quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Intelectual Vs Trolha

Imaginem que antigamente era fácil alimentar o meu ego. Imaginem que eu sentia alguma vaidade sempre que ouvia algum comentário agradável à minha aptidão para a escrita. Imaginem que eu imaginava que os meus textos até eram razoáveis. Imaginem que me deslumbrava com as palavras lisonjeiras de alguns professores de Língua Portuguesa, a respeito de redacções ou composições. Nessas fases de menina e moça contemplava com impaciência os longos anos vindouros, julgando que o destino se encarregaria de me premiar, com toda a certeza do mundo, com um percurso existencial promissor. Quando somos jovens sonhamos acordados e fazemos muitos castelos no ar…e na grandeza da minha ignorância não distinguia entre escrita com alguma criatividade e a escrita inteligente e profunda, ou seja, o verdadeiro talento. Houve ocasiões em que me chamaram intelectual. Agora dá-me uma imensa vontade de rir. Como se, para se ser apelidado de intelectual, bastasse ter gosto pela leitura e escrever por tudo e por nada… Alguém terá dito, comparado com um trolha sou um intelectual, mas comparado com um intelectual eu sou um trolha…
Depois fui amadurecendo. Esses sonhos de menina e moça foram-se desvanecendo, levando com eles os castelos e as pontes levadiças, deixando para trás somente os fossos… Já mais madura, a sensatez fez-me ver que escrever razoavelmente não era apanágio exclusivo e que eu era apenas uma no meio de milhões.
Embora o gosto e a necessidade de escrevinhar me tivessem sempre acompanhado, actualmente já não me sinto aplaudida e triunfante quando, ainda, alguém me diz que tenho jeito para a coisa. Limito-me a ficar contente, agradecer e seguir em frente. Esta maneira de estar, aliada à clara vulgaridade da minha escrita, deve-se também às minhas frequentes viagens pela blogosfera, onde tenho encontrado verdadeiras pérolas. Há, efectivamente, pessoas com um mérito excepcional, que soltam as palavras como quem solta balões ao vento, que casam as palavras de uma forma instintiva, intensa e expressiva, e me envolvem em sentimentos e emoções. A mestria e, em alguns casos, a genialidade que tenho encontrado em alguns blogues seriam dignas de obras literárias e confesso que certos textos me chegam a suscitar alguma inveja.
Posto isto, considerando que tenho perfeita consciência da superficialidade da maioria dos meus textos e não tendo qualquer pretensiosismo, continuarei o meu diário pessoal “escrevendo de ouvido” e esforçando-me para que os “post” sejam ortograficamente correctos, apesar da limitada eloquência da escrita.
O propósito do meu blogue é “falar comigo própria”, mas sei que tenho algumas pessoas a “ouvir-me”. Pensando bem, parece-me que há algum exibicionismo nesta apreciação rápida à noção do blogue, mas como não “dou a cara”, só “dou os pés”… o conceito do mesmo fica menos incomodativo e embaraçante…

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