quarta-feira, 5 de maio de 2010

Memórias e Afectos (55)

Recordo uma fase temporária, como tantas outras, da minha juventude, em que a moda de coleccionar autógrafos e dedicatórias fez sucesso e criou um verdadeiro delírio entre as raparigas. Obviamente que eu também não fiquei alheia a este movimento e à troca descontrolada de assinaturas e dedicatórias de amigas, colegas e familiares, como se de verdadeiros ídolos se tratassem…
Presentemente, lamento não ter preservado esse pequeno livro de memórias que, certamente, teria nomes, dos muitos que enchiam aquelas páginas, que não iria conseguir recordar, e outros que dificilmente conseguiria associá-los a rostos, mas seriam um “passaporte” para uma viagem através do tempo…
Lamento ter deitado fora uma parte de mim, lamento não ter, agora, possibilidade de regressar à minha adolescência despreocupada…e poder sorrir ao recordar algumas pessoas que, há quase 40 anos, foram importantes para mim e marcaram uma parte da minha vida. Amizades que, pensávamos nós, seriam duradouras, se não mesmo imortais…
Algumas dessas dedicatórias eram tiradas a papel químico umas das outras (o copy/paste de agora…) e assim iam passando de livro em livro. A maior parte delas eram completamente disparatadas, enquanto outras faziam considerações profundas que me deixavam a cismar…
Embora o meu livro de autógrafos faça, apenas, parte das minhas lembranças, consigo ainda recordar alguns dos momentos que, em tempos, me foram dedicados…

Menina, casa-te com um coxo
Porque um coxo também te ama
E só a graça que ele tem
De ir aos saltinhos para a cama

Não te ofereço uma rosa
porque não tenho jardim
Ofereço-te este autógrafo
para que te lembres de mim

Autógrafos coleccionar
De pessoas sem valia
Não será mais que mania?
Mas…porque não consigo
Dizer-te que não…
Aqui fica o meu
Do fundo do coração…

É a febre da juventude que mantém o mundo
à temperatura normal.
Quando a juventude arrefece,
o resto do mundo bate os dentes...

Que a tua vida seja sempre um mar de felicidade,
mas para isso, segue sempre o caminho do bem…


Finalizo com um pequeno comentário irónico a esta última dedicatória. Fazendo um rewind ao que foi, até hoje, a minha vida, o facto de sempre ter seguido o caminho do bem não foi devidamente recompensado com o tal mar de felicidade, aliás, sem querer parecer presunçosa, nesta relação entre deve e haver eu ainda tenho a haver… Apesar do “saldo ser positivo”, aguardo, pacientemente, o pagamento do resto da “dívida”…


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