sexta-feira, 1 de março de 2013

Message in a bottle (77)

As unhas de gel de Passos Coelho (por Tiago Mesquita no jornal Expresso)

"O feitiço virou-se contra o feiticeiro. Em protesto contra a nova legislação que penaliza com multas até 2000 euros quem não pedir facturas, muitos consumidores começaram a pedir facturas com o número de identificação fiscal de Pedro Passos Coelho. Os dados do primeiro-ministro estão a ser divulgados em SMS e emails que se tornaram virais. As redes sociais estão a propagar o protesto.
Segundo o Correio da Manhã, deram entrada no sistema e-factura "milhares de facturas" com o número de contribuinte do primeiro-ministro, passadas em restaurantes, cabeleireiros e oficinas de automóveis - totalizando milhões de euros em despesas." Público
Pois é, isto de legislar à portuguesa tem quase sempre uma resposta... à portuguesa. A originalidade sempre foi uma das facetas do povo português e isso está a ficar demonstrado nos balcões de pastelaria e nas mesas de restaurante, ao som dos secadores e com um cheiro intenso a óleo de motor impregnado no ar. O protesto, apesar de ilegal, pois configura um crime de falsas declarações, é de tal forma criativo que jornais como o El Pais e o Financial Times já o destacaram nas suas edições. Uma página criada no Facebook denominada "As Facturas do Coelho" vai dando conta das "alegadas" despesas privadas de algumas figuras de Estado.
E ao que parece não é só Pedro Passos Coelho a fazer unhas de gel todo o santo dia, depois de comprar vários quilos de cenouras a granel. Enquanto o primeiro-ministro comprava um corpete e preservativos que davam para um regimento numa sex-shop do Bairro Alto, o ministro Miguel Relvas, em Campolide, colocava extensões pela quinta vez em apenas uma semana. Ao mesmo tempo, comprava um chupa-chupa em Évora. Vítor Gaspar muda o óleo do automóvel de hora a hora e bebe mil e quinhentos cafés por dia, facto que não parece ajudá-lo em relação à acuidade das suas previsões orçamentais, nem tão pouco parece a cafeína em excesso acelerar-lhe o discurso. Passa a vida a recauchutar os pneus e o défice.
A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, também não sobreviveu à onda das facturas: deve ter mais pontos da Galp que uma empresa de camionagem. O ministro Paulo Portas, a julgar pelo dinheiro que gasta em fast food, deve estar a pesar trezentos e cinquenta quilos. A caminho de Viseu, comprou um rapa-tachos.
Mas não fica por aqui. Desde que a legislação se tornou moda pelo célebre discurso do "tomar no cu" proferido pelo ex-secretário de Estado da Cultura, insurgindo-se contra a máquina fiscal do Estado, até o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, parece ter sido "obrigado" a aderir ao e-factura. Um brushing, meia-perna e virilhas, seguidos de um almoço farto na estrada da Guia. Ironias do destino, seguir-se-á a mais que provável fiscalização por gastos superiores aos rendimentos declarados. Se é de lei, é para cumprir.

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