terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma aventura na cozinha…

Aposto que este título nunca passou pelas cabeças de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada…
Poderia ser levada a pensar que numa cozinha nunca se passará nada digno de ser contado num livro, muito menos uma aventura… mas julgo que não será bem assim.
Recordo o extraordinário filme “Janela Indiscreta”, do grande mestre do suspense, com uma duração de 112 minutos, todo ele passado num apartamento, aliás, numa sala…coscuvilhando a vida dos vizinhos…
Ora, as traseiras do meu prédio têm, seguramente, todas as condições para um bom filme de suspense, até há bem pouco tempo desapareceu de circulação um dos vizinhos que cuidava de uma hortinha…
Como é habitual, estou a desviar-me do assunto, ou seja, da aventura na cozinha.
A manhã corria calma na cozinha.
Pudera, era domingo e eu dormia!
Meto a 1ª, que é uma coisa mais ou menos parecida com o primeiro sono. Quando meto a 5ª, que é uma coisa mais ou menos parecida com o sono profundo, ninguém me agarra… lá vou eu até me faltar a gasolina, que é como quem diz, até acordar sem sono…
Como eu estava a escrever, a manhã corria calma na cozinha… Depois do meio-dia ainda é de manhã?
Levantei-me, dirigi-me à cozinha, onde a manhã corria calma e, com o ar de “zombie” que me caracteriza nestas manhãs de domingo, pensei que seria melhor saltar o pequeno-almoço e começar a fazer o almoço, dado o adiantado das horas… Minto! Achei que o meu arzinho obtuso só desapareceria depois de tomar banho e beber um café e foi isso mesmo que fiz.
Voltando à manhã, que por acaso já era tarde, que corria calma na cozinha, encafuei no forno o “piano” ou o “teclado”, enfim, aquela parte do entrecosto que tem nome de instrumento musical…
So far so good…
Acompanhamento para o “piano”? Nada melhor, pensei eu, que uma “bateria” de batatinhas fritas!...
A ideia não foi boa mas como a bica ainda não tinha surtido efeito, eu insisti na fritura.
Óleo ao lume a aquecer e eu a cirandar por ali a fazer nem sei o quê…
O óleo aqueceu mais que a conta, mas como a bica continuava a não produzir efeito (o café anda mesmo adulterado…), não me apercebi e espetei com as batatinhas lá para dentro…
É pá! O óleo não gostou e desatou a ferver e a dar de frosques da frigideira, fogão abaixo…
Tive uma subida tão súbita de adrenalina que nem senti os salpicos de óleo fervente no braço quando tentei, com êxito, apagar o lume.
Os impropérios que me saíram da boca e as pragas que roguei a mim própria ter-se-ão ouvido nas traseiras, pois tinha a janela aberta e uma janela aberta é sempre uma janela indiscreta… Durante os próximos dias tenho a certeza que os vizinhos vão sussurrar à minha passagem:
“lá vai aquela que trata as filhas abaixo de cão”…
Desisti das batatas e fiz arroz, que felizmente não tentou fugir panela fora…
Uma parte da tarde de domingo, já por si dia de desespero porque antecede a 2ª feira, foi passada a limpar o fogão empapado em óleo e os arredores do fogão…
Não almocei. As asneiras que ficaram por dizer, atravessadas na garganta, desceram e taparam-me a boca do estômago…
Ainda bem que a Ana Maria Magalhães e a Isabel Alçada não escrevem como eu… e que eu não escrevo como elas…
Como diz Ken Follett
“no ramo editorial, quando se alcança um êxito (cof, cof, cof…) a atitude mais prudente é escrever o mesmo género até ao fim da vida”.
Assim como os palhaços não devem aventurar-se a representar Hamlet, eu não deveria aventurar-me a escrever um drama e muito menos na cozinha…

Post-scriptum
Se um dia escrever um livro com o mesmo título de um dos livros das autoras supracitadas será uma tetralogia de “Uma Aventura no Supermercado”…


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