domingo, 6 de agosto de 2017

A que cheira a minha infância?

A razão que me levou a escrever este texto foi o perfil de uma professora polaca no Postcrossing. Pedia, a quem lhe escrevesse, que mencionasse os cheiros da infância. What smells like childhood for you?  Achei uma pergunta engraçada e, como tudo o que se relaciona com a minha infância me desperta interesse, enviei-lhe uma lista de cheiros que evocavam ternas lembranças. Ela gostou tanto que acabámos a trocar mensagens por haver cheiros da infância que partilhamos…
Há cheiros que nos transportam até à nossa infância e, por momentos, voltamos a ser crianças. E a que cheira a minha infância? A minha infância cheira a sabão azul e branco e roupa a corar ao sol; cheira a sopas de café com leite e uvada acabadinha de fazer (já aqui falei nisto); cheira a café de cevada e a leite em pó; cheira a maçãs Casanova perfumadas (e com bicho, sinal de que eram boas…) e a laranjas colhidas das árvores; cheira a glicínias e a resina e caruma de pinheiros; cheira a milho e cevada armazenados em grandes arcas; cheira a azeitonas esmagadas no lagar; cheira a porcos e galinhas; cheira a hortelã e a gente do campo; cheira a terra molhada depois de regar o quintal; cheira a velas e a petróleo dos candeeiros antigos; cheira a pó de giz e a madeira de soalho da sala de aula; cheira a maresia carregada de iodo nas manhãs de neblina; cheira a humidade e a fresco; cheira a colchões de palha; cheira a cânfora e a álcool que o meu avozinho R. usava nas ventosas de vidro para atenuar as dores musculares (técnica antiga, hoje conhecida por ventosa terapia); cheira a Vick VapoRub e a óleo de fígado de bacalhau; cheira a livros velhos; cheira à casa onde vivi, às casas dos meus tios e dos meus avós… enfim, cheiros que me trazem sensações de bem-estar, tranquilidade e conforto e me deixam saudades da minha inocência infantil…
Os psicólogos dizem que os “Fragrant Flashbacks” demonstram a íntima relação que existe entre a memória, o olfacto e a nossa infância.
Como disse Alice Vieira, “Há cheiros da infância que não morrem nunca, nem sequer envelhecem como a nossa pele”.

2 comentários:

João Barros disse...

De vez em quando venho cá e fico sempre encantado com a sua escrita. Tem o poder de nos mexer cá dentro.

Pezinhos na Areia disse...

Mais uma vez, obrigada pelo seu generoso comentário.
Como pode ver, também eu venho ao blog de vez em quando e há muito que deixei de escrever...