sexta-feira, 17 de maio de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (73)

“Jesus Cristo bebia cerveja” (Prémios Time Out Lisboa 2012 - Livro do Ano) é o primeiro romance que li de Afonso Cruz, um autêntico homem dos sete ofícios. Escritor, ilustrador, músico, realizador de filmes de animação e produtor de…cerveja!
A minha estreia não podia ter sido mais prometedora. Gostei do estilo narrativo, das ideias singulares, dos argumentos convincentes e da descrição dos lugares. O enredo passa-se numa pequena aldeia alentejana, num passado pouco distante, mas completamente parado no tempo. Rosa, a protagonista da história, nunca teve uma vida afortunada, o pai enforcou-se, o avô atirou-se a um poço e a mãe fugiu de casa. O fio condutor da narrativa é o desgosto da avó de Rosa de morrer sem visitar a Terra Santa. À primeira vista parece um enredo vulgar, apesar de comovente, mas Afonso Cruz consegue, através da originalidade de carácter das personagens, que a narrativa tome um rumo imprevisto e insólito.
Como Rosa não pode levar a avó a Jerusalém, e lá diz o ditado “Quando Maomé não vai à montanha vai a montanha a Maomé”, o professor Borja arquitecta uma forma de trazer a Terra Santa à aldeia alentejana. Para que esta patranha colossal corra bem é necessário que a encenação seja perfeita, mas será que a avó de Rosa embarca na farsa? Posso levantar a pontinha do véu, dizendo que o bar de strip em forma de avião vai servir para transportar a velha senhora… Todos os pormenores são tidos em conta e o professor Borja, sem discussão possível, diz que “o que se bebia no espaço geográfico em que Cristo habitava era cerveja. O vinho era uma bebida de romanos, dos invasores. Cristo não iria beber a bebida dos ricos, dos opressores”.
E o que vai acontecer a Rosa? “É certo e sabido que o final feliz é uma invenção humana, uma necessidade de obliterar a morte. A vida nunca acaba bem”.

JC1

Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma história comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida: o amor, o sacrifício, e a cerveja.

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