sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Humm…não sei, hesito!…
Estou indecisa com a árvore de Natal para 2012.
Esta, invertida, sofreria menos com os ataques dos meus gatos…
Esta… sim, talvez, com recortes de facturas que pago durante o ano…
Esta é linda! A minha preferida, claro. Monta-se e desmonta-se na sala,
não preciso desarrumar mais nada, mas fico com muitas prateleiras vazias…
Esta faz-me lembrar as medidas orçamentais de austeridade,
mas, enfim, o espírito está presente… na bolinha…
Esta é bestial porque pode ser feita só no dia 24, mas requer
um lápis verde e um afia estrela. O resto, piece of cake!…
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Memórias e Afectos (91)
Claro que não resisti a procurar publicidade a estes três refrigerantes que me mataram a sede na década de 60…
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
A vida é bela…
…quando temos colegas, por acaso, amigas, por escolha, que nos surpreendem com presentes singulares. Um deles, as fotografias, depois de tantas diligências já tinha perdido a esperança, mas como diz o ditado “guardado está o bocado para quem o há-de comer” e assim foi, a S. conseguiu proporcionar-me uma grande alegria. Também a J. me presenteou com um marcador lindo e personalizado com uma foto da sua autoria. Obrigada a ambas, são umas queridas!…
Livros e Mar: eis o meu elemento! (51)
Decididamente, devota da obra de Ken Follet! A narrativa decorre no ano de 1939 e começa quando o primeiro-ministro inglês, Chamberlain, declara guerra ao Reich anunciando assim a entrada da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial. As primeiras páginas de “Noite Sobre as Águas” levam-nos a conhecer o carácter das personagens, as suas vidas, relacionamentos, raízes, dramas e paixões, assim como os motivos que os levaram a reservar passagens no Clipper da Pan American Airways, numa viagem de trinta horas, partindo de Southampton rumo a Nova Iorque. A incerteza e inquietação surgem logo no início quando a mulher do engenheiro de voo é raptada e ele recebe um telefonema ameaçando matá-la caso ele não colabore numa perigosa operação de amaragem perto da costa do continente americano.
Nesta viagem a bordo do Clipper, um hidroavião luxuoso, o grupo heterogéneo, que conta, entre outros, com um fanático defensor de Hitler e a família, com ideias completamente antagónicas, um criminoso, um cientista judeu que arrisca escapar aos nazis, um ladrão charmoso, uma conhecida actriz, jovens amantes e uma empresária de sucesso, sem saída possível sobrevoa o Oceano Atlântico num ambiente conflituoso e de ansiedade crescente. O desfecho é brilhante.
Naquela época, viajar de avião só estava ao alcance de uma minoria e a descrição sobre o Boeing 314 Clipper, um hotel voador de luxo, irrepreensível e apaixonante. Follet levou-me, numa viagem deliciosa, a conhecer os beliches, a suite, as casas de banho com toucadores, as refeições esmeradas compostas por vários manjares e servidas em porcelanas, como se fosse um restaurante requintado onde não faltavam os talheres de prata e os copos de cristal. Quem teve o privilégio de voar neste Clipper terá tido, sem dúvida, uma experiência única.
O primeiro serviço aéreo de passageiros entre os Estados Unidos e a Europa foi inaugurado pela Pan American no Verão de 1939. Durou poucas semanas. O serviço foi cancelado quando Hitler invadiu a Polónia. Dos doze hidroaviões da Pan American não ficou qualquer exemplar. Um deles transportou o presidente Roosevelt à Conferência de Casablanca em Janeiro de 1943 e outro sofreu um acidente em Lisboa do qual resultaram 29 vítimas.
domingo, 25 de dezembro de 2011
Message in a bottle (62)
Este Natal vou a casa (Pedro Marques Lopes na Revista Life)
Este ano o Natal é lá em casa. A casa dos meus pais, claro está. Aquela em que eu vivo é a nossa casa, a minha, da minha mulher e dos meus filhos. Quando eu era apenas filho também ia a casa pelo Natal, à do meu pai ou da minha mãe, onde viviam os meus avós.
