quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Postcrossing (23)

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RU-1415803 enviado pela KaterinaEsta arquitecta moscovita tinha regressado de umas férias em Praga e enviou-me um postal da magnífica biblioteca do Royal Canonry of Premonstratensians at Strahov, um dos mais antigos mosteiros da Ordem dos Premonstratenses ou Norbertinos fundada em 1119 na localidade francesa de Prémontré.Perguntou-me a Katerina se eu tinha lido “O Nome da Rosa” de Umberto Eco e se esta biblioteca me fazia recordar a biblioteca desse livro. Com muita pena minha, na mensagem que lhe enviei a agradecer, quando do registo do postal, tive que lhe dizer que não. Quem leu o livro estará, certamente, de acordo comigo. A biblioteca do postal, dedicada à Filosofia, foi construída para os livros provenientes do convento Louka, na região da Morávia, fechado em 1782. Os frescos, pintados por Franz Maulbertsch, mostram a luta da humanidade pelo conhecimento.A biblioteca da abadia de "O Nome da Rosa" é da época medieval europeia, ou seja, muito antes do século XVIII.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Funny Old Ladies

Pondero, agora, se não deveria ter seguido os meus interesses, os meus instintos juvenis, e enveredado por uma carreira na área da investigação criminal… A minha tendência natural para a pesquisa é nata e, como já referi aqui, sempre tive uma queda (só nunca soube onde devia cair…) para a polícia judiciária britânica, isto é, para a Scotland Yard… Se tivesse dado seguimento a essa vocação poderia ter solucionado casos que ficaram por explicar, como “Soho clockmaker “, ”Baby Farming Case”, “Killer in the Fog” ou mesmo “The Whitechapel Murders”… Esqueçam, estes casos ocorreram no século XIX…
Quero acreditar que ninguém me levou a sério no parágrafo anterior. Ou houve por aí alguém que tenha, por segundos, pensado que eu estava plenamente convicta do que dizia? Alguém que não tenha acanhamento para confessar que me achou doida varrida?
Bem, pois eu confesso que idealizar-me, qual Sherlock Holmes, a resolver enigmas através da lógica dedutiva, a dominar uma vasta quantidade de assuntos, a tocar violino, a consumir cocaína, a passar noites sem dormir, a ser um mestre na arte do disfarce e a esclarecer a mente fumando cachimbo, habita o meu imaginário… Digam lá, agora é que pensam que sou chanfrada de todo! É bem possível que seja uma loucura, mas vejo-a como uma loucura saudável, aquela loucura que nos permite quebrar a monotonia diária, a rotina enfadonha, e nos ajuda a suportar a vida.
O que me levou a iniciar o texto desta forma foi justamente a minha faceta “sherlockiana” que me conduziu, pela lógica, a um reencontro com a B., colega e amiga que não via há mais de trinta anos…
Não vou contar como a encontrei, pois isso levaria a revelar a minha “arte” e, mais importante do que isso, a desvendar a profissão dela, ou seja, seria violação de privacidade, mas posso afirmar que não foi através das redes sociais, o que tem muito mais valor. Posso apenas divulgar que nos passámos a tratar por “Sherlock” e “Watson”…
O reencontro aconteceu no dia 15 deste mês, em Torres Vedras, pelas 20h30m. A minha filha A. e o R. levaram-me até lá e testemunharam “aquele abraço” e a loucura sadia de duas cinquentonas. Posteriormente, a minha filha disse-me que o “quadro” lhe recordou os postais das “Funny Old Ladies” (que curiosamente eu adoro…) da ilustradora finlandesa Inge Löök… Pessoalmente tomei isto como um elogio (da loucura…), mas não sei o que a B. achará da chalaça, provavelmente o mesmo que eu já que somos as duas bem-humoradas. Aqui deixo três ilustrações para que possam avaliar o que a minha filha quis dizer…

