3ª Parte
Abril de 2009
A Quinta de S. Mateus!
Pertenceu à família da minha mãe até meados da década de 40. Os meus avós, tal como a família B. da Quinta do Paço, sem viabilidade financeira para a manterem, viram-se na necessidade de a venderem.
De então para cá a Quinta de S. Mateus tem passado por vários proprietários sem que nenhum deles a tenha recuperado como seria de esperar de quem compra uma casa antiga. Nenhum dos proprietários foi capaz de compreender que aquela casa antiga queria contar a sua história, nenhum deles teve a capacidade de entender que aquela casa tinha um passado…
As memórias da Quinta de S. Mateus não são memórias vividas e sentidas por mim. Ao contrário da Quinta do Paço, nunca eu ali brinquei nem corri nos pátios…
As memórias desta casa são memórias da minha mãe, são afectos que me foram contados…mas não deixam de ser memórias…
A casa da quinta, do ponto de vista físico, é de traçado direito (ó R. corrige-me se eu estiver a dizer um disparate…), uma casa banal, sem encanto exterior e, actualmente, decrépita...
Na fachada umas janelas novas de alumínio castanho que substituíram as antigas janelas de guilhotina (confirmado com a minha mãe), o que demonstra a falta de afeição pelo passado e a falta de gosto, claro, de quem ali terá morado ultimamente…
Eu sei que gostos não se discutem, mas a harmonia entre a casa e as janelas foi completamente assassinada…é um insulto à visão e uma afronta à área circundante da casa. A casa da quinta, apesar de não ser uma daquelas casas antigas de extrema beleza, tinha uma alma e tem uma história que é formada por lembranças da minha mãe…
Entrei na Quinta de S. Mateus uma única vez.
Vazia de móveis mas, como é habitual em mim, deixei-me enlevar pelo ambiente, conseguindo imaginá-la como dantes… fotografias antigas, quadros emoldurados, camas, cómodas, oratórios, bacias e jarros, fogão a lenha, mesas grandes, loiça branca…
Esta casa da quinta tinha uma alma, uma alma nos pátios, nos quintais, nas árvores de fruta, na felicidade, nos costumes, nos cheiros, nas vozes e nos risos de quem lá viveu. Foi, pois, com mágoa e melancolia que olhei para aquela casa, outrora tão cheia de vida, onde a minha mãe e os irmãos cresceram e sonharam…
É agora uma casa sem alma e sem vida…
Paredes-meias está uma casa moderna, daquelas sem história, mas não duvido que, à noitinha, as paredes da Quinta de S. Mateus lhe contam os dramas, as emoções, os amores e os ódios que lá foram vividos, assim como os aniversários e os Natais que terá testemunhado…e estou certa que a outra, a casa moderna e sem passado, a ouve com muita atenção, eu diria mesmo, enfeitiçada…
Desta quinta sobrou apenas o triste abandono e ao vê-la assim, tão cheia de memórias e carente, pareceu-me ouvi-la a gritar por mim para que tomasse conta dela, para que lhe devolvesse a alma…
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