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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

sábado, 16 de junho de 2012

É bem feita, para não sermos burros…

Este texto é da autoria de Teolinda Gersão, escritora, Professora Catedrática aposentada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Escreveu-o depois de ajudar os netos a estudar Português. Segundo me informaram, colocou-o no Facebook (ainda aparecem por lá coisas interessantes…).

Tempo de exames no secundário,os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles.
Aqui ficam, e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças disto.

Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.”O Quim está na retrete” : “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.
No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum,o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento,e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela,subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português,que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo,o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro).
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou : a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens,ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação.O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Aviso à navegação…

Desde o início do ano que o acordo ortográfico da Língua Portuguesa passou a estar em vigor nos documentos oficiais e em todos os serviços, organismos e entidades estatais, incluindo o site do Parlamento.
Em vigor desde o dia 13 de maio de 2009, o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa, a 16 de dezembro de 1990 e compreende um período de adaptação de seis anos durante o qual são aceites as duas grafias, a do acordo ortográfico de 1945 e a de 1990.
Se este blogue subsistir até 2015, continuarei a abraçar o AO de 45 e estarei a marimbar-me para o entendimento que resultou de um consenso (com senso?) entre os PALOPES. Sempre ouvi dizer que burro velho não aprende línguas e eu comprometi-me com a língua pátria desde a 1ª classe…
Na instrução primária dava a mão à palmatória quando cometia erros como “direção”, “correto” ou “ótimo”. Depois vou “levar reguadas” por escrever “direcção”, “correcto” ou “óptimo”?! É o mesmo que esforçarem-se por inverter a minha lateralidade à esquerda até conseguirem que eu use preferencialmente a mão direita e ao fim de cinquenta anos obrigarem-me a ser sinistra…

sábado, 15 de outubro de 2011

Faz sentido...

Pensamos que repetimos correctamente os ditos populares, mas alguns não faziam sentido nenhum até ler estas dicas que me chegaram por e-mail.

Hoje é domingo pé de cachimbo... e ficávamos imaginando como seria um pé de cachimbo, quando o correcto é: HOJE É DOMINGO PEDE CACHIMBO... porque o domingo é um dia especial para relaxar e fumar um cachimbo ao invés do tradicional cigarro (para aqueles que fumam, naturalmente...).
Parece que tem bicho carpinteiro… uma grande dúvida na infância, um bicho pode ser carpinteiro? O correcto é: PARECE QUE TEM BICHO NO CORPO INTEIRO. Aqui está a resposta ao dilema de infância…
Cor de burro quando foge… Mas o burro muda de cor quando foge? O correcto é: CORRO DE BURRO QUANDO FOGE… Posso não entender, mas tem mais piada na forma errada…
Quem tem boca vai a Roma. Pensava eu que quem sabia comunicar ia a qualquer lugar! Mas o correcto é: QUEM TEM BOCA VAIA ROMA! (isso mesmo, do verbo vaiar).
Cuspido e escarrado. Dizemos isto quando achamos alguém muito parecido com outra pessoa. O correcto é: ESCULPIDO EM CARRARA (Carrara é um tipo de mármore…).
Mais um famoso... Quem não tem cão, caça com gato. Este também entendia, mas de forma errada. Se não tem cão para ajudar na caça, o gato ajuda! Tudo bem, o gato só faz o que quer, mas até podia estar de bom humor! O correcto é: QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COMO GATO, ou seja, sozinho!...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Presidenta é estudanta?

Chegou-me via e-mail. Desconheço a origem, mas que é uma bela lição de português lá isso é…

Existe a palavra PRESIDENTA?
Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto?

No português existem os particípios activos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendigar é mendicante... Qual é o particípio activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".

Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repassem esta informação…

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A voz do povo

Diz o povo "primeiro de Agosto, primeiro de Inverno"

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Carroça

Certa manhã, o meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele deteve-se numa clareira e depois de um pequeno silêncio perguntou-me:- Além do cantar dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos durante alguns segundos e respondi:
- Estou a ouvir um barulho de uma carroça.
- Isso mesmo - disse o meu pai - é uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:- Como é que sabe que a carroça está vazia se ainda não a vimos?
- Ora - respondeu o meu pai - é muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando, tratando o próximo com uma indelicadeza descabida, prepotente, interrompendo a conversa de toda a gente e querendo demonstrar ser a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
- Quanto mais vazia a carroça, mais barulho faz!...
(Autor desconhecido)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Message in a bottle (41)

(por Manuel Halpern in Jornal Letras)

Um cê a mais

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.
Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim!
Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião.
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham. As palavras transformam-nos.
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto.
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Coincidências...