Old
Depois… depois foi a alegria e a felicidade do reencontro…
Depois… depois foi um fim-de-semana de ternas recordações com muito fumo à mistura como se estivéssemos num conclave para eleger o novo Papa. Depois… depois foi um fim-de-semana como qualquer outro há trinta e tal anos, como se retomássemos a conversa que tínhamos deixado no dia anterior, como se não tivesse existido um hiato de tantos anos… Depois… depois foi um fim-de-semana de partilha de intimidades, daquelas que só conseguimos compartilhar quando o sentimento de amizade é legítimo e nos aconchega a alma… Depois… depois foi um fim-de-semana de devaneios, de risos, de evocar amigos, de folhear o álbum de fotografias a preto e branco, de lembrar nomes que fazem parte da nossa infância e da nossa adolescência… Depois… depois foi um fim-de-semana de cumplicidade, de cavaqueira, diálogos de ontem, de hoje, de amanhã, de incertezas quanto ao futuro… Depois… depois foi um fim-de-semana em que me senti acarinhada, conheci a determinada filha da B. e revi a sua mãe, uma senhora fora de série, e irmã, uma quarentona espontânea que relembro pequenita e alvo das “ordens” da B. que fazia dela “criada”…
Depois… depois foi um dueto de emoções, uma viagem ao passado…
Depois… depois foi, como era previsto, um fim-de-semana mágico!
Elementar, meu caro Watson!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Postcrossing (22)

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Este mapa chegou- me dos States, através de troca de correspondência (direct swap) com a Lisa, uma americana que, tal como eu, vive com duas filhas e dois gatos… Gosto bastante (do postal e da minha situação, claro!).

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Postcrossing (21)

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Postal_BY

BY-698558 enviado por Oksana
Esta bielorussa vive perto de Hrodna, a terceira cidade mais populosa da Bielorrússia, localizada próxima da fronteira com a Polónia e a Lituânia. Impressionante é o número de bibliotecas públicas desta cidade, nada mais, nada menos que 14, sendo seis infantis! Surpreendente, não é? Conseguem, por segundos, imaginar a Amadora, a nossa terceira cidade mais populosa, com estas bibliotecas todas? Impensável… e triste. Acreditam que em Moscovo e S. Petersburgo aproveitam todos os sítios para ler? Até as escadas rolantes do metro (algumas estações construídas durante a Segunda Guerra Mundial ou que passam sob o rio Moscou são muito profundas e foram planeadas para serem abrigos seguros em caso de bombardeamento; assim, há escadas com 120 metros). Cultura, meus amigos, ah pois é…
Julgo que o postal será dos gratuitos porque faz publicidade a um café, mas poderei estar enganada. Na verdade, o mais relevante é o desenho que a Oksana fez e que aqui deixo como prova da sua habilidade.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (69)

Esther Mucznik, estudiosa das questões judaicas, redigiu de forma exímia o livro “Portugueses no Holocausto”, baseando-se numa investigação profunda e cuidada.
As ideias fulcrais que retirei da leitura foram perturbantes. O anti-semitismo e a xenofobia estavam espalhados, não só na Alemanha, mas em vários países europeus; alguns governos colaboraram activamente com os nazis na “Solução Final”, ultrapassando mesmo as expectativas alemãs; a passividade com que o mundo permitiu o extermínio do povo judeu. Concluindo, se povos e governos se tornaram cúmplices destes crimes, a responsabilidade pesa sobre toda a humanidade.