O meu Natal é o regresso ao ninho. Onde me fiz homem, onde aprendi tudo o que de facto interessa. Pouco importa se a casa não é a mesma onde nasci e cresci. A casa é um local muito para lá das salas, dos quartos, da rua, ou da cidade onde se encontra. É onde estão os meus, os meus eternos gurus, os meus heróis, aqueles a quem eu pertenço e que me pertencem: os meus pais.
Juntamo-nos muitas vezes durante o ano, mas a noite de consoada é especial. Não porque a esmagadora maioria da minha família seja particularmente devota, não por causa da gritaria da rapaziada excitada com os embrulhos e as prendas que a entusiasmará por pouco mais de dez minutos, não pelas rabanadas, mexidos, aletria, ou mesmo pelo sagradíssimo bacalhau.Dentro da euforia, das canções que permanentemente berramos, dos excessos etílicos, das histórias de sempre que repetimos para nos sentirmos mais seguros ou mais próximos, das eternas discussões acaloradas que acabam sempre com um berro do meu pai, dos comentários jocosos aos alfacinhas que trouxemos para a família e ao seu pouco civilizado hábito de comer o infame e seco peru, há sempre uma melancolia mais ou menos disfarçada.
Passei anos e anos sem entender o porquê dos olhos brilhantes do meu pai ou das lágrimas fugidias da minha mãe. Dos momentos de silêncio disfarçados com mais uma garfada na couve-galega. Causavam-me estranheza aqueles instantes de tristeza profunda como se lhes faltasse um pedaço de alma, como se viajassem para um lugar longínquo. Não estão eles ao pé de quem mais amam? Claro que sim. Mas eles também tiveram um ninho, o tal espaço só deles e dos outros seus. Naqueles brevíssimos pedacinhos viajam para casa, para os que perderam, para os que estão noutras terras, para os que amaram e para os que continuam a amar. A minha angústia, a melancolia que também sinto vem de não lhes poder preencher esse espaço. Não posso, mas tenho todo o meu coração para lhes dar.
Bom Natal, mãe, Bom Natal, pai.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Memórias e Afectos (90)
Os dias que antecedem o Natal são apáticos. Queria esquecer que existo para não pensar, queria adormecer e acordar só em Janeiro, queria apagar os dias 23 e 24 de Dezembro, queria fugir às festividades, queria voltar ao Natal de 2008, quando ainda tinha pai…
Com a aproximação do Natal, as minhas mais doces memórias natalícias insistem em sobrepor-se à dor, e toda uma parafernália de imagens, que povoavam o meu quotidiano natalício ao longo da minha infância, resgatadas do seu sono profundo, despontam como clarões de relâmpagos.
A Festa de Natal dedicada aos filhos e familiares dos empregados da Companhia de Seguros L’Urbaine, onde o meu pai era chefe da secção de contabilidade, era um acontecimento. Não faltavam os palhaços e o ilusionista, mas a peça de teatro infantil, encenada pelos empregados do clube de teatro do grupo desportivo, era, para mim, a parte alta do espectáculo porque achava imensa graça ver os colegas do meu pai convertidos em actores. A entrega dos presentes, excelentes e adequados às idades, era personalizada. As crianças eram chamadas pelo microfone e as prendas entregues pela esposa do Presidente ou pelo próprio Pai Natal... Ouvir chamar o meu nome dava um certo sainete e isso fazia sentir-me importante. O lanche, bem servido, rematava a festa. Os adultos conviviam enquanto a miudagem brincava e corria atrás dos balões.
