... do que um preconceito, já dizia Einstein. Eu concordo. É sempre mais fácil modificar o que é material do que a nossa maneira de pensar, a nossa essência.
Não tenho por hábito ler críticos de cinema nem críticos de música. Já li, mas presentemente a atenção que lhes dispenso é zero!... Hoje em dia, nem consigo vislumbrar nenhum interesse nesse estatuto profissional. Mesmo que a crítica seja séria e responsável, continuo a afirmar que os críticos são perfeitamente dispensáveis. Em primeiro lugar porque, até à presente data, ajuízo e desenvolvo as minhas próprias ideias e não necessito que me impinjam patranhas. Em segundo lugar, porque estou convicta de que os críticos se limitam a dizer bem quando o realizador, o músico ou o artista faz o que eles esperavam que fizesse e limitam-se a dizer mal quando fazem o contrário. As simpatias e antipatias levam quase sempre ao facciosismo e, portanto, à falta de rigor. Resumindo, as críticas acabam por não ser imparciais e justas e eu não estou minimamente interessada em ler os devaneios e conhecer as preferências, sejam de cinema ou música, dos críticos.
É um preconceito? Muito provavelmente, sim!
Resolvi ultrapassar este preconceito e ler as críticas feitas ao concerto de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, talvez porque a minha filha R. foi assistir ao espectáculo.
O baile de orgulho de Lady Gaga e os seus “monstrinhos” era o título da crítica de Nuno Galopim do Diário de Notícias. Mário Rui Vieira da revista Blitz escreveu Coqueluche da pop made in USA cilindrou o público lisboeta. Espectáculo de extremos – sem playbacks – marcou a estreia de Gaga frente aos "pequenos monstrinhos" portugueses.
Qualquer um deles conseguiu escrever um texto sem difamar a cantora norte-americana e sobretudo sem ofender os fãs. Sei que é difícil ser imparcial. Formar opiniões e ser tendencioso são defeitos de qualquer ser humano, mas julgo que alguns críticos deveriam ser mais contidos nas palavras. O crítico musical do Público, o inconveniente senhor João Bonifácio, não fez uma, mas duas apreciações negativas e comentários depreciativos à cantora, à música e, mais chocante ainda, a todos os que se deslocaram ao Pavilhão para desfrutar do concerto, como se estivesse a conversar com os amigos ou a opinar num blogue…
Principiou os dois textos com cabeçalhos a ridicularizar a cantora (A glorificação da aspirante a freak e Lady Gaga: A tia louca da família), entusiasmou-se e não conseguiu abster-se de achincalhar tudo e todos. No primeiro texto escreveu, com um toque irónico, que foi curioso ver mães e filhas pré-púberes a cantar alegremente letras como “I’m a freak bitch”, passou por a persona Gaga, espécie de padroeira dos freaks e ainda debitou canções techno-pop de batida xunga. No segundo texto voltou à chacota e iniciou-o do seguinte modo: Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo” (alusão às fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora). Que coisa é esta que faz o Pavilhão Atlântico encher-se de meninas pré-adolescentes e respectivas mães a cantarem “I’m a freak bitch” acompanhadas em cada sílaba pelas filhas, aparentemente sem repararem no teor das letras (ou reparando e não se importando)? De Lady Gaga disse ainda Ela é, à vez, pregadora ao jeito da IURD, girl-next-door, patinho feio que deveio cisne, freak que nunca será igual aos outros. Terminou a crítica de uma forma pouco polida e grosseira: tal como cada um de “vós”, ela era um patinho feio e ninguém acreditava nela mas depois, bem depois, continua um patinho feio.
Pela leitura dos textos e juízos do senhor Bonifácio, cheguei à conclusão que sou mãe de uma adolescente freak que ouve canções de batida chunga (e não xunga!...), com a agravante de a deixar cantarolar, consciente ou inconscientemente, músicas com letras indecentes… No entanto, não compreendo a “farpa” porque Lady Gaga não tem a exclusividade. E se a minha filha trautear as letras de Quim Barreiros e Saul? Essas são divinais, para além de que estará ciente do que está a trautear...
Não sei qual a idade do senhor Bonifácio, mas no que diz respeito à supracitada “antiga” lengalenga (e não lenga-lenga!...), não tenho nenhuma lembrança, embora recorde lindamente algumas clássicas da minha meninice, como, por exemplo, “O senhor é parvo…”
Do ponto de vista do senhor Bonifácio, os adolescentes que assistiram ao concerto não passam de anormais, pois é inaceitável, no seu entender, gostar de Lady Gaga.
Sou mãe de uma adolescente que não é freak, é uma fã perfeitamente normal. Já estou na faixa etária dos 50, não fui ao concerto, não sou fã, adoro Pink Floyd, Sting, U2, Genesis, Queen, Camel, Vangelis, Emerson, Lake & Palmer, mas não vivo presa ao século passado e julgo que é perfeitamente possível as bandas imortais conviverem pacificamente com as bandas recentes.
Bryan Ferry, vocalista dos Roxy Music, disse, em entrevista ao Gigwise, que a cantora é um exemplo supremo de um músico que conseguiu juntar música e arte. Ainda bem que Bryan Ferry tem capacidade para entender e respeitar qualquer artista, ainda bem que não tem preconceitos e não se assemelha a uma avis rara que só deve gostar de ouvir rarae aves…
Já passei dos 50 e gosto de algumas músicas de Gaga, como Alejandro, Bad Romance ou Poker Face…Sou estranha? Chunga? Não é a música que ouvimos nem os concertos a que assistimos que nos faz melhores ou piores pessoas. Isso é um preconceito… O hábito não faz o monge e a minha consciência é muito mais importante que a minha reputação.