portugueses

Editora: A Esfera dos Livros

[…] Este livro é dedicado a todos os portugueses que morreram no Holocausto, vítimas dos crimes nazis e, entre todos eles, aos descendentes de portugueses expulsos pela Inquisição refugiados em Amesterdão, Istambul ou Salónica. Salvaram-se das fogueiras da Inquisição mas não das câmaras de gás. Acreditaram que eram portugueses, mas Portugal não os reconheceu como tal. No momento em que precisavam desesperadamente da nacionalidade portuguesa, esta foi-lhes negada. […]
[…] …grande maioria dos refugiados que procuravam desesperadamente fugir da Europa ocupada, dos seus campos de morte e de trabalho escravo… […] eram indesejáveis em todo o lado, como o comprovou a Conferência de Evian convocada pelo presidente Roosevelt, em Julho de 1938, para solucionar o problema do acolhimento dos refugiados judeus da Alemanha. Na conferência, para a qual Portugal não foi convidado, participaram trinta e dois países, mas apenas um, a República Dominicana, se mostrou disponível para os receber. […] Hitler regozijou-se com esta atitude, destacando com cinismo o facto de os países criticarem a sua política relativamente aos judeus, mas nenhum deles abrir as suas portas para os acolher. […]
[…] Para o Führer, a indiferença do mundo face à sua política anti-judaica foi um claro sinal de que podia avançar com o seu sinistro plano sem nenhuma oposição de monta. […]
[…] … destaca-se uma ideia-chave: a força das convicções que animavam, não apenas os nazis, mas vastos sectores da sociedade alemã. A “Solução Final” não foi obra de um punhado de loucos e de monstros que decidiram de um momento para o outro varrer da face da terra judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e deficientes. Não foi uma imposição ditatorial sobre uma população relutante e amedrontada. Foi uma tarefa colectiva levada a cabo com entusiasmo por milhares de pessoas que, voluntariamente, decidiram contribuir para a máquina de morte nazi, convencidos de que esse era o caminho necessário, justo e correcto para a Alemanha. […]
[…] O racismo e, muito especialmente o anti-semitismo são fenómenos muito anteriores a Hitler e ao nazismo mas foram o terreno fértil que alimentou o nacional-socialismo. Muitas pessoas culpavam os judeus pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e por todos os males que se lhe seguiram. […]
[…] Hitler não trouxe qualquer originalidade ao pensamento político; trouxe, sim, originalidade de liderança. E os alemães viraram-se para ele na esperança de uma solução para os problemas do país. […]
[…]… a reflexão sobre o Holocausto e a forma como se processou leva-nos a uma conclusão assustadora: o genocídio nazi aconteceu não apesar do alto nível educacional, cultural e tecnológico da sociedade alemã, mas devido a ele. […]
[…] … isto não é apenas o resultado de espíritos toldados por uma ideologia assassina, mas também da acção conjugada de homens e mulheres dotados de elevadas competências técnicas em todos os escalões da sociedade. […]
[…] Mas o que também fica para a História é que, enquanto a Alemanha e os seus aliados consagraram grandes esforços e recursos para o extermínio do povo judeu e de muitos outros civis de convicções, religiões e etnias diversas, o mundo observava sem se comprometer. […]
[…] Como refere o historiador Ian Kershaw: “A estrada de Auschwitz foi construída pelo ódio, mas o seu pavimento foi a indiferença.” […]
[…] … Salazar, que acumulava as pastas de Presidente do Conselho, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra teve conhecimento dos crimes nazis, através dos seus representantes diplomáticos espalhados pela Europa…[…]
[…] …Apesar disso, recusou-se a atender os pedidos desesperados dos quatro mil judeus descendentes de portugueses da Holanda, cuja vida acabou ceifada em Auschwitz, ou dos portugueses da Grécia e da Turquia a quem negou a nacionalidade que os poderia ter resgatado. […]
[…]…Portugal não sai pior no retrato do que os outros países neutros ou até, do que os próprios Aliados. […] Exceptuando a Dinamarca que defendeu e salvou efectiva e colectivamente a sua comunidade judaica, só já no final, quando o mal estava praticamente consumado e a derrota da Alemanha irreversível, é que os países neutros e os Aliados tomaram algumas iniciativas no que diz respeito ao salvamento de civis. Salazar não é uma excepção nas considerações de realpolitik que nortearam, na época, a política da grande maioria dos governos. […]
[…] À pergunta que nos surge constantemente ao espírito: “podia ter-se feito mais?”, não tenho dúvida em dizer que sim. […] …Tudo o que se fez representa necessariamente uma gota de água no oceano imenso e terrível daqueles por quem nada pôde ser feito. Portugal podia ter feito mais, o mundo podia ter feito mais, as próprias organizações judaicas internacionais, os judeus portugueses também. Mas não podemos mudar a história. Podemos apenas fazer os possíveis para que ela não se repita. […]

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Being Flynn

Being Flynn é uma adaptação cinematográfica de “Another Bullshit Night in Suck City” (Mais uma Noite de Merda nesta Cidade de Treta), um aclamado livro de memórias da autoria do poeta e dramaturgo Nick Flynn.

