham , por dia, pouco mais de uma hora para si mesmas, não conta nem metade da história. Fala do trabalho braçal, mas não da vida mental de uma mãe, que se assemelha a um vulcão em constante ebulição.
O primeiro ponto a ter em conta é que não voltamos a ser a mesma pessoa depois de termos um filho. Nunca mais olhamos para o mundo da mesma maneira, nunca mais comemos da mesma maneira, nunca mais acabamos um pensamento...
O amor que sentimos pelos nossos filhos só pode ser mágico, porque se não houvesse aqui magia, e da poderosa, havia momentos em que não resistiríamos a pendurá-los na corda da roupa, tal a capacidade que têm para nos tirar do sério. Mas o mais difícil de suportar, e não melhora com a idade dos filhos, é a pergunta incessante que nos martela o cérebro: "Será que estamos a fazer bem?", "Será que ele vai ser um adulto feliz, realizado e capaz de dar felicidade aos outros?"
Este assumir total da responsabilidade por aquilo que os nossos filhos são, como se não existissem nem pai, nem amigos, nem genes, rouba-nos demasiadas vezes o prazer de estar apenas com eles, sem sermões, nem lições de moral. Esta culpa por um lado agiganta os problemas, por outro impede-nos de educar com segurança. Por vezes, nesta ânsia, fechamo-los em gaiolas ou contagiamo-los com a nossa ansiedade.
Comece já este domingo a treinar-se a viver o momento, a confiar que lhes deu o melhor de si, e que eles vão saber usar (à sua maneira) essa herança, para se tornarem nos mais fantásticos dos seres humanos. Ou não fossem seus filhos.
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