Temporariamente, mas impreterivelmente à mesma hora, tomo a bica da manhã num pequeno Café que fica mesmo em frente à clínica de fisioterapia onde vou, diariamente, fazer os tratamentos.
O Café é frequentado, essencialmente, por idosos e reformados, todos eles simpáticos e bem dispostos. Quando me vêem chegar, arranjam logo lugar para me sentar e há mesmo uma senhora, na casa dos setenta anos, que tem prazer em me ajudar, segurando nas canadianas e pedindo o meu cafezinho ao senhor António, o proprietário, também ele uma pessoa afável.
Hoje, a senhora, que geralmente fala muito, estava determinada a falar ainda mais e fez questão que me sentasse na sua mesa. Não tive coragem para recusar, apesar de estar com um bocado de pressa. Seria até uma falta de cortesia da minha parte para quem tem sido sempre tão prestável. Habitualmente, gosto de conversar com pessoas que já viveram muito pois têm uma experiência de vida muito enriquecedora e, por vezes, conseguem surpreender-me com as suas intervenções e rasgos de lucidez.
Hoje, a senhora, que geralmente fala muito, contou-me que era viúva e o seu único filho tinha falecido com trinta e dois anos. Sentia-se sozinha e frequentava o café para conversar um bocadinho e para ver gente. Pouco falei e o que lhe disse não passaram de frases feitas... Perguntou-me se era casada e respondi-lhe que era divorciada (o estado civil que consta no bilhete de identidade é DIV, não sei se poderei dizer que pertenço aos DIVertidos...). Por breves instantes e pelo semblante dela, pensei que me ia insultar, mas enganei-me...
Olhou para mim bem nos olhos e, numa tirada, proferiu aquilo que eu já sabia, mas nunca menciono, nem penso muito, "Precisa de ter uma pessoa para partilhar os problemas, as alegrias e confidências. Ainda é muito nova para estar sozinha..."
Sorri-lhe e disse meia dúzia de tolices já ensaiadas para estas ocasiões. Aproveitei o facto de estar em cima da hora do tratamento para "sair de fininho". As palavras dela continuam a ecoar na minha cabeça... No entanto, já dizia Saint- Exupéry que "amor não é olharem um para o outro, mas sim olharem na mesma direcção." Difícil!!!... Só alguém muito especial me faria voltar atrás na minha máxima "cuecas de homem no estendal jamais!" Mas pronto, às vezes os milagres dão-se...
Espero que na quinta-feira a senhora não volte à carga... ou terei que mudar de Café...
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