Fui de férias em Agosto, eu e uma catrefada de gente, claro!
Agosto é o mês de eleição da maior parte dos portugueses e é curioso verificar que é eleito tanto pelas classes altas como pelos parolos, foleiros, burgessos, lagalhés, morcões e outros.
No dia 20 de Agosto tive a “sorte” (sim, porque oportunidades destas não se apanham todos os dias…) de viajar durante 90 minutos (ida e volta) num barco que faz a ligação entre Olhão e as ilhas da Culatra e do Farol. Nessas viagens consegui encontrar uma montanha de parolos que, como eu, fazem férias no mês de Agosto. Cada parolo com o seu paladar, cada cromo era único e naquele barco estava uma caderneta completa de cromos…Por momentos até pensei que estava sentada num qualquer café da freguesia onde vivo e que por acaso é fértil em cromos…
Não resisto (sou uma pessoa que resiste pouco, aliás, não me torturem porque eu conto tudo, mesmo aquilo que não sei…) à tentação de postar aqui algumas passagens de uma crónica publicada no jornal Expresso, em 1986 ou 87, da autoria do M.E.C.
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Embora nunca se tenha descoberto para que servem, a verdade é que há parolos em todos os países do mundo.
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À parte a República Popular da China, nenhum país conseguiu até hoje transformar os seus parolos em elementos válidos da sociedade.
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Os parolos tendem a ser todos muito iguais. Em Portugal, é diferente. Em mais nenhum país a variedade é tão grande. Basta ficar parado durante meia hora em qualquer ponto do país e observar as pessoas que passam para conhecer a gama completa.
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O labrego é o parolo dos primórdios. De todos os géneros de parolo, é o melhor. O labrego é o camponês que é mesmo do campo. É fácil gostar de labregos. São honestos. São despretensiosos. Respeitam as outras pessoas. Acima de tudo, são verdadeiros.
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O parolo é o labrego que desceu à cidade. O parolo é o labrego urbano.
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O parolo já usa expressões estrangeiras, como “Men” e “Naice”…
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A foleirice é mais do que uma condição – é uma maneira de ser, uma filosofia de vida. Está institucionalizada. É contagiosa. A foleirice, ao contrário da parolice, pode dar a toda a gente. Todos nós podemos ser um bocado foleiros, de vez em quando.
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Ser foleiro é perguntar nos restaurantes se a mousse é caseira, é andar com o automóvel para trás e para a frente nos semáforos, é tratar os empregados por “chefe”…Enfim, ser foleiro está ao alcance de qualquer um.
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O burgesso é o foleiro burguês. Os burgessos vêm de todas as classes sociais. A “alta burgessia” não tem um automóvel Porsche, mas tem uns óculos escuros. Não tem sapatos da Gucci, mas tem o after-shave com o mesmo nome.
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Há uma espécie de burgesso que não maça tanto – é o burgesso envergonhado, que procura não incomodar, que não nos apresenta constantemente os seus sinais exteriores de riqueza. É o tonhão. É o burgesso que tem consciência das suas limitações.
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Falta uma espécie, que se caracteriza por não ter características – é o morcão. O morcão é o cinzentão, molengão e mandrião. Quando se pisa um morcão, ele diz “desculpe”.
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Existe só para preencher a população. Nas bichas dos bancos, está eternamente à frente de nós a depositar 300 cheques e está à espera que alguém lhe empreste uma caneta.
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Os morcões não sabem guiar, não ouvem buzinas, andam na estrada como se tivessem trilhos por baixo, como os carros eléctricos. O grande defeito dos morcões é empatar.
Depois destas considerações, julgo que é importante dizer que, apesar do combíbio forçado com toda aquela variedade de cromos, não me senti minimamente deslocada…
Para além de ter a minha quota parte de parolice e foleirice, quando chegam as férias, revejo-me inteiramente no morcão…fico molengona, mandriona, aparvalhada e indolente…tão indolente que tudo é uma grande trabalhêra…
Cheguei à conclusão que, durante as férias, existo apenas para preencher a população…
Espero sinceramente que isto não se estenda aos outros onze meses do ano…ih, ih, ih
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