Pitágoras terá afirmado que o número 7 é sagrado, perfeito e poderoso. Será de facto um número mágico e cabalístico? Não faço a mais pálida ideia, mas sou uma entusiasta, para não dizer fanática, deste número. Provavelmente, porque nasci num dia 7 e não satisfeita com isso, a minha data de nascimento é uma capicua… Lindo! Por vezes, sinto-me um autêntico “monstro” sagrado, só falta ser perfeita e poderosa…
A verdade é que o número sete tem uma enorme preponderância neste mundo e as curiosidades sobre ele já foram sobejamente faladas, mas não resisto a fazer uma lista (pouco exaustiva…), totalmente anárquica, sobre este número místico e enigmático.
Ora vejamos: 7 são as Maravilhas do Mundo Antigo (e Moderno…), 7 são as Artes, 7 são as notas musicais, 7 são as cores do arco-íris, 7 são os pecados capitais, 7 são as virtudes, 7 são os Sacramentos e 7 as Obras de Misericórdia, 7 as trombetas, os anjos e as taças da ira de Deus no Apocalipse, 7 foram as pragas do Egipto e 7 os Sábios da Grécia, 7 são os dias da semana, 7 são os mares, 7 são os algarismos romanos, 7 são os anões, and so on…
A influência do número sete não fica por aqui. Temos ainda os 7 palmos de terra, as 7 colinas de Lisboa comparadas às 7 colinas de Roma e de Jerusalém, a lagoa das 7 cidades, as 7 saias da mulher nazarena e as 7 vidas dos gatos. E “7 noivas para 7 irmãos”. Porquê 7 e não 5 ou 8?
Surgem ainda expressões interessantes provenientes da imaginação popular. Todos nós já as utilizámos: falar com 7 pedras na mão, fechar a 7 chaves, estar com 7 olhos, estar nas suas 7 quintas, fugir a 7 pés, o homem dos 7 ofícios, tocar 7 instrumentos, um bicho de 7 cabeças ou são 7 cães a um osso.
Até Luís de Camões se serviu do número 7 no seu soneto “Sete anos de pastor Jacob servia…”
Termino com a melhor referência ao número sete. Depois dos seis dias da Criação do Mundo, Deus abençoou o sétimo dia e descansou… Se Deus é omnipotente por que razão não fez o Mundo em dois dias e descansou no terceiro? Simples! Andou a engonhar propositadamente para descansar ao sétimo porque o número 7 é “divinal”!...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

6 Biliões Como Tu

"6 Billion Others" é uma tentativa de se criar um retrato contemporâneo da humanidade através de perguntas diversas, banais e universais, com diferentes pessoas de diferentes países. O que é a felicidade? Que lições aprendemos através das dificuldades da vida? Qual é o significado da vida? E da morte? 40 perguntas, 5.000 entrevistas realizadas, 75 países visitados, 4.500 horas de entrevistas filmadas. Um projecto de Yann Arthus-Bertrand.

Aqui, deixo apenas um "cheirinho". Explorem tudo no Youtube.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Jornalismo "Participativo"...

Esta notícia, publicada no JN, gerou polémica e uma onda de comentários com algumas trocas de galhardetes. Geralmente, quando se trata de "tareia de língua" os portugueses são sempre muito participativos. Não me apetece deitar achas na fogueira, dar opinião ou contestar, mas pergunto: que raio de texto jornalístico é este?... Já o meu avô paterno dizia "quem não tem habilidade para coisa nenhuma vai para jornalista..." (Curiosamente, também ele exerceu, por uns tempos, esta profissão, no longínquo início do século XX, por terras do Oriente).

Duas horas e meia de pernas para o ar

Matosinhos Camião capota no nó de Sendim. Condutor escapa por milagre
Duplo milagre: o condutor esteve duas horas e meia encarcerado na cabina do camião que virou, mas saiu quase incólume; tombou na encosta, mas por uma nesga caía em cima dos carros da A4.

Como ficou, todo estampado de costas, o atrelado tombado de lado na encosta, carga espalhada e os 12 rodados indignamente virados ao ar, o grande Scania R440, um muito possante semi-reboque, vermelho vivo, novo, parecia um Transformer que correu horrivelmente mal. Bastava ver-lhe a cara que é a sua cabina - pareceu ter levado um soco do céu: testa de vidro partida, grelha metida pelas fuças adentro, todo amarrotado como papel, um sem-número de fios e mecânicas vísceras, a escorrer, à mostra de todos. Metia dó, como um escaravelho que capota e não se pode levantar. Mas, mais do que isso, metia medo.
Lá dentro estava Manuel Eirado Azevedo, condutor profissional, 50 anos, natural de Fão, Esposende, vítima e vilão e único acidentado do sinistro. O seu sanguíneo R440, ao serviço da Transfradelos, operadora de carga da Póvoa, arcado com 30 toneladas de estilha (aparas de madeira para celulose), saíra do Porto de Leixões quando se despistou no alto do nó de Sendim (acesso à A4 na ligação para a A28, direcção Porto), caindo encosta abaixo.

