quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os Suspeitos do Costume

Confesso que ainda não tinha tido o prazer de ver esta obra cinematográfica. Confesso que a primeira vez que tentei ver o filme, adormeci. Mea culpa, mea culpa… No domingo à noite enchi-me de brio e vontade e comecei a vê-lo. Confesso que inicialmente estava confusa. Confesso que nos primeiros quinze minutos estive prestes a desistir, mas a carolice falou mais alto e felizmente que assim foi, senão teria perdido uma grande produção cinematográfica. Confesso que não resisti e bisei… Deitei-me tarde, mas os fabulosos desempenhos de Gabriel Byrne, Stephen Baldwin, Benicio Del Toro, Kevin Pollak e do excepcional Kevin Spacey no papel de Verbal Kint, um criminoso aleijado, valeram a pena. Quem é Keyser Soze?…

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Let's look at the trailer (21)

Produzido pela BBC e baseado na biografia do chef Nigel Slater, “Toast” é um filme delicioso, não pelo argumento, mas na verdadeira interpretação da palavra. Passado nos (meus saudosos) anos 60, acompanha a vida de um rapaz que tem grandes aspirações culinárias e uma mãe que é uma péssima cozinheira. Ao perder a mãe, enfrenta dificuldades no relacionamento com o pai e a madrasta, uma cozinheira exemplar, e procura na culinária uma forma de se expressar e superar as contrariedades. Do elenco fazem parte Freddie Highmore, que vimos ainda criança no filme de Tim Burton “A Fábrica de Chocolate” e Helena Bonham Carter, mulher de Burton, que, invariavelmente, está irrepreensível… Saliento uma sequência de iguarias que reflectem o passar dos anos e toda a envolvência em que a acção se insere. Com canções de Dusty Springfield, das quais destaco Wishin And Hopin e Little By Little, a banda sonora é inspiradora e, na minha opinião, resulta muito bem neste filme de época.

Entrevista com o “vampiro”

Eles comem tudo e não deixam nada.

Amanhã cabe ao jornalista José Gomes Ferreira conduzir a entrevista ao primeiro-ministro de Portugal no mesmo dia em que o Orçamento de Estado é votado na globalidade. Tenho Gomes Ferreira, como analista económico, em grande consideração e embora lhe falte um pouco de audácia é o único que consegue simplificar e traduzir o que não entendo da matéria. Por isso, faço questão de assistir! Gostava que ele perguntasse ao primeiro-ministro (ainda não percebi bem se é o Passos ou o Relvas…) se não seria mais simples e mais justo continuar a aplicar em 2012 o imposto extraordinário sobre os subsídios de Natal e de Férias, que foi aplicado este ano para todos os portugueses. Se já tinha inventado a roda porque é que nos põe a arrastar fardos?…
Espero não chegar ao fim da entrevista completamente fora de mim por ter perdido tempo que poderia ser aproveitado a ver um dos muitos filmes que constam da minha lista…

domingo, 27 de novembro de 2011

Lisboa d'outras eras (7)

Esta Avenida está tão diferente… Há mais de trinta anos que por lá passo com regularidade. As lojas e espaços mais emblemáticos já desapareceram, mas ainda existe uma pastelaria histórica da cidade, integrada num prédio estilo português suave…

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(imagem "gentilmente" roubada ao Arquivo Fotográfico de Lisboa)

Lisboa d'outras eras (6)

Colégio lisboeta famoso por obter óptimos resultados, estando nos lugares cimeiros dos rankings. Muitos dos antigos alunos são figuras públicas sobejamente conhecidas, mas o mais popular (entre os amigos, claro…) é o meu grande amigo J.C.B. Vai um bitaite?

