sábado, 25 de outubro de 2008

Memórias e Afectos (4)

Ao meu querido avô R.
Faz hoje precisamente quarenta e um anos que deixei de o ver.
Deixo-lhe aqui uma homenagem, escrita por mim há mais de trinta anos, que continua actual e sentida.
A palavra avozinho irá, teimosamente, aparecer com um acento circunflexo porque eu gosto…(não tenho o estatuto do nosso prémio Nobel, mas a palavra escrita com o acento parece-me mais carinhosa…).


São 6 horas!
Como eu te recordo avôzinho…
Morreste mas só para o mundo, estás vivo no meu coração…
Lembro-me quando a esta hora voltavas do trabalho, avôzinho, e o Tejo…o Tejo corria a sentar-se à porta à tua espera.
É impossível descrever o que sinto neste momento mas tu compreendes-me, não é assim avôzinho? Depois de chegares a casa, cansado e às vezes triste, falavas sempre comigo e com o J., os teus netos mais novos. Íamos juntos ao quintal e à noite…lembras-te avôzinho? Na tua cama, deitados, e dizíamos baixinho: conta-nos uma história avôzinho…e cheio de paciência, lá começavas a contar uma história que quase sempre não chegava ao fim porque ou tu adormecias, fatigado de mais um dia de trabalho ou adormecíamos nós, quando o João Pestana vinha baixar-nos as pálpebras levemente…
Os teus olhos já não podem sorrir para mim mas eu olho a tua fotografia e parece-me que estás aqui ao meu lado…
Como eu te recordo avôzinho…sentado à secretária e o Tejo deitado aos teus pés, muito enroscadinho.
E quando à tardinha íamos passear de mãos dadas…espera, espera, que ainda me lembro onde costumávamos ir com o Tejo…ao pé da igreja…do tribunal…e outras vezes íamos até à estação dos comboios…
Mas tudo isto já foi há muito tempo…e como o tempo passa…
Gostava tanto de te ter aqui ao meu lado e poder dizer baixinho:
Conta-me uma história avôzinho…

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