domingo, 16 de julho de 2017
Da literatura para a tela
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Fahrenheit 451
Fahrenheit 451 é uma adaptação cinematográfica do romance homónimo de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut e, curiosamente, o seu primeiro filme em inglês.
Apesar de ser um filme dos anos 60, passa-se num futuro hipotético. Sabemo-lo através de um transporte inovador para a época, um monocarril, e, principalmente, porque num diálogo inicial ficamos a saber que as casas são à prova de fogo. Neste filme, a função dos bombeiros não é apagar fogos, mas sim queimar livros.
Nesta sociedade imaginária, os bombeiros eliminam todo o rasto de literatura que encontram porque os livros são considerados perigosos para a estabilidade social. O nome da corporação de bombeiros que se entrega a essa tarefa exclusiva é precisamente o título do filme e tem um significado especial: é a temperatura a que o papel dos livros incendeia e começa a queimar.
O filme mostra-nos uma sociedade totalitária que controla o acesso ao conhecimento e à informação, mantendo o povo na ignorância. A população vive alheada, depende da televisão e interage com ela de uma forma patética como se os apresentadores dos programas fossem da família. Bradbury explorou os efeitos que a televisão tem nas pessoas e como destrói o interesse pela leitura. O protagonista, Montag, um bombeiro da corporação, começa a questionar estes comportamentos e começa a esconder livros em casa e a lê-los, acabando por se insurgir e mudar totalmente o seu destino.
Fahrenheit 451 continua atual e faz-nos pensar. Pensar que uma sociedade evoluída não é sinónimo de literacia, que é preciso combater a falta de conhecimentos e a ignorância, que, ao contrário do que nos é apresentado no filme, os livros têm muito a dizer, que não fazem as pessoas ficar descontentes, que as pessoas que lêem são felizes. Faz-nos pensar que sem livros, todo o conhecimento humano morreria, que os livros não serão ultrapassados pelas tecnologias.
É um filme que apela à leitura e à descoberta dos grandes livros, é um filme que me fez sentir privilegiada por viver numa sociedade livre em que ler não é proibido.
Destaco uma, das muitas frases memoráveis, quando Montag, já convertido, critica os discípulos da televisão:“Vocês não passam de zombies. Não vivem, apenas matam o tempo.”
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Merveilleux…
Embora não nos sejam apresentados como provincianos, continuam, ao fim de 30 anos, a ser subservientes porque se sentem numa situação social inferior. Mesmo os filhos, nascidos em França, carregam consigo o estigma de serem filhos de emigrantes, notando-se, em algumas cenas, a vergonha dos pais portugueses.
A cena mais forte do filme é o fado cantado por Catarina Wallenstein. Na minha opinião é o momento chave porque contém frases relevantes, como as pedras da rua pisadas por toda a gente ou esquecer as saudades que roem o meu coração. A informação mais importante e que resume os sentimentos dos emigrantes é referida nos dois últimos versos, das mãos de Deus tudo aceito mas que eu morra em Portugal.A Quinta dos Malvedos, nas encostas do rio Douro, em Alijó, serviu de cenário para as últimas cenas do filme. E que cenário!
Uma família portuguesa com certeza… Bravo!
domingo, 10 de março de 2013
Bitaites da 7ª Arte
I – Life of Pi (A Vida de Pi)
De uma beleza emocionante e com cenas deslumbrantes, esta alegoria filosófica teve o condão de me fazer acreditar na versão que Pi arquitectou para sobreviver…”Acima de tudo, não perder a esperança”. Uma obra-prima do cineasta Ang Lee. Indispensável ver!
II - Django Unchained (Django Libertado)
Três horas de filme notáveis. Do meu ponto de vista, o melhor desempenho de Jamie Foxx, no papel de Django. Christoph Waltz, como já é hábito, brilhante, e Leonardo DiCaprio sublime, provando que merece ser eleito por grandes realizadores. Tarantino insuperável! Obrigatório ver!
III – Lincoln
Duas horas e meia que andam à volta da 13ª emenda que aboliu (na verdade, muito mais tarde…) a escravatura nos Estados Unidos da América. Duas horas e meia de compra de votos e corrupção para aprovação da 13ª emenda à Constituição americana.Duas horas e meia de convite à sonolência…
Daniel Day-Lewis, no papel de Presidente dos EUA, assustadoramente convincente. Day-Lewis, um dos meus actores preferidos, é a verdadeira essência do filme.