Seria muito bom que todas as crianças pudessem viver o fascínio dos dias que antecedem o Natal e a magia da noite da Consoada como eu vivi. Dias antes do Natal, a ida à Baixa lisboeta era peregrinação obrigatória. Os presentes para a família raramente eram comprados na Baixa, mas a roupa para estrear no dia de Natal (tradição que se manteve durante uns anos) era comprada na secção infantil da Lanalgo, a loja das três entradas para uma saída feliz. Num desses inevitáveis dias de roupinha nova, apesar dos conselhos para não me afastar perdi-me dos meus pais, mas uma empregada levou-me pela mão e chamou-os pelo altifalante. O reencontro foi comovedor, digno de um filme lamechas com um final feliz…
Eram também local de romaria imprescindível, a Casa Africana, os Grandes Armazéns do Chiado e os do Grandella, estes últimos com umas pomposas e memoráveis escadas rolantes que tinham sido inauguradas por Gertrudes Tomás, com direito a corta-fitas, no final da década de 50. Andar nas escadas rolantes era um intenso prazer, um verdadeiro gozo para a alma. Estes famosos armazéns lisboetas serviram de palco ao filme “O Pai Tirano” e quem não recorda o caixeiro Chico e o grupo de teatro amador “Os Grandelinhas”?
Nesse périplo pelas novidades, que apareciam em maior número na quadra natalícia, eu ficava colada aos vidros das montras, atraída pelos bonecos mecânicos que se moviam, convidando-me a entrar no seu mundo fascinante. Naquela idade da inocência, em que ainda acreditava no Pai Natal, ser fotografada com esse ajudante incansável do Menino Jesus era uma felicidade sem limites, uma comoção, pura magia… Julgo que esta foto foi tirada junto à Quermesse de Paris, uma loja de brinquedos que existia ao lado do Hotel Avenida Palace, mas pode ter sido em frente ao Paraíso Infantil na Rua da Prata.
Regressando à infância, recordo outras lojas de brinquedos que me deliciavam nos longínquos anos 60, o Bazar Thadeu na Rua Augusta, a Biaggio Flora na Rua do Ouro e Pinóquio nos Restauradores, e que ficaram na memória de muitos alfacinhas, assim como as iluminações de Natal que, nesse tempo, eram atração para todas as idades…
Depois do jantar da Consoada e de ter posto o sapatinho na chaminé, mandavam-me para a cama pois o Menino Jesus e o Pai Natal só viriam quando todos os meninos estivessem a dormir. Era difícil adormecer, a ansiedade pela chegada de tão ilustres visitantes não me deixava sossegar. Com a porta do quarto fechada, levantava-me, e por entre as frestas dos estores olhava o céu tentando ouvir as campainhas do trenó puxado pelas renas. Voltava para a cama, com o som dos guizos à distância, e acabava por adormecer sonhando com as prendas pedidas ao Menino Jesus. Na manhã do dia 25 corria à chaminé e à volta do meu sapatinho, estavam os embrulhos coloridos que eu me apressava a levar para a cama dos meus pais. Aí, desembrulhava-os um a um, provando-lhes que os meus pedidos tinham sido satisfeitos. Aos meus pais cabia a tarefa de se mostrarem surpreendidos de cada vez que eu lhes mostrava um brinquedo novo…
Andaria eu pelos sete anos quando, na escola, apanhei o meu primeiro balde de água fria. Quase a entrarmos nas férias de Natal a decepção chegou através de uma colega que me informou sem pejo e com a maior das naturalidades que quem nos dava as prendas eram os pais. A suspeição assaltou-me. Então o Pai Natal não existia? Não era o Menino Jesus que, através do seu fiel ajudante, me dava as prendas de que eu me achava merecedora? Podia lá ser… Não contei nada em casa. Queria esclarecer a dúvida sem melindrar ninguém. Nesse ano, na noite de 24, quando me mandaram para a cama, não preguei olho. Ouvia conversar na casa de jantar/sala. Tinha frio, mas mantinha-me sentada na cama para não ceder ao joão-pestana. Já a noite ia longa quando as vozes deram lugar ao silêncio. Os passos soaram pela casa e julguei, na minha inocência, que eram horas dos outros se deitarem, mas um pequeno restolhar vindo da cozinha fez-me aproximar da porta do quarto e espreitar pela fechadura. A fantasia do Natal caiu por terra, os sonhos desfizeram-se como que levados pelo vento e o encanto do Natal parou ali, naquele momento, quando vi passar a minha mãe e o meu irmão, com dois embrulhos, a caminho da cozinha…
Na manhã seguinte, corri à chaminé e por entre os vários embrulhos de papel colorido, lá estavam os dois que eu tinha visto nas mãos dos meus queridos familiares. Mantive a farsa, fiz de conta que estava maravilhada pelo facto das minhas preces terem sido atendidas e deliciei-me com os presentes. Será que a magia natalícia tinha desaparecido? Não me recordo se cheguei a contar-lhes ou se continuei a simular a minha crença, mas se o fiz não foi para os enganar, foi, certamente, para manter viva a magia do Natal e poder sonhar enquanto era criança…
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Regressar aos tempos da mala de cartão…
Interessante este primeiro-ministro: não disse ter assinado um acordo diplomático, político ou empresarial – o que ele quisesse – para reforçar o ensino de português em Angola, no Brasil ou na China. Numa frase leviana e sem o contexto adequado, indicou a porta de saída do País a milhares de pessoas que, presumo, não lhe merecem muito mais esforço intelectual. (André Macedo in Dinheiro Vivo).
