terça-feira, 29 de setembro de 2009

Caixinha de surpresas

Quando julgo que o meu pai está completamente alheado e indiferente a tudo, apanha-me desprevenida e zás… ataca de surpresa!
Quando julgo que o meu pai já não me pode surpreender, apanha-me desprevenida e zás... surpreende-me!
Consegue surpreender-me… com 96 anos e doente! E consegue fazê-lo com alguma classe…
Ainda no hospital, pediu ao meu irmão para lhe levar um jornal. Quando lhe perguntei se o tinha lido, disse-me que tinha feito uma leitura à vol d’oiseau
Perante o meu ar ignorante, explicou-me que era uma expressão (idiomática) francesa que queria dizer “olhadela rápida”, “de relance”, “vista de olhos” (o mesmo que ler na diagonal).
Fiquei atarantada, a sério… Achei espantoso o facto de aquilo lhe ter saído sem qualquer esforço no meio do discurso, para além de continuar a contribuir para os meus conhecimentos.
Já em casa, depois de lhe ter dado uma explicação, sobre qualquer coisa que já nem recordo, perguntei-lhe se tinha percebido (deveria ter dito “ouvido”, porque ele é surdo). Respondeu-me, como se eu o estivesse a tomar por tonto: “Ouvi o que tu disseste e, como o ouvido médio está ligado ao cérebro, percebi muito bem…”
Fiquei perplexa!
Não que a dedução tenha algo de excepcional ou transcendente, mas porque foi feita com uma grande clareza de raciocínio…

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