Não tenho por hábito ler críticos de cinema nem críticos de música. Já li, mas presentemente a atenção que lhes dispenso é zero!... Hoje em dia, nem consigo vislumbrar nenhum interesse nesse estatuto profissional. Mesmo que a crítica seja séria e responsável, continuo a afirmar que os críticos são perfeitamente dispensáveis. Em primeiro lugar porque, até à presente data, ajuízo e desenvolvo as minhas próprias ideias e não necessito que me impinjam patranhas. Em segundo lugar, porque estou convicta de que os críticos se limitam a dizer bem quando o realizador, o músico ou o artista faz o que eles esperavam que fizesse e limitam-se a dizer mal quando fazem o contrário. As simpatias e antipatias levam quase sempre ao facciosismo e, portanto, à falta de rigor. Resumindo, as críticas acabam por não ser imparciais e justas e eu não estou minimamente interessada em ler os devaneios e conhecer as preferências, sejam de cinema ou música, dos críticos.
É um preconceito? Muito provavelmente, sim!
Resolvi ultrapassar este preconceito e ler as críticas feitas ao concerto de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, talvez porque a minha filha R. foi assistir ao espectáculo.
O baile de orgulho de Lady Gaga e os seus “monstrinhos” era o título da crítica de Nuno Galopim do Diário de Notícias. Mário Rui Vieira da revista Blitz escreveu Coqueluche da pop made in USA cilindrou o público lisboeta. Espectáculo de extremos – sem playbacks – marcou a estreia de Gaga frente aos "pequenos monstrinhos" portugueses.
Qualquer um deles conseguiu escrever um texto sem difamar a cantora norte-americana e sobretudo sem ofender os fãs. Sei que é difícil ser imparcial. Formar opiniões e ser tendencioso são defeitos de qualquer ser humano, mas julgo que alguns críticos deveriam ser mais contidos nas palavras. O crítico musical do Público, o inconveniente senhor João Bonifácio, não fez uma, mas duas apreciações negativas e comentários depreciativos à cantora, à música e, mais chocante ainda, a todos os que se deslocaram ao Pavilhão para desfrutar do concerto, como se estivesse a conversar com os amigos ou a opinar num blogue…
Principiou os dois textos com cabeçalhos a ridicularizar a cantora (A glorificação da aspirante a freak e Lady Gaga: A tia louca da família), entusiasmou-se e não conseguiu abster-se de achincalhar tudo e todos. No primeiro texto escreveu, com um toque irónico, que foi curioso ver mães e filhas pré-púberes a cantar alegremente letras como “I’m a freak bitch”, passou por a persona Gaga, espécie de padroeira dos freaks e ainda debitou canções techno-pop de batida xunga. No segundo texto voltou à chacota e iniciou-o do seguinte modo: Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo” (alusão às fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora). Que coisa é esta que faz o Pavilhão Atlântico encher-se de meninas pré-adolescentes e respectivas mães a cantarem “I’m a freak bitch” acompanhadas em cada sílaba pelas filhas, aparentemente sem repararem no teor das letras (ou reparando e não se importando)? De Lady Gaga disse ainda Ela é, à vez, pregadora ao jeito da IURD, girl-next-door, patinho feio que deveio cisne, freak que nunca será igual aos outros. Terminou a crítica de uma forma pouco polida e grosseira: tal como cada um de “vós”, ela era um patinho feio e ninguém acreditava nela mas depois, bem depois, continua um patinho feio.
Pela leitura dos textos e juízos do senhor Bonifácio, cheguei à conclusão que sou mãe de uma adolescente freak que ouve canções de batida chunga (e não xunga!...), com a agravante de a deixar cantarolar, consciente ou inconscientemente, músicas com letras indecentes… No entanto, não compreendo a “farpa” porque Lady Gaga não tem a exclusividade. E se a minha filha trautear as letras de Quim Barreiros e Saul? Essas são divinais, para além de que estará ciente do que está a trautear...
Não sei qual a idade do senhor Bonifácio, mas no que diz respeito à supracitada “antiga” lengalenga (e não lenga-lenga!...), não tenho nenhuma lembrança, embora recorde lindamente algumas clássicas da minha meninice, como, por exemplo, “O senhor é parvo…”
Do ponto de vista do senhor Bonifácio, os adolescentes que assistiram ao concerto não passam de anormais, pois é inaceitável, no seu entender, gostar de Lady Gaga.
Sou mãe de uma adolescente que não é freak, é uma fã perfeitamente normal. Já estou na faixa etária dos 50, não fui ao concerto, não sou fã, adoro Pink Floyd, Sting, U2, Genesis, Queen, Camel, Vangelis, Emerson, Lake & Palmer, mas não vivo presa ao século passado e julgo que é perfeitamente possível as bandas imortais conviverem pacificamente com as bandas recentes.
Bryan Ferry, vocalista dos Roxy Music, disse, em entrevista ao Gigwise, que a cantora é um exemplo supremo de um músico que conseguiu juntar música e arte. Ainda bem que Bryan Ferry tem capacidade para entender e respeitar qualquer artista, ainda bem que não tem preconceitos e não se assemelha a uma avis rara que só deve gostar de ouvir rarae aves…
Já passei dos 50 e gosto de algumas músicas de Gaga, como Alejandro, Bad Romance ou Poker Face…Sou estranha? Chunga? Não é a música que ouvimos nem os concertos a que assistimos que nos faz melhores ou piores pessoas. Isso é um preconceito… O hábito não faz o monge e a minha consciência é muito mais importante que a minha reputação.
Prepotência, o que é? E má educação? Em Maio deste ano, num debate na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas subordinado ao tema da Crítica musical, João Bonifácio entrou em rota de colisão com um colega e, visivelmente irritado, saiu batendo a porta com estrondo atrás de si.
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