Praia das Maçãs (II)
Nos finais da década de 60, o meu irmão JC, já sem a VeloSolex, e o numeroso grupo de amigos, continuavam a rumar à piscina da Praia das Maçãs aos fins-de-semana. Julgo que nessa altura a grande maioria deles tinha emprego e automóvel. Os dias eram passados entre banhos, jogos de futebol e diversão, muita diversão.
Desconfio que a afeição que o meu irmão sentia pela Praia das Maças não era recíproca, julgo mesmo que a Praia das Maças não o gramava… (eh eh eh). Faço esta afirmação porque depois da contrariedade com a VeloSolex a caminho dessa mesma praia, o azar voltou a bater-lhe à porta, desta vez com contornos mais graves. Caiu, bateu com a cabeça no chão de pedra e “ganhou” um traumatismo craniano. É verdade, nunca ganhou a lotaria, mas saiu-lhe na rifa uma lesão craniana… Não sei se o traumatismo é responsável pela loucura saudável do meu irmão, mas terá, certamente, dado um contributo, além de o “presentear” com acrofobia…
Como o acidente ocorreu fora do olhar materno, é evidente que a minha mãe não pôde interceder por ele junto do Criador e a coisa deu para o torto…mas, julgo não me enganar ao dizer que nada teria acontecido se a “intermediária” estivesse presente…
Todos sabemos que as lesões cranianas podem ser fatais, mas, felizmente, não foi o caso, embora tenha necessitado de internamento no Hospital de S. José. Sempre vigiado, porque inspirava cuidados, nunca a boa disposição o abandonou. Uma semana após o acidente, pediu alta hospitalar, mas só a obteve através de uma prima do meu pai que era médica e assinou um termo de responsabilidade. As ordens médicas teriam que ser seguidas à risca. Quem o conhece sabe as dificuldades que os familiares passaram para, num período de tempo prolongado, o manter imobilizado numa cama e seguir os conselhos médicos. Teimoso q.b., levantava-se para ir à casa de banho, e foi necessário ameaça-lo com novo internamento para o manter quieto.
Nessa altura ainda eu não fazia parte dos planos do meu irmão porque só servia para empatar, mas, mais tarde, passei a fazer-lhe companhia e garanto-vos que foi uma das fases mais felizes da minha vida. Tal como o criminoso volta sempre ao local do crime, o meu irmão não desistiu e voltou à Praia das Maçãs… Já casado, continuei a acompanhá-lo. Já pai, também. Ele e a minha cunhada quase não me punham a vista em cima. O complexo, localizado numa zona privilegiada, é composto por duas piscinas abastecidas por água salgada e eu passava o dia na piscina principal (com as dimensões de uma piscina olímpica) e na zona delimitada de saltos que tem à volta de 3,50 metros de profundidade.
Nunca o revelei, até hoje, mas sofri um desaire num salto mal executado de uma das pranchas quando, “armada ao pingarelho”, tentei imitar os atletas olímpicos de saltos para a água, em 1972, em Munique… A dor lancinante quase me impediu de nadar até às escadas e estou convencida que a mazela na coluna vertebral dura até aos dias de hoje… Nessa época frequentava a piscina do Sport Algés e Dafundo, uma actividade gratuita da Mocidade Portuguesa, e o meu ídolo era o imbatível nadador olímpico norte-americano Mark Spitz que entrou para a história da natação ao conquistar 7 medalhas de ouro em várias provas, batendo o recorde do mundo em todas. Até hoje só foi superado por Michael Phelps.
O meu prazer pela natação valeu-me uma quadra espirituosa, feita pelo marido da minha prima F., que nunca mais esqueci:
Treina, treina golfinho,
Que também assim treinou
O Dom Fuas Roupinho
Que do “Sítio” se atirou…
A piscina das crianças passou a fazer parte da minha rotina de fim-de-semana quando a minha sobrinha R. começou a dar os primeiros passos, mas o que mais apreciava nessa zona era o Cogumelo cascata com a água abundante sempre a brotar.
Raramente estava junto à família, a não ser para comer, interesse que não negligenciava, pois sempre fui um bom garfo. Presentemente, ainda nos rimos dos meus assaltos-relâmpago à lancheira. Desaparecia num piscar de olhos com uma sandes ou um croquete e ninguém me via até à próxima investida…
Belos tempos, em que as minhas preocupações se limitavam à escola, às tentativas falhadas de vir a ser nadadora olímpica e às ofensivas gastronómicas.
Os dias passados na piscina da Praia das Maçãs foram, deveras, memoráveis…
2 comentários:
Na piscina da Praia das Maçãs apanhei um dos maiores "sustos" aquáticos da minha vida... Armada em esperta, fui mergulhar da prancha mais alta. Só que soltei o ar todo durante a descida, ainda no salto. Podes imaginar a aflição que foi quando entrei dentro de água e o ar já se tinha ido todo...
Oh diabo, isso deve ter sido assustador!
Estou a ver que a piscina da Praia das Maçãs foi cenário de vários sobressaltos que sobrevivem nas nossas memórias…
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