Tommy Lee Jones, muito bom no papel de um republicano radical e Sally Field, como primeira-dama, tem um papel… higiénico! Não gostei, como diriam os brasileiros, uma chata de galocha.
Enfadonho q.b., diria mesmo, excelente para combater insónias. Escusado ver! Se teimarem em ver, tomem metanfetamina porque aumenta o estado de alerta e diminui a necessidade de dormir… As minhas desculpas a Spielberg.
IV – Skyfall
A lealdade de James Bond à M., chefe do Serviço Secreto de Inteligência britânico, também conhecido por MI6, é posta à prova e, enquanto o MI6 é atacado, Bond tem que destruir a ameaça a qualquer custo, mesmo que isso o leve a mexer com o seu passado.
Javier Bardem, “deliciosamente louro” e intimidante, interpreta com mestria o papel de um ex-agente do MI6. Judi Dench, já veterana na pele de M., fria, firme e decidida. Daniel Craig, um Bond perfeito, o melhor 007 de sempre, deixou-me atordoada!
Sem dúvida, o melhor filme deste agente secreto! "Shaken, not stirred". Apesar de puro entretenimento, não deixem de ver!
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Being Flynn
Um drama intenso, mas Robert De Niro conseguiu fazer-me sorrir com algumas tiradas arrogantes… Gostei muito, mesmo muito!
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Justiça versus Vingança
Law Abiding Citizen (Um Cidadão Exemplar) é outro filme de acção dirigido por Félix Gary Gray, mas, ao contrário de The Italian Job, considero-o muito bom.
Clyde Shelton (Gerard Butler) assiste, impotente, ao assassínio brutal da mulher e da única filha. Os culpados são presos, mas o procurador, Nick Rice (Jamie Foxx), oferece um acordo para que um deles cumpra apenas uma pena leve em troca do seu testemunho contra o seu cúmplice.
Dez anos depois, o assassino, já em liberdade, é encontrado morto e Shelton confessa a autoria do crime. É preso, mas faz um ultimato ao procurador dizendo-lhe que terá que corrigir o sistema judicial que falhou em relação aos assassinos da sua família ou todos os envolvidos no caso acabarão por pagar da pior maneira...
O suspense é crescente e, porque um cidadão exemplar terá sempre que se revoltar com a ineficácia do sistema judicial, torcemos por Clyde Shelton que, mesmo preso, espalha o terror. Sangrento! Quando a justiça não funciona, a crueldade toma conta do ser humano. Gostei do desempenho de Gerard Butler, que contrasta com uma interpretação apagada de Jamie Foxx. Opiniões de uma bloguista, não de uma perita em cinema. Se forem muito impressionáveis, é melhor não verem!...
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Um Golpe (alemão) em Itália
The Italian Job (Um Golpe em Itália), dirigido por Félix Gary Gray, é um remake de 2003 do filme britânico com o mesmo nome, dos finais da década de 60.
Um roubo de vários milhões em barras de ouro, em Veneza, que não corre bem. O grupo é traído por um dos envolvidos que, durante a fuga, mata John, o arrombador de cofres, interpretado por Donald Sutherland. Enquanto o traidor (Edward Norton) pensa que não houve sobreviventes, estes, chefiados por Charlie Croker (Mark Wahlberg), arquitectam um plano para reaver o ouro e, desta vez, quem arrobará o cofre será a filha de John, Stella (Charlize Theron), que trabalha na polícia, mas pretende vingar o pai…
Os 3 MINIS (marca actualmente detida pela BMW) que utilizam na fuga fizeram disparar as vendas nos Estados Unidos quando o filme estreou, ou seja, foi uma bela promoção do carrito. Para mim, este golpe da BMW foi inteligente porque julgo que é o ponto alto do filme. Puro entretenimento, mas com desempenhos bastante satisfatórios.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Let's look at the trailer (27)
O Cavaleiro das Trevas Renasce (The Dark Knight Rises), do realizador Christopher Nolan, é demolidor! Apesar de não fazer o meu género, não posso deixar de aplaudir todo o trabalho de realização e de produção.