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Lamentamos as obras…
Incómodo em curso. Lamentamos as obras… Isto deveria ser a divisa de todos os empreiteiros da construção civil, afins e similares. Adjudicámos a obra de intervenção no telhado do prédio onde resido. Os trabalhos, a cargo da firma Decimal & Universal, começaram dia 5 de Dezembro. Os colaboradores do engenheiro L., responsável pela obra, só trabalharam da parte da manhã porque às 14 horas ainda não tinha chegado o material e, como sabemos, não se fazem omeletas sem ovos. Nos dois dias seguintes trabalharam com vontade, mas meteu-se o feriado à quinta-feira, quebrou o ritmo e fizeram ponte…
Retomaram o serviço na segunda-feira seguinte e, como nestas coisas é o Sol que dita as regras, chegaram às 9.45 e saíram às 16 horas. Trabalharam de sol a sol! Na terça-feira não apareceram. Liguei ao engenheiro, “culpado” pela obra, e fiquei esclarecida…os empregados trabalham em rotatividade 24 horas por dia! Ah, compreendi-te!... E nesse sistema rotativo nunca passam pelo telhado? Passam, quando a órbita do telhado coincide com a trajetória dos colaboradores, ou seja, no resto da semana nunca se encontraram…
Tentei não azedar. Telefonemas, mensagens, e nada! Na sexta-feira de manhã bem cedo ligou-me o engenheiro, irresponsável da obra, para me informar que dois dos colaboradores, de nacionalidade moldava, estavam a caminho. Nunca cá chegaram! Ou eu, na ânsia de ver terminado o trabalho, compreendi mal, ou o engenheiro não acabou a frase… Estavam a caminho…da Moldávia!
Tentei não envinagrar. Telefonemas, mensagens, e nada! Cheguei a supor que o arquiteto Gaudí teria encarnado no engenheiro L. e a estrutura se convertesse num novo Templo Expiatório da Sagrada Família, com conclusão prevista em 2025, lá para as calendas gregas…Era lindo, visitas guiadas e milhares de visitantes à obra inacabada!
Incómodo em curso. Lamentamos as obras…mas agora mete-se o Natal…
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Lisboa d'outras eras (8)
Que edifício é este? Por aqui passei muitas vezes a caminho de uma tipografia que, durante anos, existiu neste passeio, um pouco mais à frente. O meu pai foi sócio da Casa Africana, assim se chamava essa oficina de composição e impressão, e eu acompanhava-o com gosto…
Fica bem perto de um antigo Estabelecimento de Ensino que podem ver aqui…
domingo, 11 de dezembro de 2011
Publicidade enganosa
Existe a palavra encanitar em português lusitano? Existe! Segundo José Pedro Machado, um dos maiores dicionaristas da língua portuguesa, a definição de encanitar é: sofrer dos nervos; irritar ou irritar-se; enervar-se ou exasperar-se. Pois é exactamente isto que eu sinto quando vejo o anúncio da Toys R us!