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(imagem "gentilmente" roubada ao Arquivo Fotográfico de Lisboa)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Casamento perfeito

Gatos e livros! Os gatos são animais tranquilos, ternurentos e caseiros, mas têm, também, uma personalidade forte que quase toca a intelectualidade…
Ler um livro é como beber uma chávena de chocolate quente, à lareira, num dia muito frio. Os livros são mágicos, os gatos feiticeiros, ambos me enfeitiçam. Gatos e livros, uma aliança entre o saber e a sabedoria…

Istambul
Divulgo esta fantástica fotografia que foi “gentilmente cedida”, e devidamente autorizada a sua publicação, por Fábio Paulos, da comunidade de fotografia online Olhares, e tem por título book&cat. Segundo ele, em Istambul existem milhares de gatos nas ruas, sendo uma grande maioria vadios, mas as pessoas acarinham-nos e não os deixam passar fome nem sede. Um exemplo a seguir! Pena que no nosso país sejam maltratados e escorraçados de todo o lado…
Digam lá se não é um belíssimo click do Fábio? Vejam mais fotos dele aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Home Cinema

“Main Street” é um drama contemporâneo sobre vários moradores de uma pequena comunidade, cujas vidas são alteradas com a chegada de um estranho com um plano polémico para salvar a cidade agonizante de uma morte anunciada. Tempos difíceis, cidadãos que tentam encontrar formas de escapar ao declínio. Entendi a mensagem, mas o tema não é novo. Os desempenhos de Colin Firth, Ellen Burstyn e Patricia Clarkson acabam por salvar o filme.

Main-Street

“Don’t look now” (Aquele Inverno em Veneza), baseado num conto da romancista inglesa Daphne Du Maurier, é um filme de 1973, com Donald Sutherland e Julie Christie nos principais papéis. John e Laura Baxter são confrontados, em Veneza, com uma série de incidentes bizarros que surgem após a morte por afogamento da sua filha mais nova, em Inglaterra.Sutherland estava no auge da sua carreira e neste filme escandalizou meio mundo ao protagonizar cenas ousadas de sexo com Julie Christie. O drama das personagens é inquietante, perturba-nos, angustia-nos. A tensão, o mistério e o suspense estão patentes em quase todas as cenas, mas não foi o suficiente para sentir arrepios… (esta é para o meu amigo JMC). Curiosamente, durante os 110 minutos de filme, nenhum dos personagens pronuncia a expressão Don’t look now

Kevin Spacey, Jeremy Irons e Demi Moore dão-nos uma nova perspectiva sobre a falência do sistema financeiro que afectou economias no mundo inteiro. Em “Margin Call”, os especuladores são vistos como pessoas comuns que obedecem a ordens superiores, como em qualquer outra profissão… Bom filme, embora o final seja um bocado agridoce.

Margin Call

“Flypaper” é uma comédia. À partida, já estaria fora do meu rastreio cinematográfico, mas fiquei com interesse em ver Ashley Judd (notam-se as marcas do tempo…) num registo diferente. Dois assaltos simultâneos no mesmo banco quase à hora do encerramento, um feito por profissionais e outro por um par imbecil. O sistema de segurança inicia o bloqueio do fim do dia e assaltantes, funcionários e clientes são apanhados nesta situação absurda e ficam fechados no edifício toda a noite. Um jogo hilariante do gato e do rato, um final sui generis.

flypaper

sábado, 19 de novembro de 2011

Message in a bottle (61)

Já tive oportunidade de abordar este tema aqui, embora com algum sarcasmo e puxando a brasa à minha sardinha…

Os pais devem tratar o álcool como droga (Isabel Stilwell – Destak)

