sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (77)

O Palácio da Meia-Noite faz parte, com O Príncipe da Neblina, Marina e As Luzes de Setembro (ainda não publicado em português), de uma série de romances juvenis escritos no início da carreira de Carlos Ruiz Zafón. Independentemente de alguns erros, que ele agora encontra nestas obras por falta de experiência literária, estas histórias de mistério e aventura converteram à leitura numerosos leitores jovens, facto que muito agradou ao autor.
Também eu teria sido sua seguidora incondicional, caso Zafón fosse um autor de literatura juvenil no início da década de 70. Assim como Enid Blyton foi fundamental no desenvolvimento da minha paixão pela leitura, Zafón teria sido, a par de Blyton, um dos meus autores de eleição e seria, nos dias de hoje, uma referência obrigatória da minha adolescência.
Se Enid Blyton me brindou com Os Cinco nos Rochedos do Demónio, Zafón presenteia-me com O Palácio da Meia-Noite. Se Enid Blyton me brindou com passagens secretas, catacumbas, ilhas misteriosas, torres assombradas, lingotes de ouro, castelos em ruínas, contrabandistas e malfeitores, Zafón presenteia-me com grandes enigmas, cenários sombrios, ideias fantasmagóricas, almas perdidas e espectros do passado que vivem entre a vida e a morte, numa espécie de limbo. Tenebroso, como só Zafón consegue ser…
A acção de O Palácio da Meia-Noite passa-se na enigmática cidade de Calcutá, na Índia, em 1932, embora o início do livro nos transporte a um acontecimento inquietante em Maio de 1916. Um tenente inglês luta para salvar a vida a dois bebés órfãos de uma terrível ameaça. Perde a vida, mas consegue pô-los a salvo. No entanto, a separação dos bebés é necessária para que se mantenham vivos e um deles é deixado pela avó no orfanato St. Patrick’s ao cuidado do senhor Thomas Carter. O outro bebé…ah, não vou contar já…
Ben, assim se chama o órfão de St. Patrick’s, forma, mais tarde, um grupo de amigos e um clube secreto, a Chowbar Society, que reunia num casarão abandonado e em ruínas a que chamavam orgulhosamente Palácio da Meia-Noite. Desta sociedade secreta fazem parte sete elementos (poderia ser o Clube dos Sete, de Blyton, mas, neste caso, sem outra família além deles mesmos e com membros muito mais estimulantes…).
O líder do grupo, Ben, é um rapaz de ideias extravagantes e humor cáustico que passa de períodos de hiperactividade a longos e tristes silêncios; Isobel, a única rapariga do clube, tem um dos melhores cérebros do grupo; Siraj, de saúde frágil, possui uma memória enciclopédica e não há história macabra da cidade que ele não conheça; Roshan, prodigioso corredor e hábil serralheiro; Michael, desenhador, calado e melancólico; Seth, rapaz pouco sorridente, estudioso, devorador de clássicos e apaixonado por astronomia; Ian, o melhor amigo de Ben, tem apenas um sonho, vir a ser médico.
Para que a história que viveram não se perdesse para sempre, Ian empreendeu a tarefa de narrador e é através das suas palavras que tomamos conhecimento dos misteriosos e terríveis acontecimentos durante quatro dias, em 1932, ano em que todos eles completam 16 anos e terão que abandonar o orfanato…
O que aconteceu a Sheere, a irmã gémea de Ben? Bem, vou levantar uma ponta do véu. Depois da separação imprescindível dos irmãos (que só perceberão se lerem o livro…), Jawahal, o espectro do passado, nunca desistiu de os procurar e durante 16 anos Sheere e a avó fugiram pela Índia. Ao fim desse tempo, Sheere encontra-se com Ben em St. Patrick’s. Aryami Bosé, a avó, faltando-lhe a saúde e a coragem para combater forças tremendas e incompreensíveis, decide contar-lhes a história em que foram protagonistas sem o saberem. Na posse das terríveis confidências, os irmãos e a Chowbar Society vão enfrentar um mortífero, inacreditável e complexo mistério… Será que Ben e Sheere vão conseguir escapar à morte que os persegue? E quem será o sinistro Jawahal?
A magia de Zafón num emocionante mistério. Não aconselhável para cardíacos…

Planeta

No coração de Calcutá esconde-se um obscuro mistério...
Um comboio em chamas atravessa a cidade. Um espectro de fogo semeia o terror nas sombras da noite. Mas isso não é mais do que o princípio. Numa noite obscura, um tenente inglês luta para salvar a vida a dois bebés de uma ameaça impensável. Apesar das insuportáveis chuvas da monção e do terror que o assedia a cada esquina, o jovem britânico consegue pô-los a salvo, mas que preço irá pagar? A perda da sua vida. Anos mais tarde, na véspera de fazer dezasseis anos, Ben, Sheere e os amigos terão de enfrentar o mais terrível e mortífero mistério da história da cidade dos palácios.

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