sábado, 12 de junho de 2010

Livros e Mar: eis o meu elemento! (26)

Um romance soberbamente escrito passado no gueto judaico de Varsóvia.

Narrado por um homem que por todas as razões devia estar morto e que pode estar a mentir sobre a sua identidade. No Outono de 1940, os nazis encerraram quatrocentos mil judeus numa pequena área da capital da Polónia, criando uma ilha urbana cortada do mundo exterior. Erik Cohen, um velho psiquiatra, é forçado a mudar-se para um minúsculo apartamento com a sobrinha e o seu adorado sobrinho-neto de nove anos, Adam. Num dia de frio cortante, Adam desaparece. Na manhã seguinte, o seu corpo é descoberto na vedação de arame farpado que rodeia o gueto. Uma das pernas do rapaz foi cortada e um pequeno pedaço de cordel deixado na sua boca. Por que razão terá o cadáver sido profanado? Erik luta contra a sua raiva avassaladora e o seu desespero jurando descobrir o assassino do sobrinho para vingar a sua morte. Um amigo de infância, Izzy, cuja coragem e sentido de humor impedem Erik de perder a confiança, junta-se-lhe nessa busca perigosa e desesperada. Em breve outro cadáver aparece - desta vez o de uma rapariga, a quem foi cortada uma das mãos. As provas começam a apontar para um traidor judeu que atrai crianças para a morte. Neste romance histórico profundamente comovente e sombrio, Erik e Izzy levam o leitor até aos recantos mais proibidos de Varsóvia e aos mais heróicos recantos do coração humano.


Mas encurralaram-nos mesmo e no dia 16 de Novembro, um sábado, ficámos selados dentro da nossa prisão judaica. O nosso universo ficou reduzido a pouco mais de 1,5 quilómetros quadrados. Durante essa primeira semana, viemos todos para a rua como se tivéssemos naufragado, olhando fixamente aquele perímetro de tijolo e arame farpado que nos isolava lá dentro, como se alguém tivesse feito de nós personagens de um conto de Kafka. Éramos agora quatrocentos mil seres escorraçados, encurralados na nossa própria cidade.

Um homem à minha frente caíra de exaustão. Estávamos a percorrer a plataforma de uma pequena estação ferroviária. Ao erguer os pés para passar por cima do homem, tive a certeza de que o nosso sangue nunca seria completamente apagado das ruas de todas as cidades e vilas polacas – nem que chovesse todos os dias, durante mil anos.

Sempre achei que sobrevivi por ter encontrado o Erik e escrito a história que ele me ditou. É a única justificação que encontro para estar aqui, quando há seis milhões que não estão. Sei que esta minha explicação não tem qualquer sentido lógico, mas por esta altura já todos sabemos que a lógica não é o ponto forte de Deus.

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