sexta-feira, 10 de julho de 2009

Message in a bottle (19)

(Excertos de uma crónica de José Luís Peixoto na Visão)

Nunca gostei de dizer “as minhas ex-mulheres” (duas). Não apenas pelo tom de Elizabeth Taylor que essa expressão confere a qualquer frase, mas sobretudo pelo facto de as pessoas em questão não serem ex-nada, ambas continuam a ser o que são e, hoje, talvez até sejam bastante mais do que eram perto de mim.
Foi em Cabo Verde que aprendi a expressão “mães dos meus filhos”. É a mais correcta. Não apenas porque tem a palavra “mãe”, algo que elas são de forma infinita, mas também porque não nomeia aquilo que são para mim, o que é certo, uma vez que aquilo que são para mim não tem nome, existe no meu interior e, lá, tem todos os nomes impossíveis da gratidão absoluta e do afecto indelével e absoluto.
Gostava de ter a coragem de ser como aquele escritor americano que há cinco ou seis anos conheci em Haia, na Holanda.
Era noite, caminhávamos pelas ruas desertas de Haia, chovia um véu que nos cobria o rosto.
Ele passava dos sessenta anos, eu ainda não tinha trinta, falava-me dos filhos que eram homens e lhe telefonavam duas ou três vezes por ano, falava-me da solidão. Disse que estava sozinho há quase quinze anos.
Quando lhe perguntei o motivo pelo qual não procurava companhia, respondeu-me que não queria fazer mal a mais ninguém…
Essas palavras ficaram-me, ouço-as muitas vezes.

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