"O nosso hino nacional foi criado como uma resposta patriótica ao Ultimato Britânico, e ao subsequente Mapa Cor-de-Rosa que, segundo nos ensinaram nos bancos da escola, foi uma tentativa vergonhosa de nos roubarem África. Corria então o ano de 1890, ainda Portugal era uma monarquia, e o indignado Henrique Lopes de Mendonça pôs a caneta ao papel para escrever a letra, enquanto que o seu amigo Alfredo Keil compunha a música. O pedido de vingança estava logo nas primeiras quadras: «Contra os Bretões marchar, marchar».
Vinte anos depois, a 5 de Outubro de 1910, era instituída a República, e a Assembleia Nacional adoptou a revolucionária composição, em simultâneo com a actual bandeira nacional, cuja estética, na minha modeste opinião, revela um verdadeiro atentado ao bom gosto, mas adiante. Foi também então que rápida e discretamente, trataram de introduzir uma ligeira adaptação à letra, deixando cair os malfadados «bretões» (entretanto tínhamos feito as pazes com os senhores, e queríamos que continuassem a beber o nosso delicioso vinho do Porto), substituindo-os por «canhões», o que não deixa de revelar tendências suicidárias, muito ao gosto na Nação. Afinal quem é que, no seu juízo perfeito, incita a enfrentar assim armas daquele calibre?
Diz a enciclopédia que a versão final foi aprovada em Conselho de Ministros, a 16 de Julho de 1957, e não voltou a ser alterada. Quem diz uma coisa destas nunca foi a um jogo de futebol, onde os nossos «egrégios avós», de transformam sempre em «igrégios avós». Os rapazes pensam certamente que se trata de uma homenagem à missa dominical a que os seus avós não faltam, numa manifestação clara de que o anti-clericalismo republicano nunca vingou realmente em Portugal."
Isabel Stilwell
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