sábado, 17 de abril de 2010

A nova Língua Portuguesa

(Autor anónimo)

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos “afro-americanos”, com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a “empregadas domésticas” e preparam-se agora para receber a menção de “auxiliares de apoio doméstico”. De igual modo, extinguiram-se nas escolas os contínuos que passaram todos a “auxiliares da acção educativa”. Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por “delegados de informação médica”. E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em “técnicos de vendas”. As prostitutas passaram a ser "senhoras de alterne".
O aborto eufemizou-se em “interrupção voluntária da gravidez”; os gangs étnicos são “grupos de jovens”; os operários fizeram-se de repente “colaboradores”; as fábricas, essas, vistas de dentro são “unidades produtivas” e vistas da estranja são “centros de decisão nacionais”.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à “iliteracia” galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes “Conforto” e”Turística”.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante. Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um “comportamento disfuncional hiperactivo”. Do mesmo modo, e para felicidade dos “encarregados de educação”, os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, crianças de desenvolvimento instável.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado “invisual” (o termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos, mas o “politicamente correcto” marimba-se para as regras gramaticais...).
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em “implementações”, “posturas pró-activas”, “políticas fracturantes” e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico. Estamos lixados com este novo português; não admira que o pessoal tenha, cada vez mais, esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma “politicamente correcta”.
Os idiotas e imbecis passam a designar-se por “indivíduos com atitude não vinculativa”. Os pretos passaram a ser pessoas de cor. Os gordos e os magros passaram a ser pessoas com “disfunção alimentar”. Os mentirosos passam a ser “pessoas com muita imaginação”. Os que fazem desfalques nas empresas e são descobertos são “pessoas com grande visão empresarial mas que estão rodeados de invejosos”.
Para autarcas e políticos, afirmar que “eu tenho impunidade judicial”, foi substituído por “estar de consciência tranquila”.
O conceito de corrupção organizada foi substituído pela palavra “sistema”.
Difícil, dramático, desastroso, congestionado, problemático, etc., passou a ser sinónimo de complicado…

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