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Uma atribulada relação entre pai e filho, que não se viam há dezoito anos, e o problema crescente dos sem-abrigo e da pobreza. Robert De Niro “veste”, de um modo magnífico, a pele de Jonathan Flynn. Jonathan, um trapaceiro que abandonou a família, acabou por se tornar um sem-abrigo violento e racista que se define a si próprio como um grande escritor e que nunca conseguiu, ao longo da vida, reconhecer e consciencializar-se de que não tem qualquer carreira literária. Paul Dano, que eu já tinha tido a oportunidade de ver em “Looper” e “Little Miss Sunshine”, não se deixou intimidar por De Niro e entrou neste “duelo” desempenhando brilhantemente Nick Flynn, o filho de Jonathan. Nick, traumatizado com a morte da mãe, é um jovem escritor que procura definir-se e que arranja um emprego num centro de acolhimento aos sem-abrigo…
Um drama intenso, mas Robert De Niro conseguiu fazer-me sorrir com algumas tiradas arrogantes… Gostei muito, mesmo muito!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Candidato-me…

Salvem o Gato (por Maria José Morgado)

No fim do dia no Campus de Justiça de Lisboa a escuridão rodeia o conjunto de edifícios de vidro, um halo de fantasia desprende-se do peso do silêncio, da extensão feérica do brilho das luzes. O computador encerrado na ansiedade crónica da justiça dos dias, matemática intangível destas paragens.
Estamos bem instalados, perdemos funcionários todos os dias, não existem os recursos de produtividade, a renda e o condomínio custam ao contribuinte €9600 milhões e €1.3 milhões respetivamente. Nos próximos 18 anos a soma rondará mais de €220 milhões, se lá chegarmos. Quem protege o Estado do Estado?
Flutuo até à portaria onde a esta hora costuma recolher-se o pequeno gato que adotamos e alimentamos. A imagem do bichano enrolado em sono profundo dignamente instalado ao lado do segurança espalha um inesperado bem-estar. É assim desde que o adotamos quando apareceu a morrer junto ao nosso edifício. A frequência destas instalações pelo gato causou inicialmente grande agitação junto da administração Campus. Um escândalo. Mas o bichano tem vantagens enormes e ficou.
A atitude perante a natureza e a vida não-humana é sempre reveladora de opções éticas e culturais. Acontece que o gatinho tem vantagens ambientais e qualidades inestimáveis.
Está vacinado, esterilizado, registado, tem seguro de saúde. Pode ser visto à porta do edifício do costume com o seu porte orgulhoso de gato amarelo às riscas ao lado dos polícias e dos seguranças, ou no espaço circundante à caça de pássaros, gafanhotos e ratos. Uma contribuição ecológica para o controlo sem químicos das pragas de ratazanas.
Por vezes é raptado por desconhecidos mas acaba sempre por regressar a casa — no que tem revelado invulgar capacidade de sobrevivência, mesmo para um gato. É um gato meigo, reservado e fiel. Não representa qualquer perigo e revela comportamentos adaptados ao local. Adora polícias, seguranças, fardas que são os seus fornecedores da ração. Foge dos grupos de pessoas de etnia cigana, importantes frequentadores deste Campus, talvez com medo que os miúdos lhe puxem a cauda.
Domina os horários burocráticos. Ao fim de semana, estando fechado o DIAP, faz o seu turno alimentar no Tribunal de Instrução Criminal para onde se desloca e onde é estimado. À segunda-feira de madrugada está novamente à nossa porta com o seu ar feliz. De vez em quando mostra alguma curiosidade por ajuntamentos jornalísticos à porta dos tribunais, observando-os às escondidas.
Um dia destes acaba-se o dinheiro para as rendas e têm que nos pôr nalgum lado. Talvez nos restem uns contentores à beira-rio, hipótese que já nem me aflige. Assalta-me um único desventurado pensamento: quem acudirá ao gato quando tudo se desmoronar? Tornou-se dependente de nós mas está inocente. É o único ser vivo neste espaço que não se alimenta do OGE. Nessa altura salvem ao menos o gato. Alimentá-lo, só custa 20 euros por mês.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Postcrossing (20)

Germany
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DE-1792763 enviado pelo Stefan
Este alemão enviou-me um magnífico mapa que apresenta a Floresta do Palatinado ou o planalto Pfälzerwald. É uma região montanhosa, no sudoeste da Alemanha, localizada no estado da Renânia-Palatinado e tem um rico património paisagístico, histórico e cultural, sendo caracterizada por um grande número de castelos e palácios.
Percam-se no Google em busca destas pérolas…

Castelos
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Message in a bottle (76)

Não ofereça sabedoria a quem só pode pagar com ignorância (por Max Gehringer, jornalista da Central Brasileira de Notícias)