Os pais continuam a pensar que o álcool não é uma droga. Se lhes for perguntado o que mais temem para os seus filhos, respondem a droga, mas se indagar do que falam, referem a cocaína, heroína, cannabis, e por ai adiante, mas deixam de fora «os copos». De tal maneira fazem a distinção que falam, entre gargalhadas, de como os filhos apareceram em casa bêbados, ou não se apresentam ao almoço de domingo «porque estão de ressaca». Ou seja, dão o seu aval a estes comportamentos, como se fossem inocentes ritos de passagem.
A complacência para com o álcool é tanto mais estranha, quanto objectivamente é a droga mais consumida em Portugal, em todas as faixas etárias, e com consequências dramáticas para o indivíduo, a família e a sociedade (muitos terão sofrido directamente as suas consequências, enquanto filhos de alcoólicos). E é tanto mais estranha, quanto o último estudo feito ao seu consumo em meio escolar, divulgado agora pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), deixa claro que o seu uso começa mais cedo, o consumo é em maiores quantidades, com episódios de embriaguez cada vez mais frequentes, tendo crescido entre as raparigas que agora bebem tanto como os rapazes (apesar dos riscos acrescidos).
A complacência é criminosa porque se sabe, com uma certeza científica, que os efeitos do álcool no cérebro jovem são tremendos e muitos deles irreversíveis. Ou seja, as bebedeiras e os comas alcoólicos de que se fala com tanta ligeireza, até como fazendo parte lúdica de viagens de fim de curso, de queimas das fitas ou de fins-de-semana «à maneira», vão assassinar os neurónios dos nossos filhos. É óbvio que nem sempre os pais conseguem evitar que os filhos criem dependências, mas do que se fala aqui é de financiar alegremente estes consumos, tratando-os como banais, da incapacidade de dizer não, de acompanhar os filhos de perto, e de lhes pedir responsabilidades. Talvez ajude se os pais começarem a incluir o álcool no capítulo daquele que é o seu maior terror, falando dele como aquilo que é: uma droga perigosa.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Livros e Mar: eis o meu elemento! (50)

“O Tempo entre Costuras” é uma obra fascinante e Maria Dueñas uma surpresa. Depois de ler a sinopse fiquei com o livro debaixo de olho e acabei por comprá-lo num alfarrabista muito pouco tempo depois de ter sido publicado em Portugal.
A narrativa começa em meados da década de 30 na capital espanhola e com o país muito perto da guerra civil, conduzindo-nos através desse período conturbado, passando pelas fascinantes cidades de Tânger e Tetuan no Protectorado de Marrocos, até à Segunda Guerra Mundial.
O romance conta-nos a história e o percurso de uma jovem costureira, Sira Quiroga, que, por força do destino, embarca para Marrocos. Aí, depois de sofrer uma grande adversidade e passar por algumas atribulações, consegue um ateliê de costura e o negócio prospera, mas a sua vida sofre uma mudança profunda e perigosa. Entre costuras, moldes, provas e alinhavos, o ateliê torna-se o disfarce perfeito para encobrir missões arriscadas de espionagem. É neste mundo de conspirações, durante um período negro da história da humanidade, que se movimenta Sira, ladeada por interessantes e invulgares personagens.
Com a Europa dividida em dois blocos e uma Espanha pro-nazista, a narrativa transporta-nos também a Portugal, que manteve a neutralidade e permaneceu fora da guerra, mais propriamente ao Estoril e a uma Lisboa cosmopolita. Com o mundo a ferro e fogo, Portugal era um paraíso que serviu de refúgio a muitas pessoas que fugiam à guerra e ao nacional-socialismo, mas, na Costa do Sol, abundavam também diplomatas e espiões…
A sólida construção da história, assim como o rigor e a veracidade narrativa, prenderam-me até à última linha e lamentei ter acabado a leitura. Confesso que o final, talvez por não ter o tipo de características de um fim, não ser estereotipado, e apresentar algumas possibilidades finais, me frustrou um pouco, mas não deixa de ser um romance cativante.

Costuras
“O Tempo entre Costuras” é a história de Sira Quiroga, uma jovem modista empurrada pelo destino para um arriscado compromisso; sem aviso, os pespontos e alinhavos do seu ofício convertem-se na fachada para missões obscuras que a enleiam num mundo de glamour e paixões, riqueza e miséria mas também de vitórias e derrotas, de conspirações históricas e políticas, de espias.
Um romance de ritmo imparável, costurado de encontros e desencontros, que nos transporta, em descrições fiéis, pelos cenários de uma Madrid pro-Alemanha, dos enclaves de Tânger e Tetuán e de uma Lisboa cosmopolita repleta de oportunistas e refugiados sem rumo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Reprovados!

Não podemos generalizar, mas penso que a tendência é para piorar…

Chumbados!