Acreditar em milagres a dobrar

Ninguém o diz oficialmente, mas entre o INEM, a Polícia e os bombeiros que ali formigavam, do Porto e de Leixões, era comentário comum que houve um duplo milagre. Primeiro: Manuel Eirado Azevedo ficou encarcerado na cabina desfeita do camião, ele preso sentado e virado ao contrário, e saiu incólume (ou quase: um dedo esfacelado, escoriações na face e numa perna; internou-se no S. João, está estável, só chocado e, claro, muito stressado). Segundo milagre: bastava que o despiste tivesse ocorrido dois segundos antes, 20 metros antes e aquele toneloso camião ter-se-ia despenhado monstruosamente na A4.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"O tempo da outra senhora"

(in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)

A expressão «o tempo da outra senhora» é hoje, realmente, muitas vezes utilizada quando nos referimos ao regime do Estado Novo em que havia censura e um regime de partido único. No entanto, a «outra senhora» não significa nem «censura» nem «ditadura», mas, sim, mesmo uma outra senhora.
Explicando, esta expressão é anterior ao 25 de Abril e tem origem nas relações domésticas. A Senhora era a dona da casa e aí punha e dispunha. Era ela que ditava as leis da organização da casa, a serem cumpridas pela criadagem. Quando a senhora da casa morria, havia uma nova senhora (a filha, a nora, a nova mulher do viúvo que entretanto casaria), a ditar a organização da casa, e essa organização sofria alguma alteração; a forma de gerir era, naturalmente, diferente. E surge então a expressão «o tempo da outra senhora», distinto do actual.
Quando muda o regime político, mudam as leis, muda a forma de organização do país e, por analogia, começa, então, a falar-se do tempo da «outra senhora» quando se pretende referir situações relativas a essa época anterior, situações essas que agora não existem ou foram alteradas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Preguicemos...

Os gregos da época áurea nutriam desprezo pelo trabalho. Só os escravos podiam trabalhar, o homem livre conhecia exclusivamente os exercícios corporais e os jogos da inteligência.

Deus deu aos seus adoradores o supremo exemplo da preguiça ideal. Após seis dias de trabalho, entregou-se ao repouso eterno...

O trabalho só se tornará um condimento de prazer da preguiça, um exercício benéfico para o organismo humano, uma paixão útil ao organismo social, quando for sabiamente regulamentado e limitado a um máximo de três horas diárias.

sábado, 17 de abril de 2010

A nova Língua Portuguesa

(Autor anónimo)

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos “afro-americanos”, com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a “empregadas domésticas” e preparam-se agora para receber a menção de “auxiliares de apoio doméstico”. De igual modo, extinguiram-se nas escolas os contínuos que passaram todos a “auxiliares da acção educativa”. Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por “delegados de informação médica”. E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em “técnicos de vendas”. As prostitutas passaram a ser "senhoras de alterne".
O aborto eufemizou-se em “interrupção voluntária da gravidez”; os gangs étnicos são “grupos de jovens”; os operários fizeram-se de repente “colaboradores”; as fábricas, essas, vistas de dentro são “unidades produtivas” e vistas da estranja são “centros de decisão nacionais”.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à “iliteracia” galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes “Conforto” e”Turística”.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante. Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um “comportamento disfuncional hiperactivo”. Do mesmo modo, e para felicidade dos “encarregados de educação”, os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, crianças de desenvolvimento instável.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado “invisual” (o termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos, mas o “politicamente correcto” marimba-se para as regras gramaticais...).
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em “implementações”, “posturas pró-activas”, “políticas fracturantes” e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico. Estamos lixados com este novo português; não admira que o pessoal tenha, cada vez mais, esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma “politicamente correcta”.
Os idiotas e imbecis passam a designar-se por “indivíduos com atitude não vinculativa”. Os pretos passaram a ser pessoas de cor. Os gordos e os magros passaram a ser pessoas com “disfunção alimentar”. Os mentirosos passam a ser “pessoas com muita imaginação”. Os que fazem desfalques nas empresas e são descobertos são “pessoas com grande visão empresarial mas que estão rodeados de invejosos”.
Para autarcas e políticos, afirmar que “eu tenho impunidade judicial”, foi substituído por “estar de consciência tranquila”.
O conceito de corrupção organizada foi substituído pela palavra “sistema”.
Difícil, dramático, desastroso, congestionado, problemático, etc., passou a ser sinónimo de complicado…

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Informação deturpada…

…ou problemas na transmissão de ordens.

