sábado, 23 de fevereiro de 2013

Funny Old Ladies

Pondero, agora, se não deveria ter seguido os meus interesses, os meus instintos juvenis, e enveredado por uma carreira na área da investigação criminal… A minha tendência natural para a pesquisa é nata e, como já referi aqui, sempre tive uma queda (só nunca soube onde devia cair…) para a polícia judiciária britânica, isto é, para a Scotland Yard… Se tivesse dado seguimento a essa vocação poderia ter solucionado casos que ficaram por explicar, como “Soho clockmaker “, ”Baby Farming Case”, “Killer in the Fog” ou mesmo “The Whitechapel Murders”… Esqueçam, estes casos ocorreram no século XIX…
Quero acreditar que ninguém me levou a sério no parágrafo anterior. Ou houve por aí alguém que tenha, por segundos, pensado que eu estava plenamente convicta do que dizia? Alguém que não tenha acanhamento para confessar que me achou doida varrida?
Bem, pois eu confesso que idealizar-me, qual Sherlock Holmes, a resolver enigmas através da lógica dedutiva, a dominar uma vasta quantidade de assuntos, a tocar violino, a consumir cocaína, a passar noites sem dormir, a ser um mestre na arte do disfarce e a esclarecer a mente fumando cachimbo, habita o meu imaginário… Digam lá, agora é que pensam que sou chanfrada de todo! É bem possível que seja uma loucura, mas vejo-a como uma loucura saudável, aquela loucura que nos permite quebrar a monotonia diária, a rotina enfadonha, e nos ajuda a suportar a vida.
O que me levou a iniciar o texto desta forma foi justamente a minha faceta “sherlockiana” que me conduziu, pela lógica, a um reencontro com a B., colega e amiga que não via há mais de trinta anos…
Não vou contar como a encontrei, pois isso levaria a revelar a minha “arte” e, mais importante do que isso, a desvendar a profissão dela, ou seja, seria violação de privacidade, mas posso afirmar que não foi através das redes sociais, o que tem muito mais valor. Posso apenas divulgar que nos passámos a tratar por “Sherlock” e “Watson”…
O reencontro aconteceu no dia 15 deste mês, em Torres Vedras, pelas 20h30m. A minha filha A. e o R. levaram-me até lá e testemunharam “aquele abraço” e a loucura sadia de duas cinquentonas. Posteriormente, a minha filha disse-me que o “quadro” lhe recordou os postais das “Funny Old Ladies” (que curiosamente eu adoro…) da ilustradora finlandesa Inge Löök… Pessoalmente tomei isto como um elogio (da loucura…), mas não sei o que a B. achará da chalaça, provavelmente o mesmo que eu já que somos as duas bem-humoradas. Aqui deixo três ilustrações para que possam avaliar o que a minha filha quis dizer…

Old
Depois… depois foi a alegria e a felicidade do reencontro…
Depois… depois foi um fim-de-semana de ternas recordações com muito fumo à mistura como se estivéssemos num conclave para eleger o novo Papa. Depois… depois foi um fim-de-semana como qualquer outro há trinta e tal anos, como se retomássemos a conversa que tínhamos deixado no dia anterior, como se não tivesse existido um hiato de tantos anos… Depois… depois foi um fim-de-semana de partilha de intimidades, daquelas que só conseguimos compartilhar quando o sentimento de amizade é legítimo e nos aconchega a alma… Depois… depois foi um fim-de-semana de devaneios, de risos, de evocar amigos, de folhear o álbum de fotografias a preto e branco, de lembrar nomes que fazem parte da nossa infância e da nossa adolescência… Depois… depois foi um fim-de-semana de cumplicidade, de cavaqueira, diálogos de ontem, de hoje, de amanhã, de incertezas quanto ao futuro… Depois… depois foi um fim-de-semana em que me senti acarinhada, conheci a determinada filha da B. e revi a sua mãe, uma senhora fora de série, e irmã, uma quarentona espontânea que relembro pequenita e alvo das “ordens” da B. que fazia dela “criada”…
Depois… depois foi um dueto de emoções, uma viagem ao passado…
Depois… depois foi, como era previsto, um fim-de-semana mágico!
Elementar, meu caro Watson!

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