Um rato saiu de manhã para o seu dia-a-dia e no caminho cruzou-se com um caracol. Muitas horas depois, após um dia exaustivo em que teve de labutar para arranjar comida e escapar aos predadores, o rato regressou e notou que o caracol não tinha andado mais do que uns 2 metros.
O rato parou e comentou que se sentia compadecido pelo facto do caracol ter uma vida tão monótona, tão sem emoções, enquanto ele, rato, conseguira viver, em apenas um dia, aventuras que o caracol não iria provavelmente conseguir viver em toda a sua existência.
"Emérito rato", respondeu o caracol, "como tenho bastante tempo para observar e reflectir, permita-me oferecer-lhe alguns dados comparativos entre as nossas espécies, que talvez possam ajudá-lo a rever o seu ponto de vista. Os caracóis têm casa própria enquanto os ratos são escorraçados de todos os lugares onde chegam. Os caracóis vivem em jardins e os ratos em esgotos. O alimento dos caracóis está sempre ao seu alcance, enquanto os ratos precisam de caminhar horas e horas para encontrar comida. Por isso, os caracóis podem passar o dia a apreciar a natureza, ao passo que os ratos não podem descuidar-se nem por um segundo. E não por acaso, a esperança de vida dos caracóis é de cinco anos, dois anos mais do que os ratos."
O rato ouviu tudo atentamente e concluiu que o caracol tinha razão, e com uma violenta patada esmagou o caracol.
Felizmente o solo era bastante fofo e o caracol sobreviveu, mas aprendeu uma lição para o resto da vida: Por mais razão que se tenha, nunca se deve tentar revelar a alguém que se acha importante e detentor da verdade, o que efectivamente vale.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Message in a bottle (75)

… ou O glutão do BPI…

“Maior crime que roubar um banco, é fundar um banco”
Brecht

Sem açúcar nem afecto, em discurso directo (por Alice Brito, advogada, dirigente do Bloco de Esquerda)