O vídeo não é recente, mas será esta a razão de não quererem ser avaliados?…
A data do Tratado ainda é o menos, mas não saberem quem foi o primeiro Presidente da República já me parece mais grave…



Provavelmente não tiveram a sorte de ter o jogo "Eu sei tudo" da Majora...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tokyo-Ga

Na sequência da leitura de “A Elegância do Ouriço” fiquei com curiosidade em saber mais sobre o já falecido realizador de cinema japonês Yasujiro Ozu. Em 1985, o cineasta alemão Wim Wenders empreendeu uma viagem artística filmando Tokyo-Ga, um documentário sobre o mestre japonês.

ozu

Esse documentário apresenta-nos o perfeccionismo do realizador, a forma de filmar a uma altura baixa com o operador de câmara deitado no chão ou de joelhos, a falta de movimento da câmara e os planos parados, mas, na minha simples opinião, a principal mensagem deste documentário é a nostalgia, as transformações sociais profundas, o passar do tempo, a impossibilidade de voltar a filmar como Ozu…

Pensamento (estúpido) do (meu) dia - 2

Depois de ouvir este tema do último álbum de Jorge Palma, e tomando atenção à letra, imaginei-nos a utilizar um “respirómetro”, um “espirrómetro” e um “passómetro”… Qualquer dia, à nascença, os pais têm que meter uma moeda para os bebés respirarem e continuarão a fazê-lo carinhosamente até eles o conseguirem fazer sozinhos. Depois, respira-se enquanto houver dinheiro. Quando já não houver, morre-se asfixiado pelo sistema…

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mensagem oportuna

Em época de crise económica e financeira, Cavaco Silva descreveu Portugal como uma terra de oportunidades para quem as saiba aproveitar. É com esta mensagem que o Presidente da República está a pautar as derradeiras horas da sua visita aos Estados Unidos.
Julgo que Portugal é mais uma terra de oportunistas do que de oportunidades, mas, claro, isso digo eu, que não percebo nada disto…
oportunismo

A minha onda (32)

Sem grande beleza, roupas pouco sensuais, sem aparato.
Apenas ela e uma grande voz!…

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A minha onda (31)

Uma grande voz portuguesa…

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dia de palíndromo

Quando passarem 11 minutos e 11 segundos das 11 horas desta sexta-feira de Novembro (11/11) de 2011, estaremos perante um palíndromo de 12 dígitos, perfeito para grandes decisões, alegam alguns, ou apenas para olhar para o relógio e fixar o momento: é que outro, só daqui a 100 anos.
Na verdade, o palíndromo - sequência de unidades que pode ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita - desta sexta-feira não é perfeito, uma vez que, embora se escreva vulgarmente a data 11/11/11, por extenso seria 11/11/2011, o que anula o efeito.
Mas isso não impede o momento marcado para as 11 horas e 11 minutos e 11 segundos desta sexta-feira de estar rodeado de misticismo e superstições pela sua raridade - o mesmo dígito repetido 12 vezes. O próximo só daqui a 100 anos, quando “estivermos” em 2111.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Message in a bottle (60)

O Estado não tem o direito de pagar a uns e não a outros (In Verbis – Revista Digital de Justiça e Sociedade)

