domingo, 2 de agosto de 2009

Memórias e Afectos (31)

Praias – 1ª Parte: Infância

Li, aqui há uns dias, numa revista, que as praias têm a ver com fases da nossa vida e quando elas terminam parece que esses sítios deixam de fazer sentido.
Não estou inteiramente de acordo. Admito que as praias têm a ver com fases da nossa vida mas, pessoalmente, não aceito a ideia que elas deixem de fazer sentido, apenas porque há fases da minha existência que vão ficando para trás.
Guardo boas recordações das praias por onde tenho passado nas várias etapas da minha vida, Foz do Arelho, Pinhão, Armação de Pêra e Manta Rota mas, sem hesitação, eu diria que, até agora, a Foz do Arelho não se limita a ser uma praia, é a Praia!
É a Praia porque tem uma enorme carga afectiva, porque tenho dela memórias valiosíssimas e únicas, porque lá me sentia parada no tempo, porque é a praia da minha infância…

Fotos “gentilmente roubadas” ao Blog “Águas Mornas”

Era nas Caldas da Rainha que passávamos o Verão, durante a mítica década de 60 e era, portanto, para a Foz do Arelho que íamos a banhos. Saíamos de manhã e geralmente vínhamos almoçar às Caldas, querendo isto dizer que, grande parte dos dias apanhávamos banhos de neblina em vez de banhos de sol mas a verdade é que eu regressava de férias super bronzeada…
Recordo, como se fosse ontem, a estrada da Foz, ladeada de árvores. A minha tia M. guiava bem e quando se enervava pisava muito o acelerador. Lembro-me do meu pai, não querendo ficar malvisto, acelerar atrás dela… Quase não havia carros naquela estrada.
Recordo, como se fosse ontem, a barraca de tecido branco que os meus pais alugavam, assim como os meus tios, assim como a tia J. e o tio Q., que eram só tios dos meus primos. Enfim, cada um tinha a sua barraca mas eram todas seguidas para estarmos perto uns dos outros. Inicialmente íamos para a lagoa e só mais tarde começámos a ir para a aberta.
Recordo, como se fosse ontem, a minha permanência dentro de água até os dedos ficarem engelhados e os lábios roxos (até cheguei a comer pastéis de nata dentro de água…). Os adultos diziam que a água estava muito fria mas para os miúdos estava sempre óptima. Hoje em dia sou eu que estou na pele dos adultos de outrora…
Recordo, como se fosse ontem, os vendedores com as caixas de metal que tinham uns tabuleiros que eles puxavam para que pudéssemos escolher os bolos e os vendedores de batatas fritas em pacotes transparentes e sem identificação do fabricante.
Recordo, como se fosse ontem, quando a minha mãe, sem saber nadar, ficou sem pé e gesticulou pedindo ajuda. Eu e o J. à beira-mar não percebemos que a minha mãe estava numa grande aflição. A sorte da minha mãe e a minha, claro, foi ter tido sangue frio suficiente para começar a dar aos braços até ficar novamente com pé.
Recordo, como se fosse ontem, o jogo do prego, espetando-o de formas diferentes na areia seca, apesar de não me conseguir recordar exactamente das várias maneiras de o atirar.
Recordo, como se fosse ontem, a minha grande alegria quando aprendi a nadar de costas e da sensação deliciosa que era estar em cima do colchão de praia, vermelho, balanceando na água.
Tudo isto são memórias da minha infância que eu recordo como se fosse ontem...

2 comentários:

Zé Ventura disse...

Olha tu cuida-te que isso é sinónimo de velhice…
Mas que a Foz tem um encanto especial...lá isso tem

Pezinhos na Areia disse...

Obrigada Zé pela preocupação...
Sabes que esta rubrica "Memórias e Afectos" é o meu arquivo e tenho que aproveitar enquanto a memória só me atraiçoa de vez em quando.
Mais vale prevenir, não vá um dia sofrer de alzheimer...