Sei que a raiva não é boa conselheira. Paciência. Aí vai.
Havia dantes no coração das cidades e das vilas umas colunas de pedra que tinham o nome de picotas ou pelourinhos. Aí eram expostos os sentenciados que a seguir eram punidos com vergastadas proporcionais à gravidade do seu crime. Essa exposição tinha também por fim o escárnio popular. Era aí que eu te punha, meu glutão.Atadinho com umas cordas para que não fugisses. Não te dava vergastadas. Vá lá, uns caldos de vez em quando. Mas exibia-te para que fosses visto pelas pessoas que ficaram sem casa e a entregaram ao teu banco. Terias de suportar o seu olhar, sendo que o chicote dos olhos é bem mais possante que a vergasta.Terias, pois, de suportar o olhar daqueles a quem prometeste o paraíso a prestações e a quem depois serviste o inferno a pronto pagamento. Daqueles que hoje vivem na rua. Daqueles que, para não viverem na rua, vivem hoje aboletados em casa dos pais, dos avós, dos irmãos, assim a eito, atravancados nos móveis que deixaram vazias as casas que o teu banco, com a sofreguidão e a gulodice de todos os bancos, lhes papou sem um pingo de remorso.
Dizes com a maior lata que vivemos acima das nossas possibilidades. Mas não falas dos juros que cobraste. Não dizes, nessas ladainhas que andas sempre a vomitar, que quando não se pagava uma prestação, os juros do incumprimento inchavam de gordos, e era nesse inchaço que começava a desenhar-se a via-sacra do incumprimento definitivo.
Olha, meu estupor, sabes o que acontece às casas que as pessoas te entregam? Sabes, pois... São vendidas por tuta e meia, o que quer dizer que na maior parte dos casos, o pessoal apesar de te ter dado a casa fica também com a dívida. Não vale a pena falar-te do sofrimento, da vergonha, do vexame que integra a penhora de uma casa, porque tu não tens alma, banqueiro que és.
Tal como não vale a pena referir-te que os teus lucros vêm de crimes sucessivos. Furtos. Roubos. Gamanços. Comissões de manutenção. Juros moratórios. Juros compensatórios, arredondamentos, spreads, e mais juros de todas as cores. Cartões de crédito, de débito, telefonemas de financeiras a oferecerem empréstimos clausulados em letrinhas microscópicas, cobranças directas feitas por lumpen, vale tudo, meu tratante. Mesmo assim tiveste de ser resgatado para não ires ao fundo, tal foi a desbunda. E, é claro, quem pagou o resgate foram aqueles contra quem falas todo o santo dia.
Este país viveu décadas sucessivas a trabalhar para os bancos. Os portugueses levantavam-se de manhã e ainda de olhos fechados iam bulir, para pagar ao banco a prestação da casa. Vidas inteiras nisto. A grande aliança entre a banca e a construção civil tornavam inevitável, aí sim, verdadeiramente inevitável, a compra de uma casa para morar. Depois os juros aumentavam ou diminuíam conforme era decidido por criaturas que a gente não conhece. A seguir veio a farra. Os bancos eram só facilidades. Concediam empréstimos a toda a gente. Um carnaval completo, obsessivo, até davam prendas, pagavam viagens, ofereciam móveis. Sabiam bem o que faziam.
Na possante dramaturgia desta crise entram todos, a banca completa e enlouquecida, sendo que todos são um só. Depois veio a crise. A banca guinchou e ganiu de desamparo. Lançou-se mais uma vez nos braços do estado que a abraçou, mimou e a protegeu da queda.
Vens de uma família que se manteve gloriosamente ricalhaça à custa de alianças com outros da mesma laia. Viveram sempre patrocinados pelo estado, fosse ele ditadura ou democracia. Na ditadura tinham a pide a amparar-vos. Uma pide deferente auxiliava-vos no caminho. Depois veio a democracia. Passado o susto inicial, meu deus, que aflição, o povo na rua, a banca nacionalizada, viraram democratas convictos. E com razão. O estado, aquela coisa que tu dizes que não deve intervir na economia, têm-vos dado a mão todos os dias. Todos os dias, façam vocês o que fizerem.Por isso falas que nem um bronco, com voz grossa, na ingente necessidade de cortes nos salários e pensões. Quanto é que tu ganhas, pá?Peroras infindavelmente sobre a desejável liberalização dos despedimentos. Discursas sem pejo sobre a crise de que a cambada a que pertences é a principal responsável.
Como tu, há muitos que falam. Aliás, já ninguém os ouve. Mas tu tinhas que sobressair. Depois do “ai aguenta, aguenta”, vens agora com aquela dos sem-abrigo. Se os sem-abrigo sobrevivem, o resto do povo sobreviverá igualmente.
Também houve sobreviventes em Auschwitz, meu nazi. É isso que tu queres? Transformar este país num gigantesco campo de concentração?
Depois, pões a hipótese de também tu poderes vir a ser um sem-abrigo. Dizes isto no dia em que anuncias 249 milhões de lucros para o teu banco. É o que se chama um verdadeiro achincalhamento.
Por tudo isto te punha no pelourinho. Só para seres visto pelos milhares que ficaram sem casa. Sem vergastadas. Só um caldo de vez em quando. Podes dizer-me que é uma crueldade. Pois é. Por uma vez terás razão. Nada porém que se compare à infinita crueldade da rapina, da usura que tu defendes e exercitas.
És hoje um dos czares da finança. Vives na maior, cercado pelos sebosos Rasputines governamentais. Lembra-te do que aconteceu a uns e ao outro.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Let's look at the trailer (30)

American History X (América Proibida) é um filme de 1998 dirigido por Tony Kaye.
Danny Vinyard (Edward Furlong) é um adolescente influenciado pelo irmão mais velho, Derek (Edward Norton), um skinhead repleto de ódio por todos os que são diferentes de si. A aversão a outras raças dispara com a morte do pai. Ele inicia uma viagem ao mundo da violência que o vai levar à prisão. Nesse período de solidão Derek apercebe-se que pode ser um homem diferente. A sua única incerteza é se vai ser capaz de ajudar o seu irmão… Um retrato do racismo através da tragédia íntima de dois irmãos.

O filme vai alternando cenas a preto e branco, o passado, que nos mostram como Derek entrou num grupo de extrema-direita, cometeu um crime (a cena é rápida, mas chocante…), é preso e o sofrimento na prisão, e cenas a cores que representam o presente e a sua luta para tirar o irmão daquele condenável mecanismo.
Edward Norton, que teve neste filme a sua segunda nomeação para os Óscares, tem uma interpretação notável. Não posso deixar de salientar algumas cenas sublimes: quando Derek é preso; o discurso racista, anti-semita e xenófobo que Derek faz sentado à mesa, em que as palavras brotam cheias de ódio; quando chora na prisão, depois de…(não vou contar…); a cena final. O filme é brilhante, brutal, marcante, explosivo.
Baseado numa história verídica, América Proibida é, sem dúvida, um dos melhores filmes que tive o privilégio de ver e achei-o tão memorável que seria uma falha não ver o último filme deste realizador, Detachment (O Substituto).

