quarta-feira, 19 de junho de 2013

Memórias e Afectos (105)

Era uma vez…

Desde sempre que os livros de histórias fazem parte do imaginário infantil.
Seja porque me recuso a envelhecer (embora o corpo, diariamente, faça questão de me recordar a idade…), seja porque tenho uma costela de Peter Pan, seja porque os livros infanto-juvenis continuam a ter um lugar muito especial no meu coração, seja porque o mundo encantado das histórias me fascina, os livrinhos de histórias da minha infância continuam a fazer parte do meu imaginário…
Guardo com um carinho quase místico os livros infantis que me fizeram sonhar e que resistiram ao passar dos tempos, alguns tão velhinhos e gastos que se aguentam à base de fita-cola, um dos piores inimigos dos livros, ou de cola branca para madeira.
Praticamente todos os livros que conservo em meu poder são da Majora, marca que já aqui salientei e que não me canso de louvar. A Editorial Infantil Majora era, nas décadas de 50 e 60, uma referência no panorama da literatura infantil portuguesa e, presentemente, continua a “dar as cartas” porque, garanto-vos, com conhecimento de causa, que os colecionadores e os saudosistas correm seca e meca para encontrar um livro que lhes falta para completar uma colecção. Não tenho espírito de coleccionista nem conhecimentos sólidos para me aventurar nessa proeza, mas, como sou uma saudosista e considero as numerosas colecções da Majora intemporais, não poupo esforços para tentar completar uma colecção que não cheguei a completar na infância, como são os casos da “Periquito” e da “Formiguinha”, nem resisto a comprar um livrinho da Série Prata que fez, em tempos que já lá vão, parte dos meus (agora, preciosos) bens…

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Na minha infância, a literatura infantil coabitava com brinquedos e jogos sem que nenhum deles fosse relegado para segundo plano. Penso que, hoje em dia, ultrapassada pelas novas tecnologias, a literatura infantil perdeu um pouco aquela magia que tanto me fez sonhar. As gravuras a preto e branco (que eu me apressava a pintar…) deram lugar às imagens coloridas, mas os personagens que, pela sua ambiguidade, me desassossegavam, mas davam emoção às histórias, desapareceram, e com elas desapareceu o fascínio que eu encontrava nas páginas dos livros infantis… As madrastas, dos contos infantis, eram, invariavelmente, más como as cobras. Curiosamente, a minha mãe e os meus tios tinham madrasta, uma senhora afável que em nada se assemelhava às madrastas das histórias, o que, na minha inocência, me parecia um contra-senso, pois escapava ao estereótipo a que me habituara…

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Nessa época despreocupada, em que eu era muito feliz sem o saber (se calhar Portugal também…), eu vivia à margem do que se passava no país, não sabia que o Estado Novo era um sistema político, não sabia que vivíamos um período opressivo e não sabia o que era o lápis azul da censura, razão pela qual nunca me interessou saber o que queria dizer “Visado pela Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores”…
Recordo as histórias que mais me marcaram e, quase a adormecer, no silêncio da noite, sou ainda capaz de escutar palavras encantadas na voz meiga do meu avô R. ou na voz firme da minha madrinha e, deixando a minha imaginação correr, entro no mundo fantástico dos contos…

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