“A Elegância do Ouriço” de Muriel Barbery. Tirando algumas reflexões e questões filosóficas (compreende-se porque a autora é professora de filosofia, eu é que não aprecio...) a narrativa intercalada a duas mãos é deliciosa. Renée Michel, 54 anos, porteira de um prédio elegante em Paris, é apaixonada por literatura russa (em particular Tolstoi), filosofia, pintura holandesa, cinema japonês e chá de jasmim, e Paloma Josse, moradora no mesmo prédio, vive com os pais e a irmã, gosta de banda desenhada japonesa e é uma menina rica de 12 anos com uma inteligência acima da média que, ou encontra um sentido para a vida ou comete suicídio no dia do seu aniversário. Ambas são pessoas cultas, sensíveis e inteligentes que tentam a todo o custo esconder a verdadeira riqueza interior, aptidão intelectual e as suas personalidades fortes. É através destas duas personagens que ficamos a conhecer a vida e as particularidades dos outros habitantes do prédio. A grande amiga de Renée é Manuela, uma mulher-a-dias portuguesa com uma pitada aristocrática e algo requintada, que trabalha no mesmo prédio. Renée e Paloma acabam por ser “descobertas” pelo senhor Ozu, um novo morador de nacionalidade japonesa, que, compactuando com o “disfarce”, mantém o segredo e faz amizade com as duas, e estas, apesar de viverem em mundos opostos, têm tanto em comum que acabam também por se tornar amigas.
Julgo que existe uma enorme improbabilidade de nos cruzarmos com uma Renée e/ou uma Paloma. Ao escrever isto estou a ser preconceituosa, mas não é credível encontrar uma porteira erudita e uma menina de 12 anos com capacidades intelectuais acima do normal. Peço desculpa por esta minha opinião não ter nenhum fundamento sólido, mas parece-me realmente utópico. Pessoas destas não encaixam na nossa sociedade, não me parece que possam ser reais. No entanto, sabendo que a ficção é uma constante da escrita, ao longo do livro acabei por me esquecer destes pormenores.
Muito curioso os nomes que Muriel Barbery escolheu para as duas irmãs, Paloma e Colombe, línguas diferentes, mas o mesmo significado.
“A Elegância do Ouriço”é culto, mordaz e emocionante. Um livro espirituoso, uma leitura encantadora, um livro para quem gosta mesmo de ler…
“ A senhora Michel tem a elegância do ouriço: exteriormente, está coberta de espinhos, uma autêntica fortaleza, mas pressinto que, no interior, também é tão requintada como os ouriços que são uns animaizinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes.”
É num edifício situado num bairro rico de Paris e habitado por uma burguesia rica e snobe, que decorre este emocionante romance contado a duas vozes. Alternadamente, as duas protagonistas vão dando a conhecer o seu bairro e as pessoas que as rodeiam. Renée é uma porteira de 54 anos, cultíssima autodidacta e apaixonada pela pintura naturalista holandesa, por filosofia, pelo cinema japonês e uma devoradora de livros. Paloma, a segunda protagonista, é uma adolescente de 12 anos, astuta, que percebe mais do mundo à sua volta do que aquilo que aparenta, e que deseja suicidar-se no dia do seu décimo terceiro aniversário. Entre a aparente humildade e ignorância de Renée e de Paloma, aparece um novo morador no prédio: o senhor Ozu, um japonês que inicia uma relação de amizade com ambas, formando-se um pequeno trio que terá para todos um papel redentor. Um livro terno, divertido e com personagens que irão cativar os leitores desde a primeira página.
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