Do coronel para o capitão: Amanhã haverá um eclipse do Sol. Se estiver bom tempo, os soldados formarão na parada para assistir ao fenómeno. Se chover, manter-se-ão na caserna.

Do capitão para o sargento: Por ordem do nosso coronel, amanhã haverá um eclipse do Sol. Se estiver bom tempo, os soldados formarão na parada. Se chover, será na caserna.

Do sargento para os soldados: Amanhã, se chover, o coronel fará eclipsar o Sol dentro da caserna. Se fizer bom tempo, será na parada.

Os soldados entre si: Parece que amanhã vão eclipsar o coronel dentro da caserna. Nós vamos apanhar Sol para a parada.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pobreza Zero

"O meu grande sonho é ser pobre um dia, porque... ser todos os dias é lixado!"
(Autor desconhecido)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Contemporâneo...

(Guerra Junqueiro, 1896)

“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero”…

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os Burros, o Mercado de Acções e a crise...

Uma vez, num pequeno e distante vilarejo, apareceu um homem anunciando que compraria burros por 10 euros cada. Como havia muitos burros na região, os aldeões iniciaram a busca.
O homem comprou centenas de burros a 10 euros e como os aldeões diminuíram o esforço na procura, o homem anunciou que pagaria 20 euros por cada burro.
Os aldeões foram novamente à procura, mas logo os burros foram escasseando e os aldeões desistiram da busca. A oferta aumentou então para 25 euros e a quantidade de burros ficou tão reduzida que já não havia mais interesse em caçá-los.
O homem, então, anunciou que compraria cada burro por 50 euros!
Mas, como iria à cidade, deixaria o seu assistente cuidando da compra dos burros.
Na ausência do homem, o seu assistente propôs aos aldeões: - "Sabem os burros que o homem vos comprou? Eu posso vendê-los a vocês a 35 euros cada. Quando o homem voltar da cidade, vocês vendem-nos a ele pelos 50 que ele oferece e ganham uma boa massa".Os aldeões pegaram nas suas economias e compraram todos os burros ao assistente.
Os dias passaram-se e eles nunca mais viram nem o homem, nem o seu assistente.
Somente burros por todos os lados.
Entendem agora como funciona o mercado de acções e como apareceu a crise?...

sábado, 10 de outubro de 2009

Silence of the bees

Einstein terá dito "Se as abelhas desaparecerem, ao homem restarão apenas quatro anos de vida". Esta previsão catastrófica voltou à lembrança de todos, devido a um estudo bastante recente, feito por um conjunto de investigadores nos Estados Unidos.
A verdade é que está a verificar-se o desaparecimento súbito de muitas comunidades de abelhas. A verdade é que as abelhas são, cada vez mais, uma espécie quase em vias de extinção.
Segundos os investigadores, a radiação dos telefones móveis interfere com o sistema de navegação das abelhas, impossibilitando-as de encontrar o caminho de regresso à colmeia. O declínio das comunidades das abelhas ocorre quando os habitantes da colmeia desaparecem subitamente, perdendo-se e nunca mais regressando às colmeias de origem, acabando por morrer.
As explicações para este fenómeno estão por desvendar completamente, embora circulem mais teorias, desde o uso de pesticidas, ao aquecimento global, passando pelas culturas de organismos geneticamente modificados.

Não sei se Einstein terá feito essa afirmação sobre abelhas, que agora é famosa, mas o declínio das comunidades das abelhas é um fenómeno real que pode causar graves desequilíbrios ambientais, uma vez que as abelhas são responsáveis por mais de 90% da polinização e, de forma directa ou indirecta, por 65% dos alimentos consumidos pelos seres humanos.
Sem abelhas não há polinização e isso terá implicações graves nas colheitas em todo o mundo, uma vez que a maioria das culturas precisa do processo de polinização realizado pelas abelhas. Sem polinização não há alimentos.
Será assim o fim da espécie humana?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Dou óptimas referências!

Experiência não me falta, nem formação académica…
Professora Doutora (por extenso).

O meu Curriculum Vitae e prática vão fazer toda a diferença.
Ponham-me à prova!