O slogan “se existe, a Toys R us tem”, que deu polémica aqui há uns anos, é uma enorme aldrabice. Procurei por diversas vezes brinquedos, que sei que existem, e a Toys R us não tinha, nem tem!… Os empregados não faziam a mais pequena ideia de que artigos eu estava a falar e os preços são, em geral, mais caros. Tudo isto me encanita… Quando me reformar vou arranjar mais um hobby, reclamar, reclamar, reclamar…
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Memórias e Afectos (89)
No início deste blogue publiquei fotografias da casa onde nasci e passei uma parte da infância. Esta moradia de rés-do-chão e 1º andar, pertença do meu avô paterno, situada na principal artéria da antiga vila da Amadora, tinha um pequeno jardim e um grande quintal onde eu dava asas à minha imaginação.
A minha família ocupava o 1º andar. O andar de baixo estava arrendado (mais uns cobres que o meu avô ia buscar…) a um casal que tinha uma filha da minha idade, a Ana Maria. A última moradia, de uma fileira de quatro, logo a seguir à nossa, era habitada pela família Pimenta, o pai, aquele do anúncio radiofónico dos Parodiantes de Lisboa “pois, pois, J. Pimenta”, a mãe, a D. Julieta, e os dois filhos do casal, a Graciete e o José Luís. Não me recordo do nome das famílias que moravam nas outras duas moradias, mas tenho uma vaga ideia de algumas crianças que também frequentavam o nosso quintal. Os dias, um após o outro, passados numa eterna brincadeira, começavam quase de madrugada… Acordava bem cedo, lavava-me, vestia-me, tomava o pequeno-almoço e abria a porta da cozinha, que dava para o quintal, com um sorriso estampado na cara. O dia estava a nascer e não podia perder tempo, a natureza e tudo o que a cercava aguardavam-me ali tão perto. Descia as escadas a correr e batia à porta do rés-do-chão, onde me esperava a impaciente Ana Maria, quase a terminar as sopas de café com leite. Sempre cobicei o pequeno-almoço dela e tanto o enalteci que consegui que a mãe me brindasse com o mesmo, uma vez por outra.
O quintal era dividido por um carreiro de terra batida. O lado direito pertencia-nos e o lado esquerdo pertencia à família da Ana Maria, mas isso eram coisas de adultos, nós nunca fizemos essa distinção. Tal como os antigos Romanos controlavam todo o Mediterrâneo (Mare Nostrum), também o quintal era todo nosso… Ao fundo, um tanque de pedra usado pelas mães para lavar a roupa, que em algumas ocasiões ficava a corar ao Sol, e árvores de fruto, entre elas, uma ginjeira, a preferida da minha amiga. Quando a minha mãe pensava que tinha ginjas na árvore, já eram… a Ana Maria tinha dado conta delas. Um dia, com a minha conivência, a minha mãe, que era danada para a paródia, escondeu-se para pregar um susto à miúda, mas virou-se o feitiço contra o feiticeiro. A Ana Maria, branca como a cal e a gaguejar, voou carreiro abaixo, deixando a minha mãe aflita. Ainda hoje nos rimos com esta malvadez da minha mãe…
Nunca tivemos uma casa na árvore, mas improvisámos uma numa latada que existia a seguir ao único portão lateral de entrada para a moradia. A pérgula servia de suporte a uma velha trepadeira, uma Glicínia de flores lilases e troncos grossos, que formava uma espécie de galeria acompanhando os primeiros metros da entrada e três degraus que nos colocavam ao nível do jardim. Ajudados pelo tronco principal, subíamos para a nossa casa imaginária. Lá em cima, como que transportados para um universo paralelo, esquecíamos que nos podiam ver e ouvir e a imaginação levava-nos a vivermos outras vidas num mundo povoado de personagens das histórias de encantar.
Enquanto os dias se seguiam e avançavam em direcção ao Inverno, a Glicínia perdia as folhas e hibernava, tornava-se num emaranhado de troncos secos até à Primavera seguinte, rebentando então verdejante e em cachos de flores deslumbrantes… As suas ramadas frondosas estavam prontas para nos tornar a acolher e a partilhar connosco as fantasias da infância…
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Fases da vida
A primeira, quando acreditamos no Pai Natal.
