quarta-feira, 7 de março de 2012

Notável…

… demolidor, angustiante, desgastante, brutal, brilhante, são adjectivos que, na minha insignificante opinião, qualificam o primeiro filme de Steve McQueen (não confundir com o já falecido actor americano), “Fome” (“Hunger”) de 2008. Não é um filme de horror nem tão-pouco um horror de filme, é um filme de resistência e coragem.
Depois de ver “Em Nome do Pai” (“In The Name of the Father”), um dos meus filmes de culto, e “Michael Collins”, que abordam a luta pela independência da Irlanda do Norte e a organização clandestina e nacionalista irlandesa (IRA), a R. aconselhou-me a ver “Hunger” e ainda bem que o fez porque o filme é indiscutivelmente excepcional.
Estamos em 1981. Inicialmente, acompanhamos o dia-a-dia de um guarda do estabelecimento prisional de Maze em Belfast, onde dá entrada um novo prisioneiro que é colocado numa cela imunda e nua onde se encontra outro recluso, um dos muitos prisioneiros do IRA, que se entrega audaciosamente ao Blanket and No Wash Protest (trancados nas celas, sem qualquer tipo de tarefa/entretenimento, recusavam vestir o uniforme da prisão, usavam apenas cobertores e recusavam lavar-se) que tinha sido iniciado em 1976.
Este é um daqueles filmes que nos desperta os sentidos. O cheiro dos dejectos é repugnante, as cenas da brutalidade prisional são dolorosas, sofremos na pele e na carne os espancamentos e as violações quando são revistados, escutamos o ressoar dos bastões, da polícia de intervenção, nos escudos, perturbamo-nos com o próprio silêncio…
O tema central do filme é a greve de fome iniciada pelos reclusos e liderada por Bobby Sands (Michael Fassbender), um activista do IRA, com o propósito de levar a primeira-ministra Margaret Thatcher a atribuir-lhes o estatuto de prisioneiros políticos, que lhes tinha sido negado. A cena mais intensa do filme, parco em diálogos, tem uma duração de cerca de vinte minutos e baseia-se num diálogo magnífico, uma esgrima polida e calorosa de raciocínios entre Sands, defendendo que a greve de fome é o seu último recurso, e o padre Moran, que contesta, argumentando que a mesma é um meio de pôr termo à vida. Na última parte do filme assistimos, com um realismo chocante, à degradação física de Bobby Sands até à sua morte, depois de 66 dias de greve de fome, mas sempre com uma convicção clara e inflexível.
Michael Fassbender num desempenho fora de série e brutal.

hunger
fassbender-1
Lutar por um objectivo, levar essa luta até às últimas consequências e sofrer para sustentar as suas opiniões é de uma bravura notável e de uma força moral que têm toda a minha admiração e reconhecimento.

Sem comentários: