Olha Rita, sei que gostas que eu escreva estas coisas e como diria o meu “avôzinho” R., “isso é o bastante para eu gostar também”…
O meu avô paterno, J.J., nascido no longínquo século XIX, foi, no início do século XX, um aventureiro, um homem avançado para a época, um esclarecido, em suma, um visionário (não fosse ele aquariano…).
Estudou em Braga e em Roma, formando-se em teologia e filosofia.
Foi como jornalista que embarcou para o sudeste asiático, voltando ao Oriente como professor das disciplinas de filosofia e português no Liceu de Macau, leccionando ao lado de Camilo Pessanha, e também na escola Pedro Nolasco, na mesma cidade. Fez e publicou uma Gramática, assim como as Lições Práticas de Português, que tiveram o seu período áureo, mas isso foi em tempos que já lá vão…
É com alguma mágoa que o escrevo e digo mas a verdade é que nunca senti, pelo meu avô paterno, o carinho, a ternura, o sentimento de posse e a proximidade, como sentia pelo meu avô materno R.
São poucas as lembranças que tenho do meu avô J.J….
Julgo que era um homem determinado, muito racional e pouco dado a demonstrações de afectividade.
Nunca me contou uma história e não tenho ideia de alguma vez termos andado de mãos dadas…
Acho que as nossas vidas, a dele e a minha, nunca encontraram um ponto de intersecção, talvez por a diferença de idades ser abismal e não existirem interesses em comum.
A lembrança mais viva que tenho dele e que continuarei a recordar com um sorriso, está ligada à minha vida académica. Sempre que terminava um período lectivo, o meu avô, sentado no seu cadeirão, perguntava:
— Que nota tiveste a português?
Como sempre fui uma aluna razoável nessa disciplina, as notas eram também bastante razoáveis e quando lhe respondia, sabia, de antemão, que o ia fazer feliz… Sabia também que atrás disso vinha uma notinha parar à minha mão, como prémio pelos bons serviços prestados à língua pátria...
Depois deste ritual, aconselhava-me sempre a não “cansar” a cabeça a estudar (é verdade!...), conselho esse desvalorizado imediatamente pela minha mãe que achava desnecessário “ensinar o Pai-Nosso ao vigário”…
No entanto, com muita pena da minha mãe, sempre segui o conselho do meu avô J.J…. e julgo que ele, esteja lá onde estiver, está a sorrir neste momento…
Nunca foi, de facto, um avô muito afectuoso, mas foi um avô brilhante, do qual tenho o maior dos orgulhos e que me legou um gene que me faz sentir feliz, o amor à escrita...
Obrigada pelo privilégio de ser tua neta!...
Post Scriptum
Sabes uma coisa avô? Nunca cansei a cabeça com os estudos mas ironicamente continuo a estudar…
O meu avô paterno, J.J., nascido no longínquo século XIX, foi, no início do século XX, um aventureiro, um homem avançado para a época, um esclarecido, em suma, um visionário (não fosse ele aquariano…).
Estudou em Braga e em Roma, formando-se em teologia e filosofia.
Foi como jornalista que embarcou para o sudeste asiático, voltando ao Oriente como professor das disciplinas de filosofia e português no Liceu de Macau, leccionando ao lado de Camilo Pessanha, e também na escola Pedro Nolasco, na mesma cidade. Fez e publicou uma Gramática, assim como as Lições Práticas de Português, que tiveram o seu período áureo, mas isso foi em tempos que já lá vão…
É com alguma mágoa que o escrevo e digo mas a verdade é que nunca senti, pelo meu avô paterno, o carinho, a ternura, o sentimento de posse e a proximidade, como sentia pelo meu avô materno R.
São poucas as lembranças que tenho do meu avô J.J….
Julgo que era um homem determinado, muito racional e pouco dado a demonstrações de afectividade.
Nunca me contou uma história e não tenho ideia de alguma vez termos andado de mãos dadas…
Acho que as nossas vidas, a dele e a minha, nunca encontraram um ponto de intersecção, talvez por a diferença de idades ser abismal e não existirem interesses em comum.
A lembrança mais viva que tenho dele e que continuarei a recordar com um sorriso, está ligada à minha vida académica. Sempre que terminava um período lectivo, o meu avô, sentado no seu cadeirão, perguntava:
— Que nota tiveste a português?
Como sempre fui uma aluna razoável nessa disciplina, as notas eram também bastante razoáveis e quando lhe respondia, sabia, de antemão, que o ia fazer feliz… Sabia também que atrás disso vinha uma notinha parar à minha mão, como prémio pelos bons serviços prestados à língua pátria...
Depois deste ritual, aconselhava-me sempre a não “cansar” a cabeça a estudar (é verdade!...), conselho esse desvalorizado imediatamente pela minha mãe que achava desnecessário “ensinar o Pai-Nosso ao vigário”…
No entanto, com muita pena da minha mãe, sempre segui o conselho do meu avô J.J…. e julgo que ele, esteja lá onde estiver, está a sorrir neste momento…
Nunca foi, de facto, um avô muito afectuoso, mas foi um avô brilhante, do qual tenho o maior dos orgulhos e que me legou um gene que me faz sentir feliz, o amor à escrita...
Obrigada pelo privilégio de ser tua neta!...
Post Scriptum
Sabes uma coisa avô? Nunca cansei a cabeça com os estudos mas ironicamente continuo a estudar…
Sem comentários:
Enviar um comentário