A segunda, quando deixamos de acreditar.
A terceira, quando nos tornamos Pai Natal…
Quanto mais velho, pior…
Envelhecer é uma palavra que me inquieta. Como é um assunto que me deprime, não me consome muito tempo, mas tenho a convicção férrea de que, tal como a minha mãe, não aceitarei bem a velhice. Nem sempre assim foi. Tempos houve em que mais um aniversário era sinónimo de vivência, de solidez, de primazia, mas os anos passam e constatamos que envelhecer, desculpem o termo, é uma grande merda… Aquela famosa frase “quanto mais velho, melhor” que define o Vinho do Porto, passou a servir também para nos definir quando chegamos a uma determinada idade, sendo alardeada por muitas pessoas. Como se rotularmo-nos de Vintage afastasse os anos, nos tornasse mais ágeis, suavizasse as rugas e avivasse a memória…
Não há como dar a volta à coisa, envelhecemos... Assistir, impotente, à decadência física dos nossos pais é doloroso, mas quando a falência física é acompanhada por uma falência cerebral, torna-se, inegavelmente, insuportável e penoso. O envelhecimento saudável resulta da conjugação de vários factores, como a saúde mental, a saúde física, a autonomia e a independência económica. Todos eles me assustam, isto é, a falta deles… Claro que há quem envelheça bem, ou melhor, menos mal, mas o tempo é implacável. Não me perturba o aparecimento de rugas nem tão-pouco os cabelos brancos, o que me inquieta é perder 50 000 neurónios por dia, a decadência física, a dependência, o declínio da capacidade cognitiva, a demência. Envelhecer é um verbo arrasador e com um sabor amargo…
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Pergunto eu... (3)
... que não percebo nada disto...
Depois da polémica em torno do carro de 86 mil euros herdado pelo Ministro Mota Soares, depois deste ter vindo desmentir a notícia, depois de saber que o carro foi entregue ao ministro ao abrigo de um acordo com a SIVA, empresa que importa veículos Audi, Skoda, Volkswagen, Bentley e Lamborghini, depois de saber que o carro foi obtido através de um Aluguer Operacional de Veículo e se destinava a um secretário de Estado do anterior governo, depois de saber e verificar que todos os veículos são gama alta, depois de saber que o processo de aluguer de viaturas do Estado é gerido única e exclusivamente pela Agência Nacional de Compras Públicas, não quero saber se os contratos são ou não para cumprir nem se é ou não possível renegociar o contrato.
Pergunto eu, que não percebo nada disto… porque razão nunca se negoceia o aluguer de viaturas mais económicas? Porque razão o Estado não adquire a frota directamente à Autoeuropa, se apenas 1,3% da produção da mesma tem como destino o mercado português? Não iria ajudar a incrementar a economia? Pergunto eu, que não percebo nada disto…
sábado, 3 de dezembro de 2011
A tradição já não é o que era…
(via email)
Belchior trazia ouro.
Baltazar trazia mirra.
