Não vai ser fácil (in DN magazine)
As medidas de austeridade vão cair-nos em cima com uma dureza da qual ainda não tomámos bem consciência. Mas talvez tenham algum efeito benéfico na educação dos nossos filhos.
Talvez estas gerações que vão ser afectadas pela tempestade depois da grande bonança percebam finalmente que o dinheiro não vem do multibanco, que as férias não são sempre no Brasil ou nas Caraíbas, que «ir à neve» não é uma obrigação, que no mundo não é tudo descartável (o telemóvel avaria-se, compra-se um de última geração; a PS2 deita-se fora porque os novos jogos são para a PS3), que vestir “marcas” não é fundamental para a afirmação da imagem, que os livros e os mp3 não fazem parte do pacote “cama, mesa e roupa lavada”, que dar carta e carro aos 18 anos não é uma obrigação parental.
Vão percebê-lo da pior maneira possível, claro. Porque nós, pais, que permitimos que crescessem a pensar que podiam ter tudo, que acabámos sempre por lhes dar o que pediam, fosse porque não queríamos que se sentissem excluídos, ou porque precisávamos que estivessem entretidos enquanto trabalhamos dez horas por dia e gastamos quatro no trânsito, ou simplesmente porque a abundância era grande e o preço acessível, vamos ter de os confrontar com a dura realidade: não há.
Não vai ser fácil.
Mas vai ser-lhes útil.
As medidas de austeridade vão cair-nos em cima com uma dureza da qual ainda não tomámos bem consciência. Mas talvez tenham algum efeito benéfico na educação dos nossos filhos.
Talvez estas gerações que vão ser afectadas pela tempestade depois da grande bonança percebam finalmente que o dinheiro não vem do multibanco, que as férias não são sempre no Brasil ou nas Caraíbas, que «ir à neve» não é uma obrigação, que no mundo não é tudo descartável (o telemóvel avaria-se, compra-se um de última geração; a PS2 deita-se fora porque os novos jogos são para a PS3), que vestir “marcas” não é fundamental para a afirmação da imagem, que os livros e os mp3 não fazem parte do pacote “cama, mesa e roupa lavada”, que dar carta e carro aos 18 anos não é uma obrigação parental.
Vão percebê-lo da pior maneira possível, claro. Porque nós, pais, que permitimos que crescessem a pensar que podiam ter tudo, que acabámos sempre por lhes dar o que pediam, fosse porque não queríamos que se sentissem excluídos, ou porque precisávamos que estivessem entretidos enquanto trabalhamos dez horas por dia e gastamos quatro no trânsito, ou simplesmente porque a abundância era grande e o preço acessível, vamos ter de os confrontar com a dura realidade: não há.
Não vai ser fácil.
Mas vai ser-lhes útil.
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