"Não são as pequenas coisas que me fazem desanimar, é a pedrinha que trago no sapato"
Quando há quase trinta anos entrei para a instituição onde continuo a trabalhar, fui alertada por um colega, já quase na idade da reforma e comunista dos quatro costados, para o facto de que “o trabalho não era para se fazer, era para se ir fazendo”… senão corria o risco de me sobrecarregar de trabalho enquanto outros colegas iam fazendo “render o peixe”…
“O risco nunca foi a minha profissão”, aliás, eu sou pouco dada a riscos (a não ser em reuniões de Departamento, em que eu me entretenho a rabiscar no A4, que imprimo sempre, da Ordem de Trabalhos…) mas, nessa ocasião, talvez por ser nova e ainda ter “sangue na guelra”, pensei, para com os meus botões, que o velhote estava a exagerar e pus as minhas dúvidas que o que ele me dizia pudesse ser verdade…
Ao fim de algum tempo já punha em dúvida as minhas dúvidas…
O Sr. N., assim se chamava o meu colega, voltou a elucidar-me, dessa vez com outra frase, que não mais esqueci, “aqui é como na tropa, se é um bom soldado é para todo o serviço, se é um bom cavalo todos o querem montar”…
Ao fim de alguns anos, as minhas dúvidas desvaneceram-se…
O problema, há uns anos atrás, residia não só no facto de eu ser nova e inexperiente, mas também no facto de eu ser completamente naive (ou naïf?)…
Actualmente, que a idade da inocência já lá vai, recordo muitas vezes aquelas palavras, direi mais, aqueles ensinamentos, e dou por mim a transmiti-los aos mais novos…
Um chefe não faz, faz com que se faça e sabe em quem pode confiar. Sabe que se o trabalho for entregue a um “bom soldado”, o resultado final será positivo. Acontece que os “bons soldados” podem, rapidamente, passar a “maus soldados”, principalmente quando começam a reparar que estes últimos nem sempre são penalizados e muitas das vezes auferem o mesmo vencimento, em alguns casos até maior …
Mas hoje estou satisfeita. Particularmente satisfeita…
Um trabalho de equipa, mais ou menos complexo e algo moroso, foi alvo de louvores, via e-mail, por parte de outra equipa, de outro Departamento, com quem nos sintonizámos para o fazer. As palavras exactas foram: Excelente trabalho!
Gostei! Gostei mesmo muito!
Esse e-mail foi enviado com conhecimento ao meu chefe e à minha directora de Departamento.
Claro que eu não me fiz rogada e tratei logo de agradecer, fazendo um “Replay to all”… (ih, ih, ih) para que todos soubessem que um elogio de vez em quando não custa nada a quem o faz, mas faz bem à alma de quem o recebe…
Sabermos que têm apreço pelo nosso trabalho dá-nos motivação, estímulo e faz renascer a vontade de trabalhar e o brio profissional. Além disso faz bem ao ego!
O meu pai, agora com 95 anos, que nunca foi materialista, actualmente perguntar-me-ia se os elogios eram sinónimo de aumento salarial ou de um prémio monetário. Ao dizer-lhe que não, ele iria responder com espontaneidade:
― Não dá dinheiro? Então não interessa nada…
Será que, no futuro, ainda lhe vou dar razão?...
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