Depois, apareceu o Gaspar e tirou-nos tudo!…
Memórias e Afectos (88)
Recordo, saudosa e tristonha, as tardes de domingo da minha infância. O meu pai ia todos os domingos visitar os meus avós, que, na época, moravam numa moradia na Rua da Milharada, em Massamá, onde actualmente existe um condomínio da empresa de construção civil Pimenta e Rendeiro. O meu avô paterno J.J., de quem já tive oportunidade de falar aqui, habitava com a minha avó L. numa vivenda, que ainda existe, quase à beira da estrada, com duas grandes palmeiras e um coreto, em Queluz de Baixo. A casa era muito bonita, mas por qualquer razão que desconheço, resolveram mudar-se para Massamá…
Tenho presente na minha memória toda a disposição da casa, do jardim e do quintal e felizmente que assim é pois não existem fotografias da mesma. Os meus avós habitavam o primeiro andar. Depois de aberto o portão, a entrada, para familiares e amigos, fazia-se sempre pelas traseiras, por uma escada que dava acesso imediato à cozinha. A entrada pelo lado frontal fazia-se por uma escadaria que partia do jardim, sempre florido (lembro-me particularmente das dálias…), entrando num pequeno hall de onde partia uma escada de madeira para o sótão, com uma porta rematada com vitrais coloridos. Desse átrio passava-se ao corredor, com divisões de ambos os lados, que terminava na sala. Da sala podíamos passar à cozinha e descer ao quintal. A casa de banho era enorme, quase tão grande como a sala e, certamente, maior do que os quartos…
O andar de baixo estava alugado. O meu avô, sempre com olho para o negócio e porque não necessitava de ocupar toda a moradia, alugou o rés-do-chão. Ao fundo do quintal habitavam os caseiros. Julgo que não pagavam renda, mas tratavam da horta e das capoeiras ainda que não fizessem desse trabalho modo de vida. Ao fundo da propriedade, para lá de um pequeno portão, podia ver-se uma ribeira, que “teima” em continuar a passar rigorosamente no mesmo sítio, mas sem o aspecto sombrio que tinha quando se ocultava no caniçal…
Recordo, saudosa e tristonha, as tardes de domingo da minha infância. Cumprimentados os meus avós e uma prima direita do meu avô que com eles vivia, olhava intrigada para o cenário invariável da sala e para os seus singulares ocupantes. A prima do meu avô e a minha avó, sentadas à mesa oval, viam televisão, enquanto um gato preto dormitava aos seus pés. O meu avô descansava no seu cadeirão, junto à janela, devidamente escudado por um modesto biombo, que, segundo ele, o resguardava de correntes de ar. Domingo após domingo, a cena e os personagens permaneciam no estado em que os tinha encontrado na semana anterior, inalteráveis, como se aquela sala, imutável, tivesse parado no tempo…Recordo, saudosa e tristonha, as tardes de domingo da minha infância. Depois de confirmar que tudo estava inalterado, corria para o quintal à procura de companhia da minha idade. Geralmente, os filhos dos caseiros andavam por ali e com eles brincava e explorava o quintal. Quando não os encontrava, ocupava o tempo junto ao tanque abastecido de água pelo moinho metálico de vento, sem compreender o seu funcionamento, mas maravilhada pela sua eficácia. Ali ficava, perdida nos meus rudimentares pensamentos infantis, olhando as pás que se moviam ora depressa, ora devagar, até o meu pai me chamar.
Recordo, saudosa e tristonha, as tardes de domingo da minha infância. Tardes simultaneamente rotineiras e divertidas…
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Gosto...e não se fala mais nisso! (27)
…do cheiro a relva aparada
…do cheiro a terra molhada
…do cheiro do pão quente
…do cheiro a roupa lavada
…do cheiro de um livro novo
…do cheiro a maresia
…de escrever com lápis escuro e afiado
…de ouvir o ronronar dos meus gatos
…de dormitar no sofá
…do silêncio
Tempo de “vacas magras”
Não sou partidária de Salazar, mas é impossível não admitir que foi um estadista que suplanta todos os políticos que nos têm governado, para além de ter sido um economista notável. Claro que houve um lado negro do salazarismo, um regime conservador e autoritário com características fascistas, que não senti na pele porque era ainda muito jovem, que intervinha na vida dos cidadãos desprezando a liberdade individual. Apesar da minha juventude vivi a revolução dos cravos com entusiasmo. Actualmente, quando olho para este jardim à beira-mar plantado e ao estado a que isto chegou, parece-me que só voltaríamos a ser um país verdadeiramente soberano com um Salazar por cada Junta de Freguesia… (ih ih ih). Claro que houve um lado escuro do salazarismo, mas, desde o 25 de Abril, não há quem saiba governar-nos, há quem se vá governando à custa do povo… Em vez de “orgulhosamente sós”, estamos “orgulhosamente” a prestar vassalagem à Europa e às potências estrangeiras. Agradeço que não façam comentários provocadores à minha liberdade de pensamento…