Nunca engracei com super-heróis, tirando o Morcego Vermelho (uma imitação caricata do Batman) com os seus apetrechos absurdamente cómicos, como o pula-pula, o bate-morcego e a moto-morcego, e o Super Pateta (imitação cómica do Super Homem) que ganha superpoderes quando come os super-amendoins que traz de reserva dentro do chapelinho azul.
O que me faz, então, gostar do Batman? O Batman, ao contrário dos super-heróis, não tem nenhum poder sobre-humano e esconde esta identidade sob a máscara de Bruce Wayne, um playboy de Gotham City. Usa apenas a inteligência, a investigação, a tecnologia e o dinheiro na luta contra o crime.
Christian Bale, no papel de Batman/Bruce Wayne, foi, desde o início, a escolha acertada de Nolan, ao contrário de Tim Burton, realizador de “Batman” em 1989, que elegeu Michael Keaton, actor que não é nada do meu agrado…
Gary Oldman, Morgan Freeman e Michael Caine são irrepreensíveis, assim como Joseph Gordon-Levitt (de quem gosto muito), mas Tom Hardy, o vilão Bane, tem um desempenho magistral e intimidante que acaba por afastar um pouco Bale/Batman do papel principal…
Dispensava a Anne Hathaway, substituía-a pela Amy Adams, e Marion Cotillard cumpre, conforme era previsto.
Ah, como eu gostava de ter uma moto-morcego…
Deixo o pula-pula para ti, R….
domingo, 18 de março de 2012
quarta-feira, 7 de março de 2012
Notável…
… demolidor, angustiante, desgastante, brutal, brilhante, são adjectivos que, na minha insignificante opinião, qualificam o primeiro filme de Steve McQueen (não confundir com o já falecido actor americano), “Fome” (“Hunger”) de 2008. Não é um filme de horror nem tão-pouco um horror de filme, é um filme de resistência e coragem.
Depois de ver “Em Nome do Pai” (“In The Name of the Father”), um dos meus filmes de culto, e “Michael Collins”, que abordam a luta pela independência da Irlanda do Norte e a organização clandestina e nacionalista irlandesa (IRA), a R. aconselhou-me a ver “Hunger” e ainda bem que o fez porque o filme é indiscutivelmente excepcional.
Estamos em 1981. Inicialmente, acompanhamos o dia-a-dia de um guarda do estabelecimento prisional de Maze em Belfast, onde dá entrada um novo prisioneiro que é colocado numa cela imunda e nua onde se encontra outro recluso, um dos muitos prisioneiros do IRA, que se entrega audaciosamente ao Blanket and No Wash Protest (trancados nas celas, sem qualquer tipo de tarefa/entretenimento, recusavam vestir o uniforme da prisão, usavam apenas cobertores e recusavam lavar-se) que tinha sido iniciado em 1976.
Este é um daqueles filmes que nos desperta os sentidos. O cheiro dos dejectos é repugnante, as cenas da brutalidade prisional são dolorosas, sofremos na pele e na carne os espancamentos e as violações quando são revistados, escutamos o ressoar dos bastões, da polícia de intervenção, nos escudos, perturbamo-nos com o próprio silêncio…
O tema central do filme é a greve de fome iniciada pelos reclusos e liderada por Bobby Sands (Michael Fassbender), um activista do IRA, com o propósito de levar a primeira-ministra Margaret Thatcher a atribuir-lhes o estatuto de prisioneiros políticos, que lhes tinha sido negado. A cena mais intensa do filme, parco em diálogos, tem uma duração de cerca de vinte minutos e baseia-se num diálogo magnífico, uma esgrima polida e calorosa de raciocínios entre Sands, defendendo que a greve de fome é o seu último recurso, e o padre Moran, que contesta, argumentando que a mesma é um meio de pôr termo à vida. Na última parte do filme assistimos, com um realismo chocante, à degradação física de Bobby Sands até à sua morte, depois de 66 dias de greve de fome, mas sempre com uma convicção clara e inflexível.
Michael Fassbender num desempenho fora de série e brutal.