Postcrossing (19)

RU - Cópia

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RU-1373759 enviado pela Anna
A Anna tem 22 anos e é uma estudante russa que vive na cidade de Kirov, que passou a ter esta designação apenas em 1934, em homenagem ao revolucionário Sergei Kirov. Estas figuras, do antigo e histórico artesanato popular russo, são moldadas em barro e pintadas à mão, e continuam a ser feitas na vila de Dymkovo, perto Kirov (ex-Vyatka). Estamos sempre a aprender!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Poupar nas anestesias…

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Justiça versus Vingança

Law Abiding Citizen (Um Cidadão Exemplar) é outro filme de acção dirigido por Félix Gary Gray, mas, ao contrário de The Italian Job, considero-o muito bom.
Clyde Shelton (Gerard Butler) assiste, impotente, ao assassínio brutal da mulher e da única filha. Os culpados são presos, mas o procurador, Nick Rice (Jamie Foxx), oferece um acordo para que um deles cumpra apenas uma pena leve em troca do seu testemunho contra o seu cúmplice.
Dez anos depois, o assassino, já em liberdade, é encontrado morto e Shelton confessa a autoria do crime. É preso, mas faz um ultimato ao procurador dizendo-lhe que terá que corrigir o sistema judicial que falhou em relação aos assassinos da sua família ou todos os envolvidos no caso acabarão por pagar da pior maneira...

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O suspense é crescente e, porque um cidadão exemplar terá sempre que se revoltar com a ineficácia do sistema judicial, torcemos por Clyde Shelton que, mesmo preso, espalha o terror. Sangrento! Quando a justiça não funciona, a crueldade toma conta do ser humano. Gostei do desempenho de Gerard Butler, que contrasta com uma interpretação apagada de Jamie Foxx. Opiniões de uma bloguista, não de uma perita em cinema. Se forem muito impressionáveis, é melhor não verem!...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Um Golpe (alemão) em Itália

The Italian Job (Um Golpe em Itália), dirigido por Félix Gary Gray, é um remake de 2003 do filme britânico com o mesmo nome, dos finais da década de 60.
Um roubo de vários milhões em barras de ouro, em Veneza, que não corre bem. O grupo é traído por um dos envolvidos que, durante a fuga, mata John, o arrombador de cofres, interpretado por Donald Sutherland. Enquanto o traidor (Edward Norton) pensa que não houve sobreviventes, estes, chefiados por Charlie Croker (Mark Wahlberg), arquitectam um plano para reaver o ouro e, desta vez, quem arrobará o cofre será a filha de John, Stella (Charlize Theron), que trabalha na polícia, mas pretende vingar o pai…

The-Italian-Job-logoThe-Italian-Job (1)
Os 3 MINIS (marca actualmente detida pela BMW) que utilizam na fuga fizeram disparar as vendas nos Estados Unidos quando o filme estreou, ou seja, foi uma bela promoção do carrito. Para mim, este golpe da BMW foi inteligente porque julgo que é o ponto alto do filme. Puro entretenimento, mas com desempenhos bastante satisfatórios.

Postcrossing (18)

Finlandia

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Finlandia1

FI-1622910 enviado pela Kaija
A kaija vive numa pequena cidade perto de Tampere, na Finlândia, e enviou-me este postal engraçado que chegou perto do Natal. Aqui fica não só o postal, como também uma mimosa cercadura do verso e, como é habitual, o selo. A outra impressão faz parte do postal…
Sei que com as novas tecnologias se perdeu o hábito da escrita, da troca de correspondência física, e que, gradualmente, foi desaparecendo a variedade de postais que existia nas décadas de 60, 70 e até mesmo nos anos 80. A maioria dos postais que se fazem no nosso país são os típicos postais para turistas. Com o Postcrossing, julgo que o negócio poderia florescer de novo, visto que nos outros países (desenvolvidos) a tecnologia não substituiu na totalidade a tradição. Em Portugal seria impossível comprar um postal destes. Porquê? Somos um país de vistas curtas?