terça-feira, 19 de março de 2013

Ternas lembranças II

Neste dia dedicado aos Pais, revelo o meu contributo para o segundo encontro familiar mensal (23/02/2013) de homenagem ao meu falecido pai, no ano em que comemoramos o seu centésimo aniversário.

Neste nosso segundo encontro familiar de tributo pos mortem ao meu pai, no ano do seu centésimo aniversário, abordo uma questão penosa, as suas imperfeições. Peguei neste tema porque foi motivo de diálogo no nosso primeiro encontro em Janeiro e não quis deixar passar a oportunidade de, generalizando, ajuizar as suas falhas.
Certamente, a minha já pouca ingenuidade não me permite olhar para o meu falecido pai como um poço de virtudes, um herói sem mácula, um ser perfeito, um marido exemplar, um pai irrepreensível. Sei que o meu pai terá errado ao longo da sua duradoura vida, mas quem nunca errou que atire a primeira pedra. Evidentemente que “santificá-lo” depois do seu falecimento seria tarefa pouco árdua. A morte tem o dom de nos tornar pessoas de bem. Por algum processo congénito ou químico, que desconheço, acontece, com frequência, a morte transformar pessoas intragáveis e hediondas em excelentes pessoas. Não é o caso.
O balanço que faço em relação aos defeitos e às virtudes do meu pai é positivo, com o prato da balança a pender para os princípios morais.
Tomo como exemplo a história de dois vasos, cada um deles suspenso nas extremidades de uma vara. Um deles era perfeito, o outro era rachado. O vaso perfeito chegava a casa sempre cheio de água. O vaso rachado chegava quase sempre vazio, mas graças a esse defeito cresciam belas flores na beira do caminho por onde passava diariamente…
O meu pai não foi um “vaso” perfeito, naturalmente tinha os seus defeitos, mais acentuados na meia-idade e mais esbatidos na velhice, ou será que foi ao contrário e eu já não me recordo?
O meu pai não foi um “vaso” perfeito, mas as suas imperfeições também contribuíram para o meu crescimento, comportamento e amadurecimento como ser humano. O meu pai não foi um “vaso” perfeito, mas foi ele que me incentivou a pensar, que me apontou o caminho da honestidade, que me encorajou sempre a assumir os meus erros, que me deu os melhores conselhos, enfim, que me ensinou a ser quem sou…
O meu pai não foi um “vaso” perfeito, o meu pai foi um “vaso” quebrado e imperfeito que ao longo da vida me foi nutrindo o carácter através de alicerces morais e cívicos com que até hoje pauto a minha vida.
O meu pai foi um “vaso” imperfeito, mas os seus defeitos nunca foram, nem serão, razão suficiente para fazer com que ele deixasse de ser, aos meus olhos, o melhor pai do mundo...

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