Lutar por um objectivo, levar essa luta até às últimas consequências e sofrer para sustentar as suas opiniões é de uma bravura notável e de uma força moral que têm toda a minha admiração e reconhecimento.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Let's look at the trailer (24)
Baseado na peça de Yasmina Reza, “God of Carnage”, a história passa-se inteiramente numa casa e gira em torno de dois conjuntos de pais que se reúnem para discutir, de maneira civilizada, uma disputa entre os seus filhos. No entanto, o tempo vai passando e eles tornam-se cada vez mais infantis e irritantes, e o resultado é hilariantemente absurdo e caótico.
O elenco, composto por Christoph Waltz, Kate Winslet, Jodie Foster e John Reilly, é surpreendente. Dois pares fabulosos. Kate Winslet tem um dos maiores momentos WTF do filme!
quinta-feira, 1 de março de 2012
Os grandes contadores de histórias
(por João Lopes, crítico, in DN)
Eis um filme que entrou e saiu dos Óscares sem que ninguém desse por ele. Era um dos nomeados para melhor do ano, mas o certo é que Extremamente Alto, Incrivelmente Perto não passou de uma presença discreta, apenas contrariada pelo facto de Christopher Plummer, ao receber a estatueta de Melhor Actor Secundário, ter saudado um dos seus intérpretes, Max Von Sydow (nomeado na mesma categoria). A provar que o imaginário televisivo desvaloriza os grandes actores, nem sequer ajudou o facto de Tom Hanks e Sandra Bullock constarem da ficha artística. Digamos, para simplificar, que Extremamente Alto, Incrivelmente Perto representa uma evolução admirável no imaginário cinematográfico do 11 de Setembro. A História do jovem Oskar (brilhantíssimo Thomas Horn) não se esgota no facto de ser órfão de um pai (Hanks) falecido no World Trade Center: ele não é o símbolo de um passado traumático, mas sim um pequeno ser, à deriva, condenado a inventar o seu futuro. A realização de Stephen Daldry, recusando qualquer linearidade, factual ou psicológica, coloca Oskar como pivô de uma questão visceral: de que sentido precisamos, não apenas para viver, mas sobretudo para continuar a viver? E tanto mais quanto, como lhe diz a mãe (espantosa Sandra Bullock, actriz regularmente subvalorizada), temos de aprender a lidar com coisas que… não fazem sentido.
A adaptação do livro de Jonathan Safran Foer é, por certo, um dos mais prodigiosos argumentos que se escreveram, nos últimos anos, no cinema americano. Assina-o Eric Roth, nome ligado a Forrest Gump (1994), Munique (2005) ou O Estranho Caso de Benjamin Button (2008). Afinal, a avalancha dos “efeitos especiais” não fez desaparecer os grandes contadores de histórias.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
WTH?
Será que não me ouviram? Será possível que os membros da Academy of Motion Picture Arts and Sciences não me tenham lido? Imperdoável!... Eu disse que o filme “O Artista” era singular e louvável, não disse que deveria ganhar os principais Óscares! Não compreendo, assim como não me entra na tola o porquê desta histeria à volta do filme, destes milhões de pessoas que afirmam a pés juntos que é excepcional, desta carneirada que não se atreve a contradizer os crânios cinematográficos porque não quer sentir-se estúpida! Carneirada, nada mais! E tudo o que mete carneirada me encanita!... Ninguém tem coragem para dizer aos membros da Academia que são uns imbecis? Ninguém lhes corta o fornecimento de estupefacientes e bebidas alcoólicas? A Academia precisa ser arejada, os membros são, na sua maioria, velhos (moucos, razão pela qual não me ouviram…) saudosos com a mente habitada por aranhas e suas teias (daí a escolha do cinema mudo…). Um estudo realizado pelo Los Angeles Times confirma que o júri dos Óscares, essas misteriosas figuras a quem os vencedores agradeceram vezes sem conta, tal como os críticos, são pessoas diferentes e não são representativas da maior parte das pessoas que vão ao cinema nos Estados Unidos (poderemos estender ao resto do mundo…). A realidade é que, geralmente, os gostos deles não estão em sintonia com os gostos das audiências. Refresquem-se! A Academia precisa de uma lufada, mais, de várias rajadas de ar fresco para afastar o cheiro a mofo…
