domingo, 6 de setembro de 2009

Livros e Mar: eis o meu elemento! (15)

Um livro excelente, que desmistifica a Índia lírica que idealizamos. Deixo uma pergunta no ar: Como é que Aravind Adiga, de 35 anos, que viveu parte da sua vida na Austrália e nos Estados Unidos, consegue narrar, com tanto detalhe e intensidade, as desigualdades socioculturais da Índia? Não me canso de classificar este livro como excelente...

"O Tigre Branco" arrebatou por unanimidade o Man Prémio Booker Prize de 2008, um dos mais prestigiados galardões literários a nível mundial. Ainda antes da sua nomeação para o prémio, era já apontado como um dos melhores romances do ano e Aravind Adiga como uma grande revelação e um extraordinário romancista. Romance de estreia, entrou de imediato nas preferências dos críticos, que o classificaram como "uma estreia brilhante e extraordinária". O livro revela uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais. Toda a obra é uma longa carta dirigida ao primeiro-ministro chinês, escrita ao longo de sete noites. O autor da carta apresenta-se como o tigre branco do título, e auto-denomina-se um "empreendedor social". Descrevendo a sua notável ascensão de pobre aldeão a empresário e empreendedor social, o autor da carta, Balram, acaba por fazer uma denúncia mordaz das injustiças e peculiaridades da sociedade indiana. Fica assim feito o retrato de uma sociedade brutal, impiedosa, em que as injustiças se perpetuam geração após geração, como uma ladainha que se entoa incessantemente ao ritmo de uma roda de orações. São muito poucos os animais que conseguem abrir um buraco na vedação e escapar ao destino do cárcere eterno. O Tigre Branco é um deles.


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