Antes de embarcar num avião para os Açores, onde esteve no congresso dos juízes portugueses, o magistrado António Martins teve tempo de explicar ao Expresso porque é que o corte dos subsídios de férias e Natal é ilegal — não devendo ser cumprido mesmo que aprovado pelo Parlamento — e como é inadmissível que o Estado trate os seus credores de forma diferente. Porque os funcionários públicos são tão credores como os donos da dívida pública.
- Porque é que o corte dos subsídios de férias e de Natal é ilegal?
- O património das pessoas só pode ser objecto de incorporação no património do Estado por vias legais. E elas são o imposto, a nacionalização ou a expropriação. Não é possível ao Estado dizer: vou deixar de pagar a este meu servidor ou funcionário. O que o Estado está a fazer desta forma é a confiscar o crédito daquela pessoa. Por força de uma relação de emprego público, aquela pessoa tem um crédito em relação ao Estado, que é resultado do seu trabalho. Há aqui uma apropriação desse dinheiro, que configura um confisco: isso é ilegal e inconstitucional.
- Mas não há excepções que tornem o corte legítimo?
- Há o estado de emergência e o estado de sítio, em que os direitos das pessoas podem ser comprimidos ou suspensos durante algum tempo. Mas não foi decretado o estado de sítio ou o estado de emergência. E não o tendo sido decretado, o Estado continua sujeito ao respeito dos direitos dos cidadãos. Pode-se dizer, e nós já o afirmámos, que vivemos um momento difícil, em que é necessário salvar o país. E todos devemos ser mobilizados para essa salvação. Mas de forma adequada, precisamente pela via do imposto.
- Quer dizer que a redução para metade do subsídio de Natal deste ano já não é ilegal?
- Não é um corte. É um imposto. O imposto é lançado sobre todos, ou seja, tem carácter universal, abrangendo todos aqueles que têm capacidade contributiva, que advém dos rendimentos do trabalho mas também dos rendimentos do capital. E tem ainda carácter progressivo, em que quem mais ganha mais paga. Essa é a via justa e equitativa que respeita o direito. É a via adequada para salvar o país. Há um erro profundo na forma como se está a enquadrar esta questão. Porque há uma pergunta que subsiste: onde pára o limite disto? Qualquer dia o Governo lembra-se de decidir que as famílias com dois carros vão ter de entregar um. A situação é a mesma. Ficar com um carro de um cidadão ou ficar com o seu dinheiro é igual.
- E o que vai fazer para combater essa decisão?
- Da parte dos juízes, achamos que temos uma responsabilidade de cidadania e um imperativo de transmitir aos cidadãos portugueses que esta medida, ainda que venha a ser aprovada pelo Parlamento e ainda que venha a ser lei, não é uma lei conforme ao direito e à justiça.
- Será, portanto, uma lei ilegal?
- É uma lei ilegal e que não deve ser cumprida. Os cidadãos podem recorrer aos tribunais para salvaguardarem os seus direitos. E no espaço dos tribunais, por enquanto, num Estado de direito, que se deve equacionar a legalidade das leis e o seu cumprimento ou não. Cabe aos tribunais dizer se elas são conformes ao direito, à justiça e à constituição. Essa é a nossa grande preocupação neste momento.
- Está a apelar para que se recorra em massa aos tribunais?
- Não se trata de um apelo. Caberá a cada cidadão fazer a sua opção. Não estamos a apelar a uma intervenção maciça das pessoas juntos dos tribunais. Temos é um dever de fazer ouvir a voz dos juizes para que os cidadãos não se sintam completamente desprotegidos e abandonados perante este poder fáctico do Estado e que tem apoio em comentadores e opinion makers que aparentemente caucionam toda esta atuação.
- Mas, se a decisão é aprovada pela maioria do Parlamento, ir contra ela não é, de certa forma, um ato de desobediência civil?
- Não se trata de desobediência civil. É um exercício de um direito. Mas queremos, antes que venha a ser lei, que os parlamentares não sejam apenas deputados eleitos na lista de um partido. Queremos que debatam, como representantes das pessoas que os elegeram, se esta é a forma de um Estado ser um Estado de bem. Porque é que o Estado opta por dizer que não paga a estas pessoas e, em vez disso, não opta por dizer que não paga às entidades com as quais fez negócios ruinosos nos últimos anos, celebrando parcerias público-privadas com contratos leoninos?
- Há cláusulas nesses contratos que obrigam, certamente, a pagamentos de multas pesadas…
- E para os trabalhadores públicos não há cláusulas? É obrigação do Estado pagar-lhes os vencimentos, incluindo o 13.º e o 14.º meses. Está na lei.
- Acharia mais legítimo não pagar parte das parcerias público-privadas?
- Um Estado de bem tem a obrigação de pagar a todos os seus credores. Se não tiver possibilidade de pagar a todos, também não tem o direito de dizer que paga a uns e não paga a outros. Esta é a questão. O Estado não tem direito de dizer que paga aos seus credores internacionais, aos seus credores das parcerias público-privadas, aos credores que defraudaram os depositantes no BPN e no BPP, mas não paga às pessoas que trabalham no sector público.