“O Artista” laureado com 5 óscares?! What the hell? Mais uma vez, os jurados (leia-se “deuses”) devem estar loucos! Pronto, ok, a demência não se apresenta em estado avançado porque o “documentário” da National Geographic, “A Árvore da Vida”, saiu da cerimónia de mãos a abanar! Vá lá, vá lá… um rasgo de perspicácia! Estou a elogiá-los e na volta o que julgo ser competência deve-se apenas ao facto de terem adormecido, encontrarem-se pedrados ou alcoolizados. Às vezes consigo não ter apenas a mania que sou má, consigo ser mesmo má. Como diz o(a) outro(a), oh God, make me good, but not yet! Excepto “Jogada de Risco” (Moneyball), vi todos as películas candidatas a melhor filme e, na minha óptica, “O Artista” levaria o ouro para Banda Sonora Original e ponto final. Se pudesse atribuir o Óscar de Melhor Filme seria a um dos derrotados da cerimónia, “Extremely Loud & Incredibly Close” e o de Melhor Actor iria para Thomas Horn, o rapazinho que faz um papel estrondoso (capaz de meter num chinelo alguns veteranos) no mesmo filme. Outro dos vencidos, o épico “Cavalo de Guerra” também tem a minha aclamação e entra para o terceiro lugar da minha lista de eleitos. Hugo ocupa o segundo lugar das minhas preferências e o galardão de Melhor Realizador iria, sem qualquer hesitação, para Martin Scorsese.
And the academy members are…
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Dupla homenagem…
… ao cinema!
“O Artista”, filme mudo do cineasta francês Michel Hazanavicius, recria a magia do cinema mudo nas primeiras décadas de Hollywood e salienta o momento de transição do cinema mudo para o sonoro.
Para mim era impensável ver, nos dias de hoje, um filme mudo e a preto e branco, estava completamente fora de questão, não queria… mas a curiosidade falou mais alto e não me arrependi. A personagem de George Valentin assenta que nem uma luva a Jean Dujardin (que vi pela primeira vez) e Bérénice Bejo (que recordo de “Coração de Cavaleiro”) interpreta uma Peppy Miller deliciosa. A banda sonora, de Ludovic Bource, é fenomenal… Embora o considere singular e louvável, não é o meu filme de eleição.
“Hugo” ou “A Invenção de Hugo Cabret” é a primeira incursão do realizador Martin Scorsese pelo mundo encantado do 3D e homenageia o cinema francês na figura do cineasta Georges Méliès, pioneiro no cinema fantástico e, considerado por muitos, o pai dos efeitos especiais.
No papel de Hugo, o admirável adolescente, Asa Butterfield, que já tinha tido o prazer de ver em “O Rapaz do Pijama às Riscas”. Ben Kingsley dá vida a George Méliès numa interpretação perfeita, como sempre…
Este é um filme encantador, assombroso e prodigioso que eu veria novamente com agrado. Once upon a time, I met a boy named Hugo Cabret…
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Bravo! Bravo!
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Perturbante
No filme “Um Método Perigoso” (A Dangerous Method), baseado em factos verídicos, David Cronenberg aborda o estudo da mente, os fenómenos psíquicos e o nascimento da psicanálise, temas que são um tanto obscuros para mim porque não os domino, sou completamente ignorante.
Os primeiros minutos do filme são de agonia porque vimos Keira Knightley, no papel da russa Sabina Spielrein, inicialmente histérica e depois totalmente desequilibrada e perturbada. Não tenho conhecimentos que me permitam escrever sobre as doenças mentais ou sobre o distúrbio psíquico de Sabina. A cena inicial é intensa, desconfortável, chocante, mas, como não tenho noção dos sintomas da doença (histeria esquizofrénica?) não consegui perceber se estava a assistir a um excelente desempenho de Keira ou se ela, com todos aqueles esgares, estava a pecar por excesso e me presenteou com uma performance pouco credível. Quero acreditar na versão da brilhante interpretação e na perturbante Sabina.
Carl Jung, fascinado pela psicanálise mas com visões diferentes de Freud, conseguiu curar Sabina Spielrein e pelo que entendi terá sido através da teoria, ainda experimental, dos complexos (psicologia analítica). Recorrendo a uma lista de palavras-estímulo, analisava o tempo de resposta a cada palavra, determinando assim a existência de complexos que influenciavam o comportamento do paciente. Sabina, curada (?), começa a estudar psicanálise e, na sequência da aprendizagem, envolve-se sexualmente com Carl Jung, numa relação sadomasoquista. Jung conhece Sigmund Freud e começam a trabalhar juntos, trocando correspondência sobre as perversões sexuais de Sabina Spielrein, embora não partilhem as mesmas ideias. Enquanto Freud defende que os conflitos psicológicos têm como causa directa os traumas sexuais, Carl Jung interpretava os distúrbios mentais e emocionais como uma tentativa do individuo procurar a perfeição pessoal e espiritual. Por força das circunstâncias, estes dois gigantes e precursores da psicanálise e da psicologia analítica acabaram por se separar.
Viggo Mortensen e Michael Fassbender (agora está na berra…) perfeitos nos papéis de Freud e Jung. Apesar de não sentir qualquer afinidade com estes temas, nem partilhar a paixão pela psicanálise, posso dizer conscientemente que “Um Método Perigoso” é seguramente um bom filme.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
O ilustre anónimo
Em “Anónimo”, o realizador alemão Roland Emmerich apresenta-nos um argumento que seria, a meu ver, trágico caso os factos fossem comprovados e deixassem de ser suposições. Duvidar do génio de William Shakespeare e pôr em causa toda a sua obra é o tema central do filme e durante 130 minutos assistimos ao descrédito do “impostor” mais lido de sempre.
Teoricamente, Shakespeare não teria escrito uma única palavra e assinava e levava à cena obras da autoria de um nobre, Edward de Vere, 17º Conde de Oxford, que seria não só filho ilegítimo da Rainha Elizabeth I (segundo a teoria a “Rainha Virgem” não era virgem…) como teria tido, vinte anos depois, uma relação incestuosa com ela que resultou num filho, o Conde de Southampton…
Esta teoria da conspiração explicaria o encobrimento do nome do criador da maior obra literária da língua inglesa porque poderia ser o futuro Rei de Inglaterra? O cineasta defende esta teoria, também sustentada por intelectuais e estudiosos como Sigmund Freud, Orson Welles, Charles Dickens e Mark Twain, lembrando que não foi mencionado qualquer livro no testamento de William Shakespeare e que não existe qualquer carta ou texto escrito com a própria letra. Duvidam que um homem humilde e sem instrução universitária pudesse escrever tais obras-primas literárias? Perverso e preconceituoso…
Edward de Vere é interpretado pelo actor Rhys Ifans, o desajeitado e louco Spike que partilha a casa com Hugh Grant na comédia romântica Notting Hill. Ifans quase irreconhecível ao lado da magnânima Vanessa Redgrave no papel da Rainha Elizabeth I. Intrigas e conspirações num admirável filme de época.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Low-profile
“Os Descendentes” não é uma obra-prima, não é excelente, não é mau, vê-se uma vez e está visto. Um drama intimista, familiar, com George Clooney a interpretar o papel de um advogado e pai ausente, Matt King, que se confronta com o estado de coma da mulher, enquanto lida com situações difíceis ao tentar criar uma relação mais profunda com as filhas.
Nesta película discreta, realço a intensa e rebelde interpretação de Shailene Woodley, na personagem de Alexandra King, filha mais velha de Matt, que nos brinda com os melhores momentos do drama da família. Já Clooney tem apenas uma cena que merece o meu aplauso e me convence. Do meu ponto de vista, certamente distinto do dos brilhantes cinéfilos, Clonney é pouco versátil e muito superficial, não conseguindo transmitir as emoções que o papel exige. Considero que ele é competente no âmbito das comédias light e em papéis sedutores, mas não tem savoir-faire para o drama. Ainda não vi as interpretações dos outros nomeados ao Óscar de melhor actor, mas, definitivamente, não vejo razões para ele arrebatar o tão desejado prémio. Se fosse possível aconselhava-o a tirar partido do charme ficando-se pela